O novo velho

23/06/2018 14h02

(BRASÍLIA) - Dois pesquisadores brasileiros, Eduardo Cavaliere e Otavio Miranda resolveram levantar e analisar os números relativos à renovação do Congresso de 1986 a 2014 - o que eles chamam de "renovação orgânica" do Legislativo.

O estudo mostrou fatos pouco conhecidos e levanta questionamentos a certas premissas do discurso dos movimentos renovadores, como o primado da ética ou a ideia de que candidaturas mais jovens seriam mais adequadas ao país.

Vejamos:

1 - No Congresso, reeleição não é regra, mas exceção; 75% dos deputados federais não ultrapassam o segundo mandato.

2 - O excesso de nacionalização do debate público negligencia a complexidade da política local. Erros de avaliação do desempenho dos partidos levam a conclusões equivocadas sobre o Congresso. Por exemplo, apesar do bom resultado em eleições presidenciais, ao longo da história o pior desempenho eleitoral do PT, por regiões, é no Nordeste. O partido, aliás, elegeu mais deputados federais que o PSDB em São Paulo.

3 - Um número muito baixo (2,88%) de deputados federais venceu eleições majoritárias seguintes ao mandato no Legislativo.

4 - Não existe nenhum exemplo concreto na história brasileira em que o fortalecimento conjunto de jovens, figuras inexperientes e ativistas tenha desaguado em imediata melhora qualitativa na resolução dos principais gargalos da vida pública.

A pesquisa realizada por dois técnicos altamente competentes, com reconhecimento internacional, coloca por terra, por exemplo, o equivocado programa de um determinado “Partido Novo”, que se lança como a “vestal política” das próximas eleições, quando nada tem de diferente dos demais, a não ser uma acentuada leva de “inexperientes”, buscando o que os outros buscam: os votos.

Dizem os pesquisadores que temos um dos Legislativos mais rotativos do mundo. Em relação a democracias consolidadas, a renovação do Congresso brasileiro está acima da média de países comparáveis.

Em 2014, 53% dos deputados federais brasileiros foram reeleitos, enquanto que 95% dos congressistas americanos, 90% dos britânicos, 88% dos espanhóis, 80% dos australianos e 72% dos canadenses se reelegeram. A baixíssima renovação em cada um desses países é razão de atraso ou ausência de progresso nacional? Improvável.