“Se hay gobierno yo estoy dentro”
Conta-se que esta frase foi proferida por um anarquista que após o naufrágio do navio em que viajava, conseguiu chegar a uma praia. Então, olhando em volta, dirigiu-se aos que o cercavam: Hay gobierno? Se hay soy contra. Assistindo a “sessão coelho” (3 minutos) que marcou a debandada do PMDB da base governista me veio à mente o quanto ela dita ao contrário se adapta à filosofia de poder do partido que rompe com o governo para ser governo.
Mesmo sem disputar uma eleição presidencial há mais de duas décadas, o PMDB que rompeu esta semana com o governo petista é o partido mais assíduo no governo federal desde a redemocratização do país. A sigla emplacou ministérios em todas as gestões entre os mandatos de José Sarney (1985-1989) e da atual presidente — feito que nenhuma outra conseguiu igualar.
O PMDB do vice-presidente Michel Temer vocifera contra o governo da presidente Dilma Rousseff como se nada tivesse a ver com as falcatruas, desmandos e desgovernos praticados nos últimos anos. Pede a cabeça da presidente numa clara tentativa de se manter no poder. Não é por menos. Desde a redemocratização do Brasil, o PMDB sempre esteve no poder. Mesmo sem disputar eleição presidencial como cabeça de chapa há duas décadas, é o partido mais assíduo com cargos e funções no Planalto. A sigla emplaca ministérios em todas as gestões desde 1985.
O estilo sanguessuga do PMDB fica evidente num estudo desenvolvido pela cientista política Maria Celina D’Araujo, da PUC-RJ, sobre: Os Ministros da Nova República – Notas para Entender a Democratização do Poder Executivo. Ela avaliou a filiação partidária dos ministros que passaram pelos governos de Sarney a Lula. Revela que o PMDB ocupou primeiro escalão em todos os períodos e somou maior número de nomeados, com 66 representantes.
Fico aqui, pensando com meus botões: como um partido, que ocupa no mínimo seis ministérios desde 2010, se agiganta como opositor ferrenho às políticas públicas e formas de governabilidade implementadas pela atual gestão? Se contesta tanto, o que fazia lá até agora? Como vice-presidente, Temer é mais um que “não sabia de nada” que se passava no palácio? Claro que não!
Este cenário alimenta ainda mais a ideia do quanto o PMDB considera provável o impeachment da presidente. O partido jamais arriscaria todas as suas fichas se não se julgasse franco favorito na aposta, lançando Michel Temer como “salvador da pátria”. Aos gritos de “Fora Dilma, Temer presidente”, o PMDB desembarca do poder numa perspectiva de voltar logo ali adiante. Tem sido assim desde 1985.
Pelo perfil de suas principais lideranças e a história de cada um está mais do que evidente que o PMDB sai do governo para entrar no poder.