Em Alagoas, o fim de ciclo dos usineiros na política

27/04/2014 23h11

teoCom o setor açucareiro em crise, o valor das doações dos usineiros em Alagoas aos candidatos nas eleições deste ano deve ser reduzida para cerca da metade do aporte realizado em eleições passadas. A situação agora é bem diferente de, por exemplo, 2006 e 2010. Nos últimos oito anos um usineiro vem dominando a política em Alagoas – o governador tucano Teotônio Vilela, um dos herdeiros do setor açucareiro, que colocou na Secretaria da Fazenda Mauricio Toledo, outro representante do setor sucroalcooleiro do Estado. Na presidência da Assembleia Legislativa, outro usineiro tucano tem se perpetuado no comando da Casa – Fernando Toledo. Na Câmara Federal, tem o usineiro João Lyra e o neo-socialista Alexandre Toledo, que assumiu com a vitória para a prefeitura de Maceió do tucano Rui Palmeira. Em eleições anteriores, outros usineiros chegaram ao poder político via suplência, como foi o caso de Carlos Lyra, suplente biônico Arnon de Mello, e João Lyra, que ficou quatro anos como senador, suplente do Guilherme Palmeira. O tucano João Tenório foi quatro anos titular quando da eleição de Teotonio Vilela. E agora, resta o suplente do Benedito de Lira, empresário açucareiro Jivago Tenório (PSDB). Nunca os usineiros chegaram tão forte ao Poder em Alagoas, antes era apenas financiador de campanha. Antes, quem financiava e quem chegava ao governo eram os fornecedores de cana, como foi com o ex-governador Lamenha Filho, José Tavares – um dos maiores plantadores de cana de Alagoas –, Antonio Gomes de Barros – vice de Suruagy – e Manoel Gomes de Barros, que assumiu com a renúncia de Suruagy para administrar o estado por dois anos. O ciclo dos usineiros no Poder em Alagoas pode ser decretado, o seu fim na eleição deste ano. Na eleição municipal de 2012, os usineiros foram derrotados em quatro importantes cidades não elegendo seus sucessores: Nivaldo Jatobá em São Miguel dos Campos; Mauricio Tenório em Campo Alegre e Alexandre Toledo em Penedo e José Maynart Tenório em Boca da Mata. Apenas a mulher do usineiro-deputado Lucila Toledo saiu vitoriosa em Cajueiro. João Lyra tentou eleger o seu neto, Fernando Lyra Collor em Atalaia com vice de Zé do Pedrinho, perdeu para o professor Mano. Teotônio não vai disputar nada, Jivago só assume se o Benedito vencer as eleições de governo e e Fernando Toledo ainda sonha com a possibilidade de ser conselheiros do Tribunal de Contas, onde – pelo desastre que imprime na administração na Presidência da Assembleia Legislativa – pode perder a cadeira. Com poucas chances, ainda aparece o usineiro neo-socialista Alexandre Toledo. João Lyra também corre risco de n/ao ser reeleito pelo PSD. Com a falência do grupo João Lyra e o endividamento de outras usinas, restariam poucos grupos considerados saudáveis financeiramente para fazer doações significativas, como, por exemplo, o grupo Carlos Lyra – com quatro usinas – e o grupo Coruripe, com cinco unidades. Dos dois grupos, contudo, apenas o de Carlos Lyra teria interesse direto nas eleições do Estado deste ano. O Grupo Coruripe, que passa por um processo de profissionalização da governança corporativa, já estaria mais distante da política local. E ainda no litoral norte, o grupo José Carlos Maranhão. Resta saber, agora, se a escassez do financiamento de campanha oriundo das usinas nas eleições desse ano reduzirá o valor médio da campanha em Alagoas, apontado sempre como um dos mais altos de todo o país, ou será coberto por outros setores – como o das empreiteiras, sempre generosas quando se trata de firmar “parcerias” com políticos locais em troca de benesses pós-eleição.