Collor x Janot: o dia em que a caça tentou ser caçador

28/08/2015 18h06

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Chefe do Ministério Público Federal, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, esteve do outro lado do balcão por 10 horas e 25 minutos na quarta-feira (26). Acostumado a investigar, foi inquirido. Na segunda reunião mais longa da história da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Janot foi sabatinado por cerca de 30 senadores, dos quais pelo menos 12 são seus investigados no Supremo Tribunal Federal (STF). A reunião só não foi maior que a sabatina do ministro da suprema corte Edson Facchin, em maio, que durou 12 horas e 40 minutos. Entre os inquisidores de Janot estava Fernando Collor (PTB-AL). Único senador já denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por suposto envolvimento com os esquemas de corrupção da Petrobras, o ex-presidente protagonizou os momentos de tensão da sabatina. De acusado a acusador, Collor repetiu a estratégia que usou contra Lula na campanha eleitoral de 1989. Na época, o então candidato a presidente manteve, em debate com Lula na TV Globo, uma pasta sobre a mesa com supostos documentos que incriminariam o petista. Nada bombástico saiu de lá. Mas a simulação de que poderia sacar uma arma fatal fez o petista suar. Desta vez, o senador foi o primeiro a chegar à CCJ, sentou-se na primeira fila da sala, de frente para o lugar a ser ocupado por seu algoz, e colocou novamente pasta sobre a mesa. Novamente, mexeu nos papeis em tom ameaçador. Mas não conseguiu extrair de Janot nada mais do que indignação. Frente a frente com Janot, o ex-presidente o questionou sobre contratações feitas pela PGR sem licitação e o acusou de proteger um irmão procurado pela Interpol. Janot se irritou com a tentativa do senador de interromper suas respostas. O procurador fechou a cara e colocou o dedo em riste: “Vossa Excelência não me interrompa”. Após passar pelo crivo do colegiado, o procurador teve seu nome aprovado, em plenário, por 59 votos a 12. Terá novo mandato de dois anos à frente da PGR. Essa foi a segunda vez que a presidente Dilma Rousseff pôde se sentir vitoriosa na semana. Além de conseguir fazer sua indicação passar pela peneira do Senado, ela mais uma vez teve prazo estendido em processo que pode lhe render abertura de pedido de impeachment.