Nosso primeiro corrupto

27/06/2021 08h08
Em 1549, desembarcou no Brasil o primeiro funcionário público ficha-suja de nossa história. Pero Borges foi nomeado ouvidor-geral, cargo equivalente ao de ministro da Justiça, apesar da mácula em seu currículo: seis anos antes, fora condenado em Portugal por desvio de verba para construir um aqueduto - o roubo inviabilizou a obra. Ele chegou a ser julgado e afastado do serviço público por ter embolsado metade do custo do aqueduto - ou um ano de seu salário. Veio para o Brasil como parte de sua punição, mas com poder (o ouvidor-geral podia até condenar índios e escravos à morte), gordo salário e pensão para a mulher se manter em Lisboa. Ai já a justiça da corte ensinava ao Brasil a maneira correta de julgar políticos e pessoas influentes. O nepotismo e o tráfico de influência também têm origens nessa época. As nomeações estavam "quase que exclusivamente" ligadas ao fato de "ter ou não o progenitor (do pretendente) servido à Coroa" e eram vinculadas a casamentos e ligações familiares. As pessoas compravam os cargos ou recebiam do rei como forma de premiação por algum serviço, então acabava-se criando a ideia de que se podia usá-los a seu dispor". Vemos então que a corrupção nasceu quando o Brasil também nascia e daí por diante foi apenas aperfeiçoando. Os mensalões, o roubo por parte de agentes públicos e principalmente por políticos são práticas mais que centenárias e que vão seguindo no princípio da hereditariedade. Aqui é assim: o avô roubava, foi sucedido pelo pai e depois pelos filhos se locupletando. Não importa de onde venha a grana podre eles roubam. Dos hospitais, das escolas, dos miseráveis famintos e mais recentemente da pandemia que matou mais de 500 mil e prefeitos, governadores, ministros e outras autoridades são suspeitas de se apropriar.