Há décadas que o rio São Francisco já não é mais o rio caudaloso que servia de local de passagem para grandes embarcações de passageiros e para o sustento da região do Baixo São Francisco, na região de Sergipe e Alagoas. Antes se via a vazão caudalosa em correntezas, mostrando a força das águas do Velho Chico. Hoje bancos de areia tomam conta de várias partes do seu leito, e cada vez mais a margem fica mais longa. Espécies nativas como o camarão pitu, os peixes surubim e o piau já não são mais vistos e outras espécies de água salgada começam a aparecer na região, mudado todo o ecossistema.
Conforme o professor e pesquisador da Universidade Federal de Sergipe, Antenor de Oliveira Aguiar Neto, a situação é crítica já que há uma soma de problemas acumulados por décadas, entre eles: construção de nove grandes barragens desde Três Marias (MG) a Xingó (AL/SE); geração de energia; desmatamento; erosão; assoreamento; esgotos industriais e lixos domésticos.
Antenor Aguiar explica que em 2013 a situação se complicou ainda mais após, três vezes consecutivas, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aceitar a vazão do rio para menos de 1.300 metros cúbicos por segundo. “O acerto era 1.377, no mínimo. Mesmo assim conseguiram a licença do Ibama e da Agência das Águas para abaixo de 1.300 a 1.100. Agrava ainda mais e inviabiliza a navegação, a irrigação e o consumo humano”, afirmou.
Ele apontou que o Brasil já usufrui muito das benesses do rio e agora é hora de parar, refletir e mudar os rumos do rio.

Mobilização
Por conta da problemática, neste domingo próximo (06), a cidade de Neópolis promete uma grande mobilização, enquanto o município celebrará a festa de Bom Jesus dos Navegantes. A mobilização intitulada “Funeral do Rio São Francisco” irá acontecer paralelo a procissão católica e reunirá ambientalistas e ribeirinhos.
Para Gamal Alves Lima, um dos organizadores, a mobilização é fruto da iniciativa popular, que entende que se o rio continuar como está, daqui a algum tempo a fome assolará a região, por não ter de onde retirar o sustento. “Tem piorado a cada dia. Aparecem bancos de areia e a margem tem ficado cada vez mais longa. O rio está ficando inviável”, afirmou.
Como a festa de Bom Jesus dos Navegantes é tradição em cidades ribeirinhas de Sergipe e Alagoas, Gamal Alves Lima explica que a população aproveitará a chegada dos visitantes e de políticos para expor o problema através de cartazes, frases, faixas, em um cortejo fúnebre logo atrás da procissão católica que celebrará o santo.
Quem tiver a oportunidade de ir a festa em Penedo, vai sentir a situação do rio são Francisco. É uma bela oportunidade para a classe política que em massa estará prestigiando a festa de Bom Jesus dos Navegantes em Penedo.
Nas cidades ribeirinhas de Sergipe já começaram os protestos. E agora vamos aguardar no lado de Alagoas. Por certo, o presidente do Senado, Renan Calheiros estará em Penedo e poderá constatar o agravamento do Velho Chico.
Na década de setenta, o promotor público Silvio Menezes, já aposentado fez um movimento, inclusive para mostrar a queda de produção do arroz e foi alvo, inclusive de um debate no cinema de Penedo com o ministro do Interior, Rangel Reis que chegou a ser vaiado pela comunidade no auditório do velho cinema de Penedo.