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Carrasco Simpático
Na década de 80, a TV Manchete surgiu como uma esperança de aperfeiçoamento da programação desta que é a mídia mais popular dos nossos tempos. Suas telenovelas fizeram época, como aconteceu com Xica da Silva, escrita por um jovem autor, Walcyr Carrasco. Foi então que o conheci, embora em encontros fugazes. Mais tarde, já na TV Globo, ele emplacou um sucesso atrás do outro, como O Cravo e a Rosa, Alma Gêmea, Chocolate com Pimenta e Caras e Bocas, até chegar à insuperável Amor à Vida. Estreitamos nossas relações e ganhei seguramente um bom amigo. Hoje, nas nossas conversas, assunto não falta, em especial depois que ele entrou merecidamente para a Academia Paulista de Letras. Somo acadêmicos, com muita honra.
Por isso mesmo, não é de se estranhar que Walcyr Carrasco tenha tido a feliz iniciativa de homenagear a literatura brasileira, no seu último trabalho. É comum os principais atores e atrizes iniciarem determinado quadro com um livro nas mãos, fazendo sempre referência aos mesmos: “Estou relendo alguns poemas de Fernando Pessoa, nesse livro de Cleonice Berardinelli” – diz a consagrada Natália Timberg, despertando o interesse de milhões de espectadores sobre a obra referida. E assim são lembrados Nélida Piñon, Zuenir Ventura, Eduardo Portella, Antonio Carlos Secchin, Ivan Junqueira, Carlos Nejar, Ana Maria Machado, Fernanda Torres, Marcos Vilaça e tantos outros autores, membros ou não da Academia Brasileira de Letras, mas de obras consistentes em nosso panorama literário.
Qual a importância dessa verdadeira campanha, que se deve ao simpático Walcyr Carrasco e à direção da TV Globo? Não conheço outra forma tão consistente de divulgação dos nossos livros. Essas pitadas despertam a curiosidade de milhões de pessoas, espalhadas em todo território brasileiro, que de outra maneira talvez não tivessem conhecimento da sua existência. São verdadeiros torpedos promocionais, como pude registrar ao ter um dos meus livros citados pelo extraordinário ator Matheus Solano. O Ibope de 40 pontos significa mais de 35 milhões de espectadores. De que outra forma se chegaria a tamanho público?
Os resultados poderiam ser mais expressivos se as editoras estivessem preparadas para esses “sustos “ ou se tivéssemos uma rede razoável de livrarias em nosso país, o que não é o caso. Mas, de toda forma, é uma divulgação inédita e necessária, que cria uma inteligente parceria entre a mídia impressa e a mídia eletrônica, quando muita gente boa acha que uma acabaria com a outra. Ao contrário, elas se ajudam – e isso é saudável para a nossa cultura.
Nesta singela homenagem a Walcyr Carrasco, não se pode deixar de lembrar a sua condição de notável romancista, dramaturgo e autor consagrado de uma série de livros infanto-juvenis, entre os quais bem sucedidas adaptações de Júlio Verne e Victor Hugo. Suas obras receberam o selo de altamente recomendáveis da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.
Nada disso tira de Walcyr a sua simplicidade de sonhador e a condição ímpar de um bom papo. Tem amor à Bíblia e, por ela inspirado, visitou o Estado de Israel, onde foi premiado. Aliás, citando prêmios, o seu trabalho Amor à Vida bateu todos os recordes de premiação da TV Globo, até hoje. Ele merece.
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