Juiz não é Pop Star

20/07/2020 10h10

Convivi muito tempo com um magistrado, daqueles que hoje quase não mais existem, meu sogro e primo, desembargador Luis Oliveira Sousa, que entre muitas lições sempre fazia duas afirmações: “juiz que der sinais de riqueza, sem ter herdado merece ser investigado e juiz não é artista nem jogador para dar entrevista sobre processos ou decisões, suas falas devem estar apenas nos autos”. Ocupou o mais alto posto da Magistratura alagoana, como presidente do Tribunal de Justiça, sempre avesso a entrevistas e exposições desnecessárias. No ambiente institucional da harmonia dos poderes e pela deferência de Divaldo Suruagy, chegou a ocupar por alguns dias o cargo de governador. Cercado de jornalistas falou apenas de sua honra em colocar na sua história que governou Alagoas por cinco dias. Nada mais a acrescentar a não ser cumprir a liturgia do cargo e despachar uma agenda mínima que o titular deixou.

Não tinha, nem queria ter vocação para a política, mas havia naquele dia em sua agenda a audiência com uma senhora, pobre residente na periferia de Maceió. A secretária do Gabinete Civil, sua amiga Marlene Lanverly (que nos deixou há poucos dias) preocupada com a condução dessa audiência foi lá para ajudar. Ao entrar no gabinete deparou-se com o seguinte quadro: a mulher se acabando de chorar e o governador-interino também. Assustada perguntou do que se tratava e ele falou que a senhora havia pedido uma casa da COHAB para morar e ele havia dito que não tinha poderes para isso. De imediato Marlene falou: “Poder sim governador, pode assegurar que a casa está garantida”. A senhora ganhou a casa e quanto a ele acho que considerou o mais importante ato do seu “governo”.

Hoje ao assistir o desfile ridículo de magistrados midiáticos, ávidos por ser noticia, alguns falando demais e muitos envolvidos em atos de corrupções, lembro-me das lições de dignidade e humildade que recebi de alguém que foi exemplo do bom juiz.