Gusttavo Lima? Chora não, bebê!

03/01/2025 02h02 - Atualizado em 03/01/2025 02h02
Gusttavo Lima? Chora não, bebê!

Se o Brasil é o país do "improvável", a última novidade soa como um grito agudo de uma viola desafinada: Gusttavo Lima, o "embaixador" do sertanejo, sugere sua candidatura à Presidência da República. Antes de entrarmos no mérito — ou na falta dele — é preciso ajustar o tom da conversa. Estamos falando de um cantor que coleciona polêmicas como uma playlist de sucessos e, ainda assim, se propõe a liderança de uma nação.

A ideia soa como roteiro de comédia pastelão, mas, na nossa tragédia nacional, é só mais um capítulo. Como diria Ronald Golias, “a humanidade não está se portando muito bem”. O Brasil, que já deu protagonismo a políticas folclóricas e figuras caricatas, agora flerta com a possibilidade de entregar as rédeas do país a alguém cujo maior destaque são músicas de gosto duvidoso.


Um palco que virou palanque


É importante destacar o histórico do cantor, que se destaca menos pela melodia e mais pelos milhões de reais arrancados de pequenos cofres municipais para shows superfaturados. Enquanto os prefeitos justificam contratos como “promoção cultural”, as cidades se descuidavam de saneamento e educação de qualidade e viam o dinheiro público transformar praças vazias em verdadeiros circos sertanejos.

Agora, Gusttavo Lima quer ampliar seu palco, trocando o microfone por discursos no local eleitoral. Será que, no lugar de propostas políticas, ele vai apresentar letras desconexas como as de suas músicas? Talvez sua plataforma de governo venha embalada em refrões "chicletes" que dizem muito pouco e custam muito caro.

O fundo do poço tem trilha sonora


Jornalistas como Tales Faria já soaram o alarme, classificando a possível candidatura como o "fundo do poço" para o Brasil. Não é difícil entender o pessimismo. Em tempos de crise de liderança, precisamos de estadistas, não de figuras midiáticas que confundem aplausos de fãs com legitimidade política.

Mas o fundo do poço foi redecorado com frequência no cenário eleitoral brasileiro. Se já tivemos o "fenômeno" Pablo Marçal, porque não Gusttavo Lima? Parece que estamos destinados a assistir a uma competição de popularidade que confunde carisma com competência, enquanto os problemas reais do país tocam um triste "modão" de fundo.

O preço de votar no entretenimento


E quando a realidade bater à porta, como sempre bate, os mesmos participantes desiludidos com o país lamentarão seu "voto errado". O jargão do novo presidente, poderá lembrar o jargão de outro colega de categoria musical, o Pablo: "chora não, bebê!".

Uma frase que, entre piadas e lágrimas, resume uma falta de seriedade que permeia boa parte de nossas escolhas políticas.

Enquanto isso, o Brasil segue sendo o país onde o absurdo não é apenas possível, mas cotidiano. A história de Gusttavo Lima, possível candidato a presidente, não é apenas uma piada mal contada. É um retrato de um país onde a política virou espetáculo e os espetáculos são pagos com o suor de quem ainda acredita que esse show precisa acabar.


A próxima parada

Será que vamos permitir que a próxima eleição se transforme em um reality show com trilha sonora duvidosa? O palco está montado, mas é hora de decidir se queremos manter um líder, trocá-lo por outro líder ou eleger apenas mais um artista em busca de aplausos. Afinal, como bem sabemos, quando o espetáculo é ruim, quem chora no final é o público.