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Tancredo Neves
O Brasil homenageou a memória de um dos maiores vultos de nossa história, no dia 21 de abril, pelos vinte anos de falecimento do Presidente Tancredo Neves.
Vivi, de perto, aqueles acontecimentos. Guilherme Palmeira e eu tivemos uma audiência com o Presidente José Sarney, naquela fase de sua interinidade, quando fomos inteirados de que Doutor Tancredo já se encontrava com falência múltipla dos órgãos e, em conseqüência, biologicamente morto. Dois ou três dias depois, era anunciado o óbito.
Um mês antes, o impacto da notícia me deixara atônito. Ela chegou, ainda, em caráter confidencial. Os governadores estavam sendo avisados de que o presidente eleito teria que se submeter a uma intervenção cirúrgica, às pressas, na véspera da posse, e que, fatalmente, surgiriam inquietações políticas e populares. Precisávamos estar atentos à ordem pública. Autorizo, sigilosamente, que a Polícia Militar fique de prontidão e viajo a Brasília, palco do drama, que nenhum ficcionista, por mais imaginoso que fosse, seria capaz de conceber.
Defensores de diversas correntes políticas levantam teses jurídicas estranhas à posse do Vice-Presidente José Sarney. As cassandras não lograram êxito. O bom senso predomina. O Brasil não aceitava entrar em aventuras. A Nação estava amadurecida à consolidação do processo democrático.
O calvário de Tancredo Neves durara quase 40 dias. Ele sofria nos leitos hospitalares. Foi o tempo necessário à aceitação plena do Presidente Sarney que soube conquistar o respeito e a admiração do país pela dignidade com que se comportou, naquele período doloroso da vida nacional.
Fomos eleitos, juntos, governadores, de Minas Gerais e Alagoas, em novembro de 1982. Ele já era um personagem da História. Percorrera todos os caminhos da política. Vereador em São João Del-Rei, deputado estadual, deputado federal, em várias legislaturas, ministro de Estado, no governo Vargas, Primeiro-Ministro, no Parlamentarismo, Governo João Goulart, Senador da República.
Encontrávamo-nos constantemente nos mais diversos pontos do país. Era visível que tinha um objetivo maior a atingir. Das onze reuniões do Conselho Deliberativo da Sudene, acontecidas durante os meses iniciais do período em que governou Minas, compareceu a nove, inclusive, participando daquelas realizadas no interior do Nordeste, como Parnaíba, no Piauí e Paulo Afonso, na Bahia.
O Brasil volta a viver as emoções de uma sucessão presidencial. Ambições desenfreadas, ausência de noções do limite, vaidade e egoísmo em homens com poder de mando, provocam desencontros que esfacelam o maior sistema de forças políticas da Nação.
O diálogo se impõe. Busca-se aquele que seria o grande interlocutor. Na reunião do colegiado da Sudene, em Recife, na sexta-feira, 27 de abril de 1984, na qualidade de primeiro orador inscrito, destaco as virtudes de estadista de Tancredo Neves e o apresento como a confluência dos diversos segmentos da sociedade brasileira. Os governadores nordestinos endossam as minhas palavras. O eco, através da imprensa, em todo o Brasil, foi enorme. Dias depois, os governadores do PMDB, reunidos em São Paulo, lançam o seu nome como candidato a presidente da República. Fiel ao seu estilo, nem diz sim, nem diz não. Aguarda os acontecimentos. Os acontecimentos o conduziriam à vitória. Alagoas, em termos proporcionais, foi o Estado que lhe deu maior número de votos. Dos 17 eleitores, 14 votaram nele. Os seis delegados da Assembléia Legislativa, acompanharam o meu candidato.
A sua candidatura extrapolou os limites partidários, as lutas de classes e raciais, as ideologias, os conflitos religiosos. Foi a transição de um Estado Revolucionário para um Estado de Direito sem traumas e violências. A Nação, em torno dele, encontrou-se.
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