Geral
Pesquisadores da Ufal desenvolvem software para planejamento cirúrgico
O Brazilian Study Group of Artificial Intelligence and Corneal Analysis (BrAIn) é um grupo de estudos formado por pesquisadores do Instituto de Computação (IC) da Universidade Federal de Alagoas e clínicas oftalmológicas do Brasil. A equipe desenvolve software útil para planejamento cirúrgico, cujas propriedades servem de suporte para que os médicos detectem predisposições de risco entre seus pacientes. O possível desenvolvimento de doenças na córnea, por exemplo, pode ser observado antes que os indivíduos sejam submetidos a cirurgias que agravem sua situação ocular.
Entre os fundadores do projeto estão os médicos João Marcelo Lyra e Renato Ambrósio Jr, e o professor Aydano Pamponet Machado, do Instituto de Computação da Ufal. Com um ano e sete meses de criação, o grupo já é responsável pelo desenvolvimento do sistema mais atual utilizado em exames clínicos pré-operatórios de córnea. O principal foco das pesquisas é a cirurgia refrativa, já que os casos mais frequentes nas clínicas oftalmológicas são procedimentos para a correção da miopia e da córnea. Com essa perspectiva, o grupo realiza estudos relacionados a dois exames: o biomecânico e a tomografia.
O grupo otimiza equipamentos utilizados para essas análises e apresenta avanços na detecção de doenças como a ceratocone enfermidade degenerativa do olho, na qual a córnea apresenta protuberância em forma de cone e afinamento, cujas consequências são distorção da visão e, até mesmo, transplante da córnea. A função do software é evitar complicações cirúrgicas, como pode acontecer em pacientes com essa predisposição. Em casos de cirurgias corretivas, parte exterior da córnea é retirada e há o afinamento de tal estrutura da visão.
Segundo o professor Aydano Machado, análises posteriores ao processo de potencialização dos equipamentos apresentam significativas informações de auxílio ao trabalho médico. Para o aparelho biomecânico, foi desenvolvido um sistema novo, responsável pela coleta de dados e pela combinação deles. Isso permite melhor previsibilidade de informações, que indicam se a cirurgia será bem sucedida e qual tipo de procedimento é mais indicado, destacou.
Já o exame de tomografia tinha sido estudado pelo médico Renato Ambrósio, integrante do BrAIn, antes de o grupo iniciar suas atividades. Os parâmetros desenvolvidos por ele sofreram transformações e foram aperfeiçoados pelo BrAIn, por meio da utilização de computação e de técnicas de inteligência artificial.
Os dados obtidos pelos dois aparelhos clínicos, após a presença do software desenvolvido pelo grupo brasileiro apresentam margens de acerto que revelam a eficiência e a contribuição que esses exames oferecem à medicina. De acordo com Machado, o aparelho biomecânico saltou de 70% de aproveitamento para 80%. Já o tomógrafo, de 92% para 98%. Houve, realmente, uma melhora. O primeiro resultado que nós tivemos já está incluído na nova versão do sistema do tomógrafo Pentacam [tomografia do segmento anterior do olho e importante exame pré-operatório em cirurgia refrativa], da empresa Oculus, salientou.
Relevância computacional
Com base nos dados extraídos pelo exame biomecânico e pela tomografia, os pesquisadores realizam a correlação entre as informações para que sejam estabelecidos os parâmetros para os olhos considerados normais e os que possuem alterações. Sem o uso do computador, as análises são feitas de acordo com a observação e a experiência do médico, que faz combinações e cálculos de médias aritméticas para indicar a situação ocular de seus pacientes.
Já com o processo computacional, a análise é bem diferente. A utilização de computadores permite cálculos rápidos, capazes de detectar e avaliar todas as informações obtidas. Assim, o exame não fica limitado aos aspectos identificados pelos profissionais, que não conseguem analisar números elevados de características. Nós selecionamos os parâmetros mais relevantes e fazemos as combinações entre eles. Em seguida, armazenamos esse material no computador. Dessa forma, ele processa todos os dados com a finalidade de encontrar relações que apontem se os olhos são normais ou doentes. Tudo isso é feito por meio de correlações automáticas, disse Aydano Machado.
Nessa dinâmica, o BrAIn encontra combinações sofisticadas e complexas. O grupo busca especificações oculares em locais que, normalmente, não são observados e oferece importantes resultados de auxílio às decisões médicas. Machado, inclusive, informa que os fatores identificados pelo software não devem ser considerados isoladamente. A decisão para qualquer procedimento no corpo do paciente é sempre do médico. O software é apenas uma ferramenta de suporte ao profissional, enfatizou.
Novas perspectivas
Entre os dias 20 e 24 de abril, o projeto é apresentado para a comunidade científica no congresso da American Society of Cataract and Refractive Surgery (ASCRS), em Chicago. Enquanto isso, os pesquisadores continuam com suas atividades e já estão em fase de desenvolvimento de aparelhos com maiores potenciais.
Atualmente, o BrAIn também possui parceria com outras universidades e com profissionais de diferentes áreas, como Física e Biologia. Esses novos segmentos da equipe permitem a produção de hardware e estudo de células e genética.
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