Em 1549, desembarcou no Brasil o primeiro funcionário público ficha-suja de
nossa história. Pero Borges foi nomeado ouvidor-geral, cargo equivalente ao de
ministro da Justiça, apesar da mácula em seu currículo: seis anos antes, fora
condenado em Portugal por desvio de verba para construir um aqueduto - o
roubo inviabilizou a obra.
Ele chegou a ser julgado e afastado do serviço público por ter embolsado
metade do custo do aqueduto - ou um ano de seu salário. Veio para o Brasil
como parte de sua punição, mas com poder (o ouvidor-geral podia até
condenar índios e escravos à morte), gordo salário e pensão para a mulher se
manter em Lisboa. Ai já a justiça da corte ensinava ao Brasil a maneira correta
de julgar políticos e pessoas influentes. O nepotismo e o tráfico de influência
também têm origens nessa época. As nomeações estavam "quase que
exclusivamente" ligadas ao fato de "ter ou não o progenitor (do pretendente)
servido à Coroa" e eram vinculadas a casamentos e ligações familiares.
As pessoas compravam os cargos ou recebiam do rei como forma de
premiação por algum serviço, então acabava-se criando a ideia de que se
podia usá-los a seu dispor".
Vemos então que a corrupção nasceu quando o Brasil também nascia e daí por
diante foi apenas aperfeiçoando. Os mensalões, o roubo por parte de agentes
públicos e principalmente por políticos são práticas mais que centenárias e que
vão seguindo no princípio da hereditariedade. Aqui é assim: o avô roubava, foi
sucedido pelo pai e depois pelos filhos se locupletando.
Não importa de onde venha a grana podre eles roubam. Dos hospitais, das
escolas, dos miseráveis famintos e mais recentemente da pandemia que matou
mais de 500 mil e prefeitos, governadores, ministros e outras autoridades são
suspeitas de se apropriar.