A delicadeza e a insensatez do primeiro amor
Crônica
Apaixonar-se é uma reviravolta emocional em qualquer idade, mas quando se é jovem, os sentimentos são ainda mais difíceis de administrar. Imagine a confusão para um adolescente ao perceber que as borboletas no estômago e as mãos suadas são sinais de paixão.
Se isso já é desafiador para quem é heterossexual, imagine para um rapaz gay nos anos 70. É essa experiência que "No Caminho das Dunas" (2011), primeiro longa-metragem do belga Bavo Defurne, nos convida a vivenciar através da história de Pim.
Em uma hora e 38 minutos, o filme nos leva a reviver tudo o que experimentamos com o nosso primeiro amor: a atração sexual, o prazer mútuo, o desejo, o conhecimento e desconhecimento emocional, a consideração sensível, a amizade, a autossabotagem e a insegurança. Tudo isso é combinado em um sentimento poético de cuidado, comprometimento e completude. Esses sentimentos, assim como a importância que a pessoa teve para nós, tornam o filme único.
Quando você se apaixona, e não apenas no sentido amoroso, deseja que seu amor seja correspondido com a mesma intensidade. Espera que ele seja recíproco, incondicional e gratificante, e que alguém cuide dele, o alimente e o valorize da mesma maneira que você. Em um relacionamento ideal, duas pessoas tornam-se parceiras na vida, apoiando-se e incentivando-se mutuamente. Elas imaginam um futuro juntas, acreditando que suas vidas são mais plenas com a presença uma da outra.
Infelizmente, o jovem Pim (Jelle Florizoone) não encontra essa reciprocidade no inconstante Gino (Mathias Vergels), nem na sua mãe boêmia, Yvette (Eva Van Der Gucht), tampouco no sedutor Zolton (Thomas Coumans). Talvez ele encontre algum apoio em Sabrina (Nina Marie Kortekaas), a irmã mais nova de Gino, que secretamente é apaixonada por ele. No entanto, Pim ama Gino incondicionalmente desde sempre, e Gino está ciente disso.
Apesar de nutrir sentimentos por Pim, Gino é assombrado pela diferença de idade, que é pequena (apenas 4 anos), questiona sua masculinidade, teme comprometer a amizade que compartilham e, no fundo, age de maneira egoísta.
Essa relação me faz lembrar a abertura do soneto “Amor é fogo que arde sem se ver” do poeta Luís Vaz de Camões: “Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer.” Mas a que custo? Por que nos submetemos a isso? Sei que você pode negar, mas todos nós, em algum momento da vida, nos humilhamos por alguém, e com Pim não seria diferente.
Reconheço, mesmo que relutantemente, que às vezes, por diversos motivos, simplesmente não encontramos o parceiro certo. Em alguns momentos, não estamos no lugar certo na hora certa. Em outros, não estamos prontos para permitir que alguém entre na nossa vida, e acabamos por nos desencontrar. Depois de ter sido ferido em relacionamentos anteriores, a ideia de conhecer uma nova pessoa pode ser a última coisa que queremos.
O ponto principal é que há muitas variáveis em jogo para encontrar a pessoa com quem queremos passar o resto da vida, e pode ser que nunca encontremos tal pessoa.
Apesar de jovem, já vivi o que Pim está vivenciando. Se eu puder dar um conselho a ele, é este: nunca ignore o que realmente sente. Se você sabe o que quer e precisa em um relacionamento, não deve ignorar seus sentimentos ou se contentar apenas para manter o relacionamento ou por medo de ficar sozinho. A verdade é que, por mais que tente, não conseguirá mudar alguém que não quer mudar. Se você se sente decepcionado, frustrado e insatisfeito porque ama alguém mais do que é amado, não ignore esses sentimentos. Você merece um relacionamento que te preencha de verdade.
Pim provavelmente entendeu isso, e mesmo que ainda não tenha, ele tem tempo para aprender. Afinal, ele tem 17 anos, e Gino não será seu último amor.
A lição final é a seguinte, e espero que ele a tenha aprendido: amar é arriscado (mas vale a pena arriscar), pois a pessoa que mais amamos pode nos magoar profundamente. O amor que parece eterno nem sempre dura para sempre, e não podemos medir o amor de outra pessoa por nós com base no nosso amor por ela.
E, por fim, embora possa parecer clichê, precisamos nos amar primeiro para poder amar verdadeiramente o outro.