Senador Benedito de Lira afirma que o semiárido precisa de um projeto de Estado

23/10/2015 09h09

O senador Benedito de Lira (PP-AL) fez um apelo, em pronunciamento da tribuna do Senado, para que o Governo da Presidente Dilma junto com o Congresso Nacional e a sociedade brasileira elaborem um projeto de Estado para resolver os problemas do semiárido nordestino, com prioridade na revitalização do rio São Francisco. “Não queremos um projeto de governo, é preciso um projeto do Estado Brasileiro que seja realizado independente de quem esteja no comando do governo”, explicou o senador.

 “Nos períodos mais graves da estiagem, há sempre um governante prometendo soluções, e isso acontece desde Dom Pedro II que prometeu vender até a última joia da Coroa para acabar com a seca. O povo sertanejo não acredita mais nas ações do governo nem nas bravatas dos governantes”, disse Benedito de Lira.

De acordo com senador, a formulação do projeto de Estado do semiárido não pode ter a pretensão de acabar a definitivamente com a seca, que é um fenômeno da natureza, mas de prover os mecanismos para que se possa conviver com os longos períodos de estiagem.

“Nós, os membros do governo e os políticos precisamos abrir mão das discussões estéreis e nos juntarmos na formulação desse projeto. Conclamo a ministra Kátia Abreu, que é comprometida com o setor produtivo, a ministra da Defesa Social, Tereza Campello, e os responsáveis pelo desenvolvimento agrário para fazerem um projeto decente para o semiárido. Repito: não se quer aqui um mero projeto de Governo que dura quatro anos porque se hoje é a Dilma, o próximo pode ser o João e o seguinte o Manoel que não vai mudar  nada pois as políticas públicas serão contínuas”.

Revitalização do São Francisco

O senador afirmou que a transposição das águas do Rio São Francisco é um projeto importante, mas é preciso que o governo priorize a revitalização do principal rio e de seus afluentes. “O Rio da Unidade Nacional está na UTI. Isso não é novidade. Basta ver o que acontece na cidade alagoana de Piranhas, onde o rio São Francisco corria caudaloso, abundante. Hoje, é possível atravessar a pé até a outra margem do lado de Sergipe”, contou Benedito.

Advertiu que as obras de revitalização devem começar logo. Lembrou que há um projeto do senador Raimundo Lira (PMDB-PA) que obriga as hidrelétricas a destinar parte dos seus lucros com o projeto de revitalização dos rios que alimentam suas represas. “A CHESF já ganhou muito com a represa de Sobradinho e Xingó, precisa destinar parte dos seus lucros para revitalizar o rio São Francisco”, disse.

O senador falou também sobre o Canal do Sertão, que está sendo construído em Alagoas. O canal terá 240 quilômetros de extensão, sendo que cerca de 100 quilômetros já estão prontos. Só que a água desviada não alcançou a serventia desejada porque o governo não se preocupou em construir as pequenas adutoras que vão abastecer as pequenas comunidades ao longo desses 100 quilômetros. “O que se vê hoje são centenas de famílias precisando de carro pipa para ter acesso a água potável e os animais bebendo água de barreiro enquanto a poucos metros a água corre pelo canal”, esclareceu o senador.

Lógica perversa

O senador Benedito de Lira  falou sobre as possibilidades econômicas do semiárido e as razões pelas quais o escritor Euclides da Cunha reconheceu que “o sertanejo é antes de tudo um forte”.

Disse que o projeto de Estado deve contemplar a pecuária, que, no semiárido nordestino é uma das poucas opções para a agricultura familiar, embora sendo uma atividade praticada com muito sacrifício, com escassez de água e pastagens, agravada por uma lógica perversa infelizmente existente no Brasil onde uma garrafa de água mineral é mais cara do que um litro de leite. “No Brasil, se paga ao produtor 90 centavos por um litro de leite, enquanto uma garrafinha de água mineral de 300 ml é vendida a 3 reais”, criticou Benedito.

Reafirmou que só um projeto de Estado, elaborado pelos poderes públicas e com aval da sociedade, poderá colocar em prática as políticas públicas para corrigir as distorções e promover o desenvolvimento da região mais castigada do País.

Durante seu pronunciamento, Benedito de Lira foi aparteado pelos senadores Raimundo Lira (PMDB-PB) e Wellington Fagundes (PR-MT), os quais reconheceram que o senador alagoano tem abordado com muita propriedade as questões relativas aos efeitos da seca do Nordeste especialmente em Alagoas.