Aos 50: querer e poder

23/09/2023 16h04 - Atualizado em 24/09/2023 00h12
Aos 50: querer e poder

E aqui estou eu, aos cinquenta anos, a mirar as décadas passadas e a indagar sobre os meus poderes e desejos, sobre as escolhas feitas e as estradas não percorridas. "Querer não é poder," sussurra a vida, como um vento que acaricia os cabelos grisalhos.

Ela passou, a vida, como um furacão, embalando sonhos, embriagando realidades, fazendo e desfazendo planos. Quis voar alto, tão alto quanto os pássaros que deslizam nas correntes aéreas, acima das nuvens, longe das sombras da mediocridade.

Mas os pés, ah! esses pés obstinados, fincaram-se ao chão, grudaram-se ao concreto da existência palpável.

O querer ainda borbulha dentro do peito, como um vinho antigo, encorpado de desejos e saudades. Mas o poder, esse sentinela severo, limita o querer com seu punhal de realidade. 

Aos cinquenta, percebo que fiz o que pude, com as armas que tinha, com os ventos que sopravam.

E os sonhos não concretizados? 

Bom, eles permanecem, como tesouros escondidos, quem sabe para serem descobertos se houver tempo por aqui, em outra vida, ou em outra dimensão de existir.

Fiz amizades, e nelas busquei os sabores múltiplos da humanidade. Brinquei sob a chuva e abracei o sol. Amei com a intensidade de um rio que corre para o mar, inconformado com as barragens do caminho.

Mas houve coisas que eu quis desfrutar, e não pude. Coisas que eu quis escolher, e não pude!

Há um limite para o amor? Quem sabe o poder do coração é mais finito do que imaginamos.

Vi lugares, palcos do mundo onde a história foi escrita, as paisagens onde Deus derramou sua magnanimidade de cores. Mas havia outros lugares, recantos escondidos do globo, que eu quis visitar, mas o poder do tempo, da circunstância, da condição, não permitiu.

Aos cinquenta anos, há uma quietude na alma, um entendimento tácito com o universo de que o querer é um mar infinito, e o poder, um barco à deriva, afundando. E, quem sabe, nesse balanço das águas, entre o céu estrelado do querer e o mar revolto do poder, eu tenha encontrado a beleza da existência, a essência do ser.

O sentido da vida talvez resida não na conquista do que queremos, mas na apreciação do que podemos. E no meio dessa dança silenciosa entre o querer e o poder, descobrimos quem realmente somos. 

Aos cinquenta, olho para trás com gratidão e para frente com esperança, sabendo que ainda há muito a aprender na lição do querer e poder. E talvez, nos próximos anos, eu aprenda mais sobre o milagre de existir entre o céu infinito do querer e o mar misterioso do poder.

E quem sabe no que me resta, nos meus quereres, se Deus me permitir, ainda poderei realizá-los por aqui!