
Jogaram o ex-imperador na arena dos leões

Ainda convalescendo de um problema ortopédico, teimei em escrever esta crônica sobre esse grave problema que deixa o cidadão de Palmeira dos Índios acuado e sem esperanças: a falta de água nas torneiras, mesmo tendo barragens gigantescas para minimizar a sede de quem precisa do líquido precioso.
Em Palmeira dos Índios, a crise do desabastecimento de água segue castigando o povo enquanto as ruas destroçadas pela Águas do Sertão se transformam em um cenário desolador. Mas, curiosamente, na noite passada, a Câmara de Vereadores tentou, em um ato teatral, empurrar a culpa para outro lado. O presidente da Casa, que agora se coloca como defensor dos interesses populares, fez questão de lembrar que o ex-prefeito Júlio César assinou sozinho a concessão da água. Sozinho? De fato, é o que ele afirma. E no seu discurso, entregou o ouro: disse que o ex-prefeito entregou pronto o contrato assinado com o ex-governador Renan Filho, sem passar pelo crivo da Câmara.
Interessante. Porque essa mesma Câmara foi consultada e aprovou, sem pestanejar, a permuta de um terreno federal, avaliado em um milhão de reais, com suspeitas de favorecimento. Mas para a concessão da água — um contrato de R$ 103 milhões por 40 anos —, a Casa Legislativa silenciou. Um silêncio ensurdecedor. E a legislatura passada, composta pelo presidente e muitos dos atuais vereadores, foi, no mínimo, conivente.
Enquanto a sessão fervia de acusações e tentativas de desviar o foco, a prefeita Luisa Duarte, tia e sucessora do ex-prefeito, estava ausente. Em um dos momentos mais críticos da história recente do município, ela mandou prepostos sem autonomia para dar respostas concretas. Não estava lá para responder sobre o contrato assinado pelo sobrinho, nem para explicar por que até hoje não houve prestação de contas do montante milionário. Pior: estava ausente enquanto o Ministério Público assistia a tudo.
E a presença do representante do MP foi um ponto alto. Ele deixou claro que, agora, o órgão vai responsabilizar cível e criminalmente os supostos acusados, se houver.
Mas o crime contra o patrimônio público foi evidenciado pelo presidente da Câmara que jogou o imperador aos leões. E os responsáveis, direta ou indiretamente, não poderão alegar desconhecimento. Porque todos viram o que foi dito. E a imprensa livre de Palmeira dos Índios também viu e destacará.
Nos próximos dias, essa imprensa e os cidadãos livre vão começar a cobrar. Do presidente da Câmara, que agora tenta se descolar do escândalo. Da prefeita, que mantém o silêncio estratégico. Do Ministério Público através de uma notícia de fato. Dos vereadores que estavam lá e assistiram de camarote à entrega de um dos bens mais preciosos do município: a água. Porque, na terra do "confeitol", onde o poder parece um doce para alguns, a verdade amarra a garganta como um espinho amargo.
Palmeira dos Índios merece respeito. E os cidadãos, que assistem a essa trama de poder e omissão, também. É hora de colocar contra a parede aqueles que insistem em fazer da política um balcão de negócios. Porque o povo tem sede de respostas. E a imprensa livre está pronta para cobrá-las.