Moro: nem herói, nem notável

04/05/2020 08h08

Quem acompanha minhas publicações sabe perfeitamente que desde os tempos mais conturbados da Operação Lava Jato , quando o então juiz Sérgio Moro teve amplo protagonismo, fui crítico dessa onda de considerá-lo o “herói da Pátria”. Sempre afirmei ser ele um magistrado diligente e que no cumprimento do seu mister prestou um relevante serviço ao combate à corrupção. Não o fez sozinho, mas com outros juízes, uma corrente de procuradores da mais alta competência e a atuação da Polícia Federal, que juntos realizaram a mais eficaz e abrangente caça aos bandidos das esferas públicas e privadas. Quem imaginaria assistir a prisão de governadores, magistrados, senadores, deputados e outras altas autoridades públicas, além dos mais poderosos empresários, banqueiros e milionários pilantras? De repente no Brasil desapareceu a máxima de que aqui “só ia para cadeia pretos, pobres e putas”. Assistimos alguns desfiles de figurões algemados, conduzidos pela Polícia Federal e trancados em celas, alguns até com a cabeça raspada e usando o uniforme dos demais presos. Quem acreditaria tempos atrás que íamos ver um ex-presidente da República execrado publicamente em cadeia de rádios e televisão e nos principais jornais, mostrando sua cara cínica e em seguida condenado como assaltante dos cofres públicos, desvios do dinheiro do povo, chefiando a maior quadrilha organizada já vista na história da política brasileira? Assistimos ainda um partido político, no exercício do poder, ser esfacelado literalmente e apeado por ações de corrupção atingindo toda a sua cúpula e o fazendo sofrer grande derrota nas eleições de 2018. Mas também errou pontualmente em algumas decisões em prejuízo de diversos acusados, algumas delas reformadas por instâncias superiores do Judiciário. Moro foi um bom e eficiente juiz, daí ao posto de herói a distância é imensa.