Autor de impeachment de Collor defende Dilma e Lula

14/03/2016 08h08
[caption id="attachment_138571" align="aligncenter" width="699"]Marcelo Lavènere, presidente da OAB na época do impeachment de Fernando Collor (Foto: Michel Filho / O Globo) Marcelo Lavènere, presidente da OAB na época do impeachment de Fernando Collor (Foto: Michel Filho / O Globo)[/caption]

BRASÍLIA - Figura central no impeachment de Fernando Collor, em 1992, o ex-presidente da OAB alagoano Marcello Lavenère está engajado na defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rosuseff. Tem participado de atos a favor dos petistas e feito discursos. Ao contrário do cenário político da queda de Collor, Lavenère não vê razões para se afastar Dilma e afirma haver um golpe em curso, mas que, na sua opinião, não passará.

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— Naquela época, era imperioso que a OAB não se omitisse. Agora, a situação é diferente. O país está numa situação difícil? Está. O governo está desacreditado, acuado, paralisado, fragilizado. Gostemos ou não dela, não há qualquer crime que ela tenha cometido, daqueles previsto e que está sujeita a perder o cargo. O que não se pode é inventar uma razão para tirá-la da Presidência. A oposição atua contra ela desde sua eleição e aposta naquela história do que se candidata, não se elege; se eleita, não toma posse; se toma posse não governa. A estão impedindo de governar e apostando no quanto pior, melhor — disse Lavenère, em entrevista ao GLOBO. Em 92, Lavenère, que presidia a OAB, foi procurado por líderes políticos como os então senadores Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Pedro Simon (PMDB) para encampar o impeachment de Collor. Junto com o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), protocolaram o pedido de afastamento do ex-presidente na Câmara, naquele ano. ‘ATÉ O PSDB ESTÁ CONTRA’ Na defesa que faz de Lula, Lavenère diz que o ex-presidente é alvo de perseguição e que tem políticos que desviaram recursos no país e que passaram ilesos e não foram responsabilizados.

— É indiscutível que há uma preocupação em aniquilar a figura do Lula. Tanto bandido que tem nesse país, gente que roubou milhões e a preocupação de parte do Judiciário e de três ou quatro procuradores é pegar o ex-presidente Lula como se ele tivesse cometido um crime?! Se tem apartamento ou sítio...Meu Deus do céu. A isenção, a imparcialidade e o equilíbrio dessas instituições estão comprometidas. Olha esse pedido de prisão! Até o PSDB está contra — disse Lavenère, que se referiu aos opositores de Dilma e Lula como "coxinhas". — O Lula está sendo alvo de perseguição. Os coxinhas comemoraram: 'pegaram esse Lula, esse sapo barbudo'. Amanhã, essa violência pode se voltar contra eles. Ninguém deve ser perseguido politicamente. Há uma intolerância em curso que não pode continuar. Perseguir e provocar um ministro num restaurante é passar de qualquer limite aceitável. E esse tipo de ação não é válida por qualquer um dos lados — disse Lavenère, que criticou atuação dos procuradores, da Polícia Federa e do Judiciário.

— Lutamos na Constituinte para dar poderes ao Ministério Público e dar uma dimensão republicana à Polícia Federal. Mas vemos com preocupação a exacerbação da função policial e da função investigativa do Ministério Público. E até mesmo do Judiciário. Vemos um espetáculo midiático. O advogado não é filiado ao PT e, no início do governo Lula, presidiu a Comissão de Anistia, vinculada ao Ministério da Justiça. — E não ganha um centavo. Era uma função pro bono ( atividade não remunerada) — disse.