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Real avança como moeda do comércio globalizado

25/06/2012

Ao completar a maioridade, tendo no currículo a façanha de superar a inflação e impulsionar a economia nos últimos 18 anos, o real aos poucos alça voo internacional. A moeda brasileira pleiteia agora a entrada na lista das unidades de valor nacionais da cesta monetária do Fundo Monetário Internacional (FMI), conhecida como Direitos Especiais de Saque (SDR, na sigla em inglês).

O País negocia no âmbito dos Brics (grupo integrado também por Rússia, Índia, China e África do Sul) e do G-20 (as maiores economias) a abertura da SDR a moedas emergentes para substituir o dólar na condição de papel de pagamento universal comercial globalizado.

Nesse sentido, o país deu dois passos consistentes na semana. Firmou um acordo com a China eliminando a necessidade de contratação de swap (permuta de crédito) nas transações de bilaterais até R$ 60 bilhões, que na prática retira o dólar do caminho do comércio entre chineses e brasileiros, valendo apenas o yuan e o real como moedas de troca. O segundo passo foi o socorro de US$ 10 bilhões concedidos ao FMI , o segundo neste valor em menos de dois anos.

As ações dão fôlego à proposta feita pelo ministro Guido Mantega (Fazenda) em novembro de 2010. Na ocasião, durante a reunião do G-20, grupo formado pelas maiores economia do globo, Mantega aproveitou os holofotes do anúncio do primeiro empréstimo bilionário para sugerir o uso da SDR como moeda internacional. A ideia soou um tanto ousada: retirar do dólar o poder de intermediar o comércio mundial.

Perda de valor

A crise nos países desenvolvidos, com a moeda americana perdendo valor em meio à liquidez incentivada pelo governo Obama para impulsionar o consumo e os solavancos financeiros da Europa, é vista como positiva para o real e o yuan entrarem na SDR. A justificativa é de moeda brasileira está fortalecida pela resistência à crise internacional e a chinesa pelo fôlego de sua economia. Assim, podem reforçar o sistema global de pagamentos.

A proposta começa a soar como possível num momento no qual o Euro balança sem conseguir tirar a Europa da turbulência em seu sistema bancário e o dólar patina junto com o fraco desempenho da economia americana.

Resta saber se o Brasil terá força até 2015 para mudar o critério de moedas “livremente utilizáveis” definido pelo FMI em 2000, em ação apontada como decidida pelas atuais moedas de referência para não para barrar os emergentes e não perder influência no mercado global.

Ajuda dos hermanos

A chave para entrar na SDR, contudo, pode estar nos critérios “amplamente utilizada” e “amplamente negociada”, adotados pelo FMI no final do ano passado. É neste ponto que o Mercosul pode ajudar o real.

A liberação para transações com moeda local dentro do bloco econômico, formalizado no final de 2008, pode elevar a classificação de “negociada” e “utilizada” do real fora das fronteiras nacionais. Restrito ainda a Brasil e Argentina, o fluxo livre de pagamento em reais pode render créditos para a moeda brasileira alegar capacidade de circulação internacional ao FMI.

O governo brasileiro já tem, inclusive, a conta da evolução do emprego do real no território argentino. Segundo o Banco Central, as transações em reais atingiram 4.973 operações em 2011. Volume superior às 3.410 do ano anterior e quatro vezes maior que as 1.193 de 2009. Em dinheiro, as transações somaram R$ 1,64 bilhão no ano passado, contra R$ 1,26 bilhão em 2010 e R$ 453,5 milhões, em 2009.

O crescimento do uso de moeda própria no comércio exterior para pagamento em outros países ganhar novos contornos a partir do acordo firmado com a China. Por meio dele, o Brasil se aproxima de Pequim, mostrando afinamento diplomático e comercial ao FMI. E sinaliza ao fundo que o argumento aceito em 2000 para introduzir o euro na SDR, de que França e Alemanha são a musculatura econômica para segurar o bloco, vale para o real e o yuan: fortes separadamente e unidas comercialmente.