Qualis artifex pereo!

19/06/2020 08h08

Cruel, insano, depravado? É pouco. Nero era um monstro. Foi para a cama com a mãe e mandou matá-la. Envenenou o meio-irmão, degolou a primeira esposa e chutou a segunda, grávida, até ela morrer.

O imperador romano também castrou um liberto, vestiu-o de mulher e se casou com ele numa festa de arromba. Mas o problema mesmo era que adorava cantar e atuar em público, algo imperdoável para quem tinha o título de princeps (o Primeiro no Senado). Com poucos anos de anos de governo (entre 54 e 68), Nero perdeu o apoio do Senado, dos magistrados, da terceira mulher e até de seu preceptor, o filósofo Sêneca. Aos 30 anos, ante um golpe de estado iminente, deu cabo da própria vida com uma punhalada no pescoço. Suas últimas palavras: Qualis artifex pereo! (Que artista morre comigo!).

Ele foi capaz de crueldades inimagináveis e provavelmente eliminou boa parte de sua família - o que, aliás, era uma praxe na dinastia júlio-claudiana. Mas não era o louco que nos pintaram, e sim um imperador que teatralizou a própria vida para atrair atenção do público. Tanto que, após seu suicídio, surgiram rumores de que não havia morrido - tal como um Elvis Presley dos tempos antigos.

Ele se julgava um continuador da glória dos gregos e usava Roma e seu império como um grande palco para suas exibições. Claro, ele foi, sim, um tirano - possivelmente o mais cruel de sua dinastia. Mas sua necessidade de interagir com o povo o transformou em um tirano rockstar, alguém de quem a população gostava de ter notícia, de saber o que andava fazendo.

Conhecido como imperador tirano e autoritário, Nero ascendeu ao poder em Roma e, desde então, conviveu com as várias artimanhas e conspirações que rondavam seu alto posto.

Sobre o terrível incêndio de Roma muitos diziam que teria sido mais um dos frutos da mente perturbada e manipuladora de Nero. Para alguns, ele havia ordenado secretamente o incêndio criminoso para somente embelezar algumas partes da cidade de Roma que não o agradavam. Para outros, a mesma ação desastrosa seria executada com o objetivo de incriminar os cristãos, que não se submetiam ao reconhecimento o imperador como uma figural passível de devoção religiosa. Essa história nos é contada pelos historiadores Suetônio Tácito e Cassio Dio.