Lembranças de Zé Barros, um irmão de Jornada

03/01/2024 02h02 - Atualizado em 03/01/2024 02h02
Lembranças de Zé Barros, um irmão de Jornada

Hoje, as palavras parecem pesar mais, carregadas de uma tristeza que se estende pelas linhas e entre os silêncios. Recebi um telefonema do amigo Sávio Martins no dia primeiro, por volta do meio-dia, aquele tipo de chamada onde se espera momentos de risadas e saudosismo. Mas a voz do outro lado trouxe a notícia que jamais esperava ouvir: José Barros Correia Junior, outro amigo, irmão de alma, partiu desta vida.

A mente se apressa em voltar no tempo, para os dias luminosos da UFAL, onde conheci Zé Barros. Lá, entre os corredores e salas de aula do Bloco João de Deus, começou uma amizade que transcendia os laços comuns. Ele era mais que um colega - era um irmão de jornada. Compartilhamos mais que sonhos acadêmicos; partilhamos risadas, desafios, e aquelas pequenas alegrias que são o verdadeiro tempero da vida.

Recordo das caronas matinais com Sávio e Zé Barros pela Fernandes Lima, onde o sol ainda tímido nos encontrava rumo à universidade. As manhãs eram sempre mais leves com a presença de Zé Barros, seu humor refinado – caraterístico dele - e seu sorriso que tinha o poder de desarmar qualquer tensão. Ele tinha essa habilidade, de transformar o ordinário em algo especial.

Nas tardes de estudo na casa de Zé Barros, na Gruta de Lourdes, ele se revelava não só um mestre do Direito, mas um anfitrião nato, sempre pronto a dividir seu conhecimento e um bom lanche preparado por sua mãe. E depois, as escapadas após as aulas ao Caldinho do Vieira ou em Massagueira, e à noite na Midô e nos bares do Stela Maris, onde entre um gole e outro, a vida se desenrolava em conversas profundas e risadas sinceras.

Os anos da UFAL passaram, mas nossa amizade resistiu ao tempo e às mudanças. Júnior - como eu o chamava - seguia sendo uma bússola moral, um homem de integridade inabalável, ética viva e uma devoção à justiça que ia muito além de sua profissão. Ele era a personificação da bondade e do compromisso com o certo, mesmo quando isso significava nadar contra a corrente.

Agora, a comunidade jurídica e todos que tiveram o privilégio de cruzar seu caminho sentem a lacuna deixada por sua partida. José Barros não apenas ensinou Direito; ele ensinou como ser humano. Suas lições, seu exemplo, sua maneira de ser deixaram marcas indeléveis em todos nós.

A dor da perda se mistura com a gratidão pelo tempo compartilhado. À sua esposa Uria, seus filhos e a todos que amaram Zé Barros, estendo meu mais sincero pesar. Ele sempre terá um lugar especial em nossas memórias e corações.

Ao refletir sobre a vida de Zé Barros, não posso deixar de mencionar aqui um de seus últimos atos de gentileza e visão comigo. Na última semana de 2023, ele me trouxe uma. Com aquela mistura única de humor e sabedoria, sugeriu que esta crônica se transformasse em algo mais, algo que alcançasse as pessoas de uma forma nova e emocionante – um podcast.

Zé Barros entendia a força das palavras faladas, a intimidade de uma voz que conta histórias. Ele imaginou este espaço de crônicas se expandindo, ganhando vida nova nos ouvidos e corações de quem nos escuta. E, sempre atento aos detalhes, insistiu na necessidade de modernizar a apresentação visual de nosso projeto. Criar uma nova arte. "Precisamos de algo mais requintado", disse ele, e me enviou uma sugestão, pedindo apenas para trocar a foto que acompanhava as crônicas nas redes sociais.

Hoje, honrando esse pedido e em memória de seu legado, comprometi-me a realizar essa mudança. A arte será adotada nesta crônica quando distribuída nas redes sociais e a foto será trocada, não apenas como um símbolo de renovação, mas como uma pequena homenagem a um amigo que sempre viu além, que sempre acreditou no poder de evoluir, inovar e tocar as pessoas de maneira sempre novas.

Então, quando você ouvir a voz desta crônica ecoando em um podcast, saiba que é uma realidade trazida à lume pelo brilhantismo e pelo carinho de José Barros Correia Junior com seus amigos. Um homem que, até em seus últimos dias, pensou em como enriquecer e embelezar um trabalho de um amigo. Atenderei a este pedido com a mesma alegria e gratidão que você sempre demonstrou ao compartilhar suas ideias.

Descansar em paz, Zé Barros, parece pouco para alguém que tanto viveu. Mas, em algum lugar, espero que você esteja sorrindo, talvez comentando sobre esta crônica e com a sua arte ilustrando, com o mesmo bom humor de sempre.

Você sempre será lembrado, meu eterno amigo. E em cada lembrança, um sorriso, um ensinamento, uma luz. Até sempre.