4 filmes para entender o que foi a Ditadura Militar Brasileira

31/03/2021 23h11

Hoje, quarta-feira (31) faz 57 anos do golpe de 1964, que inaugurou a ditadura militar no Brasil (1964-1985), deixou um rastro de sangue, roubou a liberdade, deturpou a lei e sequestrou a democracia durante 21 anos. Em 2021, uma combinação explosiva marca este aniversário nefasto: graças a nosso ‘excelentíssimo’ e ‘magnifico’ presidente Jair Messias Bolsonaro (sem partido), a linha divisória entre a política e os militares volta a se confundir.

Desde eleito o presidente Jair Messias Bolsonaro (sem partido), tenta a todo custo ‘passar pano’ para o golpe de 1964. Nas inúmeras entrevistas que concede nos milhares de veículos de impressa, ele sempre recorre a uma versão utópico-ficcional para explicar o evento mais mortiço da história de nossa jovem democracia. Segundo ele, o período foi uma revolução para ‘salvar’ o país do comunismo. Nosso ‘diletíssimo’ governante chegou a declarar que nosso país não viveu um período ditatorial, ‘‘apenas um período com ‘alguns probleminhas’ ’’.

Bora contextualizar alguns desses ‘probleminhas’, o golpe de 1964 colocou meio milhão de brasileiros sob suspeição, mais de 150 mil investigados, 20 mil torturados, entre eles 95 crianças/adolescentes, além dessas, 19 crianças foram sequestradas e adotadas ilegalmente por militares; 7.670 membros das Forças Armadas e bombeiros foram presos, muitos torturados e expulsos de suas corporações. Cassaram 4.862 mandatos de parlamentares, 245 estudantes foram expulsos das Universidades pelo Decreto 477 (o decreto-lei previa a punição de professores, alunos e funcionários de universidades considerados culpados de subversão ao regime) e o Congresso Nacional foi fechado três vezes (1966/68 e 77).

Segundo estimativa, mais de 20 mil brasileiros, incluindo indígenas e camponeses, foram exterminados entre os 434 mortos/desaparecidos reconhecidos pela Comissão Nacional da Verdade (2011-2014), 42 eram negros e 45 mulheres. Ocorreram 536 intervenções em sindicatos, e foram colocadas na ilegalidade entidades como a União Nacional dos Estudantes (Une) e a Associação Brasileira dos Estudantes Secundários (Abes) (por meio da Lei Suplicy de Lacerda, LEI Nº 4.464, de 9 de novembro de 1964).

Para não esquecermos o que significou esse vil e denso período de nossa história, resolvemos indicar alguns longas-metragens que versam sobre este momento histórico.

 

O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006)

Direção: Cao Hamburger

Elenco: Michael Joelsas, Germano Halut, Daniela Piepszyk, Caio Blat, Liliana Castro, Paulo Autran e Simone Spoladore.

Breve sinopse: A historia se passa em 1970 (após 4 anos de golpe militar). Mauro é um garoto mineiro de 12 anos que adora futebol e jogo de botão. Um dia sua vida muda completamente, já que seus pais saem de férias de forma inesperada e sem motivo aparente para ele. Na verdade os pais de Mauro foram obrigados a fugir por serem militantes de esquerda, deixando-o com o avô paterno. Entretanto, o avô falece no mesmo dia que o menino chega em São Paulo, o Mauro então acaba ficando com Shlomo, um solitário judeu ancião que é seu vizinho. Ao passar dos dias, o menino segue aguardar o telefonema de seus excêntricos pais, a verdade é que ele precisa aprender a lidar com as intempéries dessa nova realidade, realidade que oscila entre alegrias e tristezas, fora a ditadura outro pano de fundo do filme é a Copa do Mundo e 1970 (a metáfora futebolística exerce um motor preciso no texto de Hamburger).

O que é Isso, Companheiro? (1997)

Direção: Bruno Barreto

Elenco: Pedro Cardoso, Fernanda Torres, Alan Arkin, Selton Mello, Luiz Fernando Guimarães, Matheus Nachtergaele, Cláudia Abreu, Caio Junqueira, Nélson Dantas, Fernanda Montenegro, Marco Ricca, Eduardo Moscovis, Alessandra Negrini e Lulu Santos.

Breve sinopse: O filme se passa no auge da ditadura militar após a decretação do AI-5, em dezembro de 1968. Nisso, em meados de 1969, um grupo de jovens da classe média carioca opta pela clandestinidade e pela luta armada. Para romper o ‘muro do silêncio’ da imprensa, esses jovens pertencentes ao movimento clandestino de esquerda MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), tramam o primeiro sequestro de um embaixador com fins políticos. O alvo foi embaixador estadunidense que passa a ser mantido em cativeiro pelos jovens que, para libertá-lo, exigem a leitura de manifesto em cadeia nacional de televisão e a libertação de 15 companheiros presos.

Comentário: O longa foi indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro (1998).

Batismo de Sangue (2006)

Direção: Helvécio Ratton

Elenco: Caio Blat, Daniel de Oliveira, Cássio Gabus Mendes, Ângelo Antônio, Leo Quintão, José Carlos Aragão, Odilon Esteves, Marcélia Cartaxo e Marku Ribas.

Breve Sinopse: Em São Paulo, no final dos anos 1960, o convento dos frades dominicanos torna-se uma trincheira de resistência à ditadura militar que governa o Brasil. Movidos por ideias cristão, os freis Betto, Oswaldo Fernando, Ivo e Tito passam a apoiar o grupo guerrilheiro Ação Libertadora Nacional, comandado por Carlos Mariguella. Frei Beto segue para um convento no sul do Brasil, onde ajuda perseguidos políticos a passarem pela fronteira. Vigiados pela policia, Frei Fernando e Frei Ivo acabam presos e torturados. A polícia descobre como são feitos os contatos entre Marighella e os dominicanos e prepara uma emboscada para matá-lo. O convento é invadido, Frei Tito é preso. Em Porto Alegre, Frei Betto também é preso e os dominicanos são transferidos para um presídio em São Paulo.

Frei Tito é interrogado e sofre terríveis torturas. Meses depois, um grupo guerrilheiro sequestra o embaixador suíço no Brasil, exigindo a libertação de setenta presos, entre eles Frei Tito. Contra sua vontade, Frei Tito é mandado para o exílio e vai viver na França. Mesmo longe do Brasil, Tito não consegue ficar livre de seus carrascos. Por onde passa, acredita estar sendo vigiado e ameaçado. Com intuito de pôr fim ao seu martírio e se livrar de seus perseguidores, Frei Tito comete suicídio.

Zuzu Angel (2006)

Direção: Sérgio Rezende

Elenco: Patricia Pillar, Daniel de Oliveira, Alexandre Borges, Othon Bastos, Antonio Pitanga, Elke Maravilha, Leandra Leal, Luana Piovani, Nelson Dantas, Paulo Betti.

Breve sinopse: Os anos 1960 viram o mundo de pernas pro ar, transformando todos os grupos sociais. No Brasil, a carreira da estilista Zuzu Angel começa a deslanchar, enquanto seu filho Stuart Angel Jones ingressa no movimento estudantil, contrário à ditadura militar então vigente. As diferenças ideológicas entre mãe e filho são profundas. Ele lutando pela revolução socialista. Ela, uma empresária. Stuart é preso, torturado e morto, sendo dado como desaparecido político. Inicia-se então a odisseia de Zuzu pela libertação do filho e uma vez revelada sua morte, em busca de seu corpo. As manifestações da estilista mineira ecoaram no Brasil, no exterior e em sua moda. A cruzada de Zuzu expõe as vísceras da repressão e incomoda tanto que, certa noite, em um estranho desastre de carro, ela tem o mesmo destino do filho.

* INDICAÇÃO BÔNUS:

O Paciente – O Caso Tancredo Neves (2018)

Direção: Sergio Rezende

Elenco: Othon Bastos, Ester Góes, Leonardo Medeiros, Paulo Betti, Otávio Muller, Emílio Dantas e Eucir de Souza.

Breve sinopse: O Paciente recria a sucessão de erros médicos que levou à morte de Tancredo, em 1985. É verdade que eles começaram pelo próprio paciente. Após a derrubada na campanha das Diretas Já no Congresso, Tancredo construiu sua vitória do Colégio Eleitoral, pelo voto indireto. Ele sabia das restrições dos militares a seu vice, José Sarney, a quem consideravam traidor. Temia que o presidente militar, João Figueiredo, não o empossasse. Por isso, quando as dores que sentia se tornaram insuportáveis, Tancredo exortou os médicos que o assistiam em Brasília a sedá-lo, para minimizar a dor. Só pedia um ou dois dias, até a posse. A situação evoluiu da pior forma possível. Erros da equipe do Hospital de Base, em Brasília. Erros que continuaram no hospital em São Paulo e que terminaram em morte.