Uma tragédia anunciada

27/03/2017 00h12

Enquanto não era a melhor amiga da petista Dilma Roussef, a então deputada Kátia Abreu deu o seguinte depoimento em sessão da Câmara em 30 de novembro de 2005: “Quero lembrar que, no meu Estado, o Tocantins, são mais de 5 anos de luta contra esse cartel. Há uma máfia nacional, com 5 famílias, cada uma com um capo, mas há também as máfias estaduais, que se organizam em famílias, com seus chefes, para derrubar o preço da carne. Esperam a família maior marcar o preço e depois combinam na base, entre os familiares, para derrubar os preços nos Estados”.

Já o deputado Waldemir Moka, na mesma sessão, manifestou-se da seguinte forma: “Quero deixar isto registrado nesta Comissão: este é um segmento que precisa ser ouvido e que, apesar de dois anos de achatamento de preço na arroba do boi, não vimos nenhuma diminuição de preço da carne nos supermercados, nas casas de carne ou nos açougues.

Para o consumidor não há nenhum benefício. E aí fico preocupado. O BNDES tem que também ter essa preocupação. Vamos financiar 80 milhões de dólares, e aí o cidadão vai colocar uma planta lá na Argentina — para quê? Para esquentar o setor de carne na Argentina e exportar mais caro? Será que é isso que está em jogo?

Por que querem colocar panos quentes, afinal? É simples a resposta. Duas são as explicações. Primeiro, que a União virou “sócia” dos grandes conglomerados exportadores, devendo preservar o próprio investimento. A queda das ações de uma única empresa pode fazer com que uma fortuna seja perdida, sem nenhuma garantia verossímil em contrapartida.

A política das “campeãs nacionais”, implementada pelo petismo ultraliberal fez com que bilhões fossem empatados em empresas particulares, regulando o mercado em favor de meia dúzia de empresários que dominaram a cadeia produtiva da pior forma possível. Segundo, que os financiadores de campanhas eleitorais são esses mesmos campões nacionais, sendo que essa já seria explicação suficiente para o “cuidado” político com o setor. Portanto, não venham falar ao consumidor para que não se preocupe.

Já se sabe que os fins não justificam os meios. O crescimento antiético do cartel, fomentado com dinheiro público enfraqueceu a nossa posição internacional. O cartel treme com uma investigação mais do que treme um animal com vaca louca. Até o vegetariano deve estar de cabelos em pé, porque contribuiu com dinheiro para essa crise de imagem que é grave.