Dia Internacional da Liberdade de Imprensa: 7 Filmes sobre a importância da liberdade de imprensa para o desenvolvimento de uma sociedade democrática

03/05/2023 13h01 - Atualizado em 03/05/2023 14h02
Dia Internacional da Liberdade de Imprensa: 7 Filmes sobre a importância da liberdade de imprensa para o desenvolvimento de uma sociedade democrática


No dia 3 de maio, é comemorado o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, que tem como objetivo conscientizar líderes políticos e a sociedade sobre a importância da liberdade de imprensa para o desenvolvimento de uma sociedade. Nesta data, também são prestadas homenagens aos profissionais da imprensa que perderam suas vidas enquanto exerciam suas funções.

A Assembleia Geral das Nações Unidas estabeleceu o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa em 20 de dezembro de 1993, em reconhecimento ao Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Além disso, esta data marca a celebração da Declaração de Windhoek, que foi assinada em 1991 por jornalistas africanos em conjunto com a UNESCO e afirmou os princípios da liberdade de imprensa.

A liberdade de imprensa é encorajada por uma democracia forte, que valoriza uma imprensa capaz de informar o público, amplificar vozes diversas e responsabilizar líderes. Apesar da abundância de informações disponíveis em meios como a Internet, televisão, rádio e jornais, muitas vezes esquecemos o importante papel dos jornalistas.

Em alguns países, a imprensa é considerada como um "quarto poder", apesar de que, oficialmente, apenas o Executivo, Legislativo e Judiciário possuem poder legítimo. Esse apelido reflete a importância fundamental da mídia em monitorar as atividades do governo e seus representantes.

Um importante papel desempenhado pela imprensa é o de informar o público sobre o funcionamento muitas vezes complexo do governo, esclarecendo como as decisões tomadas em níveis mais altos podem afetar a vida das pessoas. Os meios de comunicação também permitem a livre expressão de opiniões, inclusive aquelas que divergem das opiniões dos líderes no poder. Quando a imprensa publica opiniões de líderes de oposição e critica o governo em seus editoriais, ela promove a multiplicidade de opiniões.

Os líderes comprometidos com a democracia podem se sentir incomodados com críticas públicas às suas políticas, mas valorizam o direito da imprensa de expressar essas críticas. A liberdade da imprensa é crucial para garantir a transparência e o bom funcionamento de um governo. Por ser independente do poder governamental, a imprensa pode investigar e expor casos de corrupção, além de alertar a população quando os líderes eleitos não cumprem suas promessas.

Sem embargo, quando jornalistas são ameaçados, mortos, agredidos, censurados ou presos, a liberdade de expressão de toda a sociedade é atacada diretamente. Essas ameaças e ataques limitam a capacidade da imprensa de cumprir seu papel como fiscalizador e prejudicam a capacidade do público de receber informações precisas e relevantes. Isso pode ter consequências negativas para a sociedade como um todo, incluindo a erosão da confiança nas instituições governamentais e uma menor capacidade de tomar decisões informadas. Portanto, proteger a liberdade de imprensa é fundamental para garantir a saúde da democracia e o bem-estar da sociedade.

A produção jornalística é um produto cultural que surge de uma complexa negociação entre diversas partes interessadas em um contexto social específico. Esses contextos são moldados pelas relações entre as fontes de informação e o público, que são os dois pilares fundamentais nos quais o jornalismo se baseia.

Todavia, é importante lembrar que o jornalismo nunca será uma transcrição perfeita da realidade. Em entrevista concedida a Jorge Furtado para o brilhante documentário "O Mercado de Notícias", o jornalista brasileiro Bob Fernandes, ressalta que a determinação é um elemento essencial desde o início até o fim da trajetória do jornalismo. Ele argumenta que o senso de dever e responsabilidade é uma espécie de missão na busca por criar uma ponte entre o jornalismo e a sociedade, o que é inerente à própria natureza do jornalismo.

A liberdade de imprensa é fundamental para garantir que essa missão seja cumprida com eficácia e integridade. Sem liberdade de imprensa, os jornalistas podem enfrentar ameaças e pressões que os impedem de realizar seu trabalho adequadamente. A censura e a perseguição a jornalistas também podem levar a uma cultura de medo e autocensura, o que pode prejudicar a qualidade e a precisão das informações divulgadas.

Assim, a liberdade de imprensa é um direito fundamental que deve ser protegido e promovido em todos os contextos sociais. Somente com a garantia da liberdade de imprensa é possível manter uma sociedade informada e capacitada para tomar decisões informadas. Para mais, a liberdade de imprensa é um pilar essencial da democracia, já que permite que as vozes de diferentes perspectivas sejam ouvidas e que as instituições governamentais sejam responsabilizadas por suas ações.

O Dia Internacional da Liberdade de Imprensa é uma oportunidade importante para destacar a importância da liberdade de expressão e do papel vital que a imprensa desempenha na promoção da transparência, da responsabilidade e do acesso à informação em todo o mundo.

Nesse sentido, a Tribuna aproveitou a ocasião para selecionar alguns títulos que abordam a temática da liberdade de imprensa e suas complexidades, incluindo obras que exploram a relação entre a imprensa e a democracia, a luta pela liberdade de expressão em regimes autoritários, os desafios enfrentados pelos jornalistas em zonas de conflito e muito mais. Através dessas obras cinematográficas, a equipe da Tribuna busca aumentar a conscientização sobre a importância da liberdade de imprensa e incentivar o diálogo e o debate sobre o assunto.





Confira:



Spotlight: Segredos Revelados (2015), de Tom McCarthy


A liberdade de imprensa é um pilar fundamental da democracia, pois permite que os cidadãos tenham acesso a informações e possam tomar decisões informadas sobre assuntos que afetam suas vidas. O filme "O Caso Spotlight" é um exemplo poderoso dessa importância, pois retrata o trabalho incansável de jornalistas investigativos do The Boston Globe para expor abusos sexuais cometidos por membros da arquidiocese católica de Boston.

Através de entrevistas, documentos e extensa pesquisa, os jornalistas da equipe Spotlight foram capazes de reunir informações e evidências suficientes para comprovar a ocorrência dos abusos e, consequentemente, publicar uma reportagem que mudou a história da Igreja Católica nos Estados Unidos. Esse trabalho meticuloso mostra que a apuração de fatos e a investigação jornalística são essenciais para garantir a transparência e a prestação de contas em todos os setores da sociedade.

No entanto, também é importante destacar que o processo de investigação e publicação de uma reportagem pode ser longo e complexo, exigindo recursos e dedicação dos jornalistas envolvidos. Além disso, a exposição de informações sensíveis pode ter consequências graves, como retaliações e ameaças aos profissionais envolvidos.

Portanto, é fundamental que a liberdade de imprensa seja protegida e valorizada como um direito fundamental da sociedade, garantindo a segurança e a independência dos jornalistas para que possam exercer seu papel de forma livre e responsável. O prêmio Pulitzer recebido pela do equipe do The Boston Globe é uma prova da importância do jornalismo investigativo e do valor da liberdade de imprensa para a sociedade como um todo.








"The Post" (2017), de Steven Spielberg


"The Post" é uma obra cinematográfica que destaca a importância da liberdade de imprensa e seu papel fundamental na democracia. O filme retrata uma das maiores batalhas da história entre imprensa e governo, na qual editores do The Washington Post lutaram para expor segredos governamentais sobre a Guerra do Vietnã, publicando documentos sigilosos do Pentágono.

O enredo destaca a coragem dos jornalistas em enfrentar pressões políticas e legais para divulgar informações relevantes à sociedade, em detrimento de suas próprias carreiras e liberdade. Essa batalha judicial levou a uma importante decisão da Suprema Corte dos EUA que estabeleceu que a liberdade de imprensa é um direito constitucionalmente protegido, mesmo quando em conflito com o interesse nacional.

O filme de Spielberg também aborda a questão do machismo na indústria jornalística, destacando a importância da liderança feminina e da igualdade de gênero no setor. A personagem de Meryl Streep, Katherine Graham, é retratada como a primeira mulher a liderar um jornal importante nos Estados Unidos e enfrenta diversos desafios para afirmar sua autoridade e competência em um ambiente dominado por homens.

"The Post" é uma obra que reforça a necessidade de proteger e valorizar a liberdade de imprensa, é através da liberdade de imprensa que a sociedade pode ser informada e conscientizada sobre questões importantes, permitindo que os cidadãos tomem decisões informadas e possam cobrar responsabilidade dos seus governantes.








"Repórteres de Guerra" (2010), de Steven Silver


O filme "Repórteres de Guerra" retrata a vida de um grupo de fotojornalistas que se arriscam para registrar os últimos dias do apartheid e a primeira eleição democrática da África do Sul. Com um olhar crítico e sensível, a produção mostra como esses lendários fotógrafos, conhecidos como o Clube do Bangue Bangue, enfrentaram diversos desafios para documentar a realidade do país, incluindo conflitos sangrentos, tentativas do governo de manter o sistema de segregação racial e a miséria nas townships.

Ao abordar dilemas éticos da profissão, como a relação entre a necessidade de documentar a realidade e a obrigação de proteger a dignidade humana, o filme ressalta a importância do papel da imprensa em coberturas de guerra e em situações de conflito. O poder de uma foto para capturar a realidade e mudar a vida tanto de quem a registra quanto de quem é registrado é explorado de forma contundente na produção, reforçando a responsabilidade dos jornalistas em documentar a realidade de forma ética e precisa.

O filme de Silver também destaca o risco envolvido na cobertura de conflitos e o papel crucial que a liberdade de imprensa desempenha nessas situações. A produção mostra como o grupo de jovens fotojornalistas enfrentou diversas ameaças e perigos durante a cobertura da transição política na África do Sul, mas mesmo assim não deixou de documentar os eventos importantes que estavam acontecendo.

Por fim, "Repórteres de Guerra" é uma obra que reforça a importância da liberdade de imprensa e do papel da imprensa em documentar a realidade de forma ética e precisa. O filme destaca a coragem e a dedicação dos jornalistas em coberturas de conflitos, bem como os dilemas éticos e os riscos envolvidos nesse tipo de trabalho.








"Todos os Homens do Presidente" (1976), de Alan J. Pakula


O filme "Todos os Homens do Presidente" é um dos grandes clássicos do cinema que aborda a importância da liberdade de imprensa. A produção retrata a investigação do escândalo Watergate pelos repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein do jornal Washington Post, que começou como uma investigação sobre uma invasão no Partido Democrata e culminou com a queda do presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon.

A trama adaptada por William Goldman destaca a coragem e a perseverança dos jornalistas em desvendar a verdade sobre o caso, mesmo enfrentando grandes obstáculos e ameaças. A produção também mostra como a liberdade de imprensa é fundamental para a democracia e para garantir a transparência e a responsabilidade dos governos perante a sociedade.

"Todos os Homens do Presidente" reforça a importância do papel da imprensa em expor a corrupção e a manipulação do poder, bem como o valor do jornalismo investigativo em coberturas complexas e de grande impacto para a sociedade. O filme inspirou gerações de jornalistas e demonstrou como o trabalho da imprensa pode ser fundamental para a manutenção dos valores democráticos.








"O Abutre" (2014), de Dan Gilroy


O filme "O Abutre" é uma produção que coloca em questão a ética do jornalismo e o quanto a liberdade de imprensa pode ser explorada em busca de lucro e sucesso. A história acompanha o jovem Louis Bloom, interpretado por Jake Gyllenhaal, que decide se aventurar no mundo do jornalismo criminal independente de Los Angeles, conhecido como "nightcrawlers".

O personagem principal, em busca de sucesso financeiro, não mede esforços para conseguir as melhores imagens e informações das cenas de crimes e acidentes. Ele chega a interferir nas cenas dos crimes, a manipular a informação e a competir com outros jornalistas de maneira desleal. O filme mostra como a busca desenfreada por audiência e lucro pode levar à distorção da verdade e ao desrespeito pelos limites éticos do jornalismo.

Apesar de apresentar um lado sombrio da profissão, "O Abutre" também questiona a linha tênue entre a liberdade de imprensa e a privacidade das vítimas e de suas famílias. A produção traz à tona o debate sobre o impacto da divulgação de imagens fortes e sensacionalistas na sociedade, e como essa prática pode ser danosa tanto para as pessoas envolvidas quanto para a reputação do próprio jornalismo.

Em resumo, "O Abutre" é uma produção que apresenta o lado sombrio do jornalismo criminal independente e coloca em questão a ética e os limites do jornalismo em busca do sucesso financeiro. O filme também levanta importantes debates sobre a liberdade de imprensa e a responsabilidade ética dos jornalistas em relação à privacidade das vítimas e ao impacto da divulgação de imagens sensacionalistas na sociedade.








“Boa Noite e Boa Sorte” (2006), de George Clooney


"Boa Noite e Boa Sorte" é um filme baseado em fatos reais que retrata o clima de medo e perseguição que tomou conta dos Estados Unidos durante a Guerra Fria. Nesse contexto, a produção destaca a coragem do jornalista Edward R. Murrow em enfrentar o poderoso senador Joseph McCarthy, que liderava uma cruzada contra supostos comunistas no país.

O filme aborda a importância da liberdade de imprensa em momentos de crise política e social, quando a verdade é ameaçada por interesses políticos e econômicos. Além disso, "Boa Noite e Boa Sorte" também mostra o papel fundamental dos jornalistas em questionar o poder e defender os valores democráticos, mesmo que isso signifique ir contra a opinião pública ou enfrentar represálias.

A produção foi muito elogiada pela crítica e recebeu seis indicações aos Óscares, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor. Com um elenco de peso, que inclui nomes como David Strathairn, George Clooney e Robert Downey Jr., "Boa Noite e Boa Sorte" é uma obra-prima do cinema que não apenas entretém, mas também provoca reflexões importantes sobre a liberdade de imprensa e o papel dos jornalistas na sociedade.








"Ela Disse" (2022), de Maria Schrader


O filme baseado no livro homônimo das repórteres Jodi Kantor e Megan Twohey, do New York Times, é uma importante obra que destaca a importância da liberdade de imprensa na denúncia de crimes, especialmente aqueles que ocorrem nas sombras. O trabalho das repórteres e a coragem das vítimas resultaram em diversas condenações de Harvey Weinstein por violência sexual.

No entanto, o trabalho das repórteres também destaca as principais limitações desse tipo de apuração. Como provar um crime cujas únicas testemunhas são a vítima e o agressor? No caso de Weinstein, a situação tinha agravantes, como o fato das vítimas serem obrigadas a assinar um contrato que as impedia de falar sobre o assunto e o fato do produtor ter contratado uma firma para espionar jornalistas e vítimas.

Por conseguinte, o trabalho de convencimento das fontes e das vítimas para permitir que seus nomes sejam citados é essencial para dar mais força à reportagem. No entanto, as repórteres não têm como proteger as fontes e não há como um jornal fornecer apoio legal a elas. Mas sem o rosto das vítimas, a reportagem seria muito menos impactante.

O filme de Maria Schrader também ajuda a combater o mito de que a maioria das denúncias de estupro são falsas e que mulheres mentem para obter ganho financeiro. A história sobre os estupros cometidos por Harvey mostra que o dinheiro, quando chegou às vítimas, serviu não para enriquecê-las, mas para calar qualquer tentativa de denúncia do crime.

Em suma, o filme destaca a importância da liberdade de imprensa na denúncia de crimes e na luta pela justiça, mesmo em situações tão complexas e desafiadoras.