Ivan Barros escreve: "Divaldo Suruagy"

31/03/2015 20h08

Abro espaço no blog para um texto do jornalista Ivan Barros, publicado no jornal impresso desta semana:

SURUAGY IVAN BARROS"Sinto dificuldades em escrever estas palavras, embargadas pela emoção e pela saudade, sobre um dos maiores amigos de minha vida, que a morte – a “dama de madrugada” de que nos fala Alexandre Casanova, levou-o para sempre, para a grande viagem sem retorno, numa tarde de sábado. Não estou aqui para lamentá-lo – os mortos não precisam de lamentações, talvez os vivos, sim. Os mortos são mais felizes porque se identifica com a natureza, num mistério panteísta de que falava Eça de Queiroz. E por acreditar de que tem coração puro, porque eles verão a Deus. E neste caso, está Divaldo Suruagy, porque ele foi antes de tudo, um homem bom, simples, incapaz de odiar.

Alagoas abalou-se com a sua morte. Quanto seu corpo estava em câmara ardente, no Palácio do Governo, vi muita gente chorando a perda de um grande político – o maior de Alagoas. Conheci-o nos idos de 1970 quando fomos candidatos a deputado estadual – ele e eu – e depois, quando fui para o Rio de Janeiro, nossa amizade continuava firme. Recebia-o sempre na Revista Manchete, onde certa vez o homenageei com a presença de destacadas personalidades de Alagoas, e lá estavam Diégues Júnior, José Rebelo, Aurélio Buarque de Holanda, Raul Lima, Teotônio Vilela, João Carlos, Carlos Lupi, Carlos Lyra, Maria Berard, João Sampaio, Murilo Melo Filho, Arnaldo Niskier, Benedito Bentes, em almoço oferecido pela Revista Manchete, em 1973.

Divaldo era um político consagrado e respeitado no Brasil inteiro: prefeito, deputado -estadual, deputado-federal, senador, três vezes governador de Alagoas, e a crise de 17 de julho de 1997, ele não foi responsável.

Confiou num português, afilhado de um general que preferia investir em letras, do que pagar ao funcionalismo. Isto eu ouvi dele na casa de Geraldo Sampaio. E Suruagy enganou-se com o afilhado do General que de finanças não entendia nada, mesmo como Secretário da Fazenda. Suruagy confiou nele e enganou-se. A crise de 17 de julho, marcou profundamente a Suruagy que muito sofreu - este homem que chegou a ser o maior líder de toda a História de Alagoas. Ao deixar o Poder era um homem pobre, seu patrimônio era um carro Opala e um apartamento financiado pela Caixa Econômica Federal. E só para ajudar nas despesas domésticas, sua esposa Luzia, trabalhava como professora, sem regalias por ter sido a Primeira Dama. Suruagy não foi grande porque construiu rodovias, pontes, escolas, postos de saúde, casas populares, e sim, porque numa época difícil, ele empregou 2 mil pessoas, dando a elas o pão de casa dia. Fez obras sociais, sem alardes, praticou a caridade, segundo a medida evangélica que venha a saber que a mão esquerda o benefício que a direita faz. Por isso ele venceu todas as batalhas, todas as vicissitudes. Todas as ingratidões, as incompreensões dos homens e da vida. Com esse escudo, certamente, ele terá um lugar na mansão dos justos e dos bons. Porque os que têm coração puro, naquela bem aventurança reservada aos justos e aos bons a presença e à visão de Deus.

Agora quando a paz definitiva desceu sobre sua alma cheia ideais deixo aqui manifestação de respeito, de admiração e a minha eterna saudade.

A morte abriu-lhe as portas que dão acesso ao Reino de Deus e onde a Primavera é permanente e eterna. Que Deus o tenha e Deus lhe pague pelo que fez em favor dos humildes e do povo que ele tanto amou e reconforte a sua mulher, filhas, genros, netos, irmãos, familiares:

Em 40 anos de amizade, sempre estive ao sei lado, sempre o apoiei. Até naquele 17 de julho, quando saia do Palácio, ao renunciar, estava lá na porta, esperando-o, solidário.

Acompanhei sua enfermidade. Ia visitá-lo no domingo, um dia antes de seu falecimento. Fiquei muito triste.

Quando estava no Rio de Janeiro, após a minha formatura em Direito, convidou-me a voltar para Alagoas. Ele ia realizar um concurso para promotor de Justiça. Convidou a mim, Tobias Granja e Joarez Ferreira.

Fiz o concurso, obtive o primeiro lugar e por ele nomeado, acompanhando de perto, toda a minha trajetória e recomendando-me a Carlito Lobo, seu grande amigo e meu também. Quando vinha a Palmeira, eu tinha a honra de recebê-lo em minha casa. Sabia até seu prato predileto: língua ao molho de tomates. Na sala principal de minha sala, está exposto um quadro de 1,50 metro de altura, pintado por um artista palmeirense Nildo Guedes.

Quantos favores prestei a várias pessoas, por seu intermédio. Suruagy nunca me deu um não. Nos momentos difíceis e alegres, estava ao meu lado. Ao tomar posse na Academia Alagoana de Letras, fez a saudação acadêmica. Quando meu irmão Fernando faleceu, ele estava lá, solidário e fraterno. Era mesmo um amigo irmão. Quando fundei o Jornal Tribuna do Sertão, o semanário mais antigo do Estado, ele confiou no Jornal, ajudou como pode e há 19 anos escrevia seu artigo semanal. Só Deus e a minha família sabem quanto eu chorei. E na noite em que ele partiu, não consegui dormir com minhas dolorosas e saudosas lembranças, povoando o meu cérebro.

Quando adoeceu ele mandou pra mim a sua última carta que dizia:

“Ivan, retornando de São Paulo, após submetido a inesperada intervenção cirúrgica, tomei conhecimento do interesse demonstrado pelo estimado amigo quanto a meu estado de saúde. Solidariedade como a sua, oferecida em delicados momentos de nossa vida, são gestos que reafirmam fraterna estima, gerando sentimentos de gratidão. Receba meu sincero agradecimento, com votos de muita saúde e paz, extensivos a todos que lhe são caros. Afetuosamente, Divaldo Suruagy.”

Ah, meu amigo-irmão, como eu gostaria, decorrido esse tempo de sua partida, tê-lo de volta para dizer que Alagoas hoje é órfã e que os alagoanos, lembrarão de você com muita saudade e como exemplo de homem, bom cidadão, bom pai de família, que produzia em vida, uma obra sem carunchos.

Até breve amigo irmão"