Geral

Cinco Semanas

02/07/2012
Agnaldo teve educação formal e rígida, família evangélica. Professor por talento e vocação, dedica sua vida ao magistério, ensina em colégios e faculdades. É o decano, o professor mais velho, da Universidade, seus sessenta e alguns anos, seus cabelos brancos, dão-lhe um ar respeitável, como gosta em tê-lo.
Durante todo tempo de militância no ensino, Agnaldo jamais aceitou as prevaricações de seus colegas, sempre crítico às aventuras de professor com alunas, como o colega Edmundo viciado a enxerimentos, conquistas e casos com suas pupilas. O sem-vergonha é repreendido por Agnaldo quando conta casos com jovens alunas.
Mas o demônio aparece sem a gente perceber, sem a gente saber de que forma, muitas vezes ele aparece de mulher bonita. O capeta é treloso, sabe das fraquezas humanas. Para testar o nosso emérito e puro professor, o satanás incorporou-se em Eurídice, aluna bonita, cabelos pretos, longos, olhos grandes, amendoados, sobrancelhas cerradas, pele morena, cor de melaço de cana caiana, uma perdição, como diz Edmundo.
Final do ano passado, perto da formatura da turma, Agnaldo notou estranho comportamento em Eurídice, relaxou nos estudos, todo dia passou a tirar dúvidas com o professor. Agnaldo se prontificava, entretanto, se sentia constrangido com a presença da Deusa no final da aula. Ele ficava excitado quando a aluna se achegava mais perto vestindo mini-saia, exibindo pernas, uma borboleta colorida tatuada no calcanhar esquerdo. Aquela tatuagem deixava Agnaldo quase afônico, gaguejava nas explicações. O diabinho percebeu a fraqueza do professor, resolveu diariamente sentar-se na primeira fila. Durante a aula, Eurídice abria as pernas com classe e sensualidade. Agnaldo percebeu, ela mostrava a calcinha apenas para ele.
A aluna não saía de sua cabeça, sonhava com as pernas e a calcinha branca. E a tatuagem? Em suas fantasias a chamava de “Papillon”.
Certa vez, após as aulas, a jovem pediu para tirar uma dúvida. O professor esperou os alunos saírem, ela sentou-se, ele foi taxativo:
“Eurídice, você sempre foi uma moça comportada, discreta; de um tempo para cá tenho notado mudança em seu comportamento, principalmente seus vestidos, suas mini-saias. Quero pedir dois favores: que assista às minhas aulas com vestido mais composto e que se sente nas últimas bancas.”
Falou rápido com certo nervosismo esperando alguma resposta da aluna, contudo, ficou sem ação, nocauteado, ao ver Eurídice levantar-se, caminhar até a porta da sala de aula, trancá-la com chave, retornar sorrindo, abriu o zíper da mini-saia, deixou-a cair. Agnaldo não resistiu quando a moça o abraçou, deitaram-se por trás do bureau. Fizeram amor como dois animais, ali na sagrada sala de aulas.
Ao terminar ele sentiu-se culpado, vexado. A aluna cochichou em seu ouvido: “Quero mais amanhã, sei que você não trabalha à tarde, lhe espero na praia da Pajuçara, em frente ao Memorial Teotônio Vilela às três horas”.
Ele emudeceu olhando Eurídice se afastar, abrir a porta, e desaparecer. O comportado professor passou o resto do dia e a noite pensando naquele pecado. Quando o diabo atenta, difícil enjeitar. Na tarde seguinte, junto ao Memorial, estava Eurídice mais bela que nunca. Levou-a ao motel, ficou louco com as invencionices da “Papillon” na cama.
A aventura durou cinco semanas, achavam uma maneira de se amarem. Até que certo dia Agnaldo ficou surpreso, Eurídice, com roupa composta, entrou na sala, mal cumprimentou o professor. Assim continuou até o final do curso.
Em momento propício, Agnaldo tomou coragem, pediu um particular, perguntou o motivo daquele distanciamento, ele estava louco de paixão, querendo amor. Ela respondeu com tranquilidade, sem algum remorso:
-“Não me leve a mal, eu desejava experimentar o amor de um coroa. Posso dizer, gostei e ponto final. Vou me casar em fevereiro professor, precisava dessa experiência, meu futuro marido é jovem, bonito, rico, mas, eu queria um coroa, acho, escolhi bem, agradeço os experientes carinhos. Seus gritos, suas mãos, seus lábios, marcaram meu corpo, momentos deliciosos, inesquecíveis, entretanto, pretendo ser fiel a meu marido, não vou repetir. Obrigada, professor.”
No dia da formatura Agnaldo recebeu um formal aperto de mão e um piscar de olho maroto de Eurídice, cumplicidade de cinco semanas de amor selvagem.