Caio Hanry Abreu escreve: O compadrio da política em Alagoas

23/11/2023 16h04
Caio Hanry Abreu escreve: O compadrio da política em Alagoas
Foto: Assessoria

Aatual legislatura da Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE) é uma das poucas na história do Brasil, e a única na história de Alagoas, a eleger um presidente do legislativo estadual com unanimidade: 27 dos 27 votos elegeram Marcelo Victor (MDB), deputado que é o notório padrinho de Paulo Dantas (MDB) e responsável pela indicação de Dantas ao Governo do Estado, além de ser um dos principais fiadores do capital político, se não o maior, de sua candidatura ao Palácio dos Palmares.

Marcelo Victor apostou alto em Dantas e colheu a eleição do governador, e o partido ao qual ambos pertencem elegeu, também, 14 deputados estaduais. Sem dúvidas uma jogada de mestre: enquanto todos jogavam damas, Marcelo Victor jogava xadrez. O jogo de Marcelo Victor reuniu até deputados que naturalmente fariam oposição ao governo, a exemplo do Cabo Bebeto (PL), político radical de extrema-direita que indicou seu filho, Caio Luiz Teixeira, para o secretariado do prefeito João Henrique Caldas, que está em constante atrito com o Governo do Estado.

Outros deputados também possuem indicações no executivo municipal, e ainda sim fazem parte do grupo político de Marcelo Victor. Essa política comandada por Marcelo Victor também rendeu frutos ao Governo do Estado, visto que nenhum Projeto de Lei com o carimbo de Paulo Dantas foi rejeitado pelo parlamento alagoano.

No entanto, a política de compadres que o Presidente da ALE estabeleceu é boa somente para os políticos. Uma democracia em que não há oposição é uma democracia fraca, com a mínima transparência e fiscalização. O poder legislativo é responsável por fiscalizar os trabalhos do executivo, e quando 100% dos deputados estão apoiando o governo, algo não está saindo bem; e quando um só partido domina mais da metade das cadeiras do legislativo, sendo o partido do governador, também não cheira bem.

O resultado do compadrio alagoano encabeçado por Marcelo Victor é desastroso para a população alagoana, que não encontra no parlamento estadual nenhuma voz para indignar-se com as ações ou omissões do executivo.

A pasta da Segurança Pública, por exemplo, que é ocupada por Flávio Saraiva – delegado aposentado investigado em meados de 1996 por contrabando de armas vindas do Paraguai – não está mostrando resultados. Os crimes em Alagoas estão aumentando e Maceió está voltando a ser violenta, algo que Renan Filho parecia ter resolvido. A ausência do Estado dá lugar ao crime organizado, e Alagoas não pode voltar ao topo do ranking dos estados mais violentos. Maceió, a capital que já foi considerada a mais violenta em 2015, retroagiu para a 9ª posição ao final do ano de 2022, e está sinalizando um retrocesso.

Outro setor que sofre com o abandono é o econômico. As despesas do Estado estão aumentando a cada ano e o Governo faz malabarismos para pagar. Alagoas é um dos poucos Estados que têm suas contas em dia com a União, isso é verdade. No entanto, é um status que pode mudar devido à falta de incentivos ao comércio e às indústrias, principais setores que geram emprego, renda e receita tributária – ressalvando que o termo “incentivo” não deve significar a abdicação dos tributos, apenas condições mais favoráveis de investimentos, dentre elas, a redução do pagamento de tributos por determinado período.

Alagoas é um estado que possui problemas antigos e que não estão nem perto de serem resolvidos. Marcelo Victor está no trono, no comando de seu reinado, e não pretende mover uma palha para resolvê-los. Cabe à população alagoana responder, nas urnas, com a indignação aos compadres que não têm a menor intenção de se retirarem do poder, muito menos de melhorar a vida do alagoano médio.