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Adeus Olga, adeus querida irmã
Com a alma dilacerada pela dor e sem mais lágrimas para banhar minha face vi, no dia 13 do corrente, minha irmã Olga de Vasconcelos Acioli, ser chamada pelo ETERNO. Novamente, a medicina e nossas orações não foram suficientes para evitar que ela fosse coberta pelo sombrio véu da morte.
Durante seu sepultamento não ouvi os sinos dobrarem anunciando sua última viagem e informando que sua vida continuaria noutro plano. Vi, sim, a extensão e a profundidade do pranto, da dor e do sofrimento de quem a amava.
Olga, como todos nós, era um instrumento de Deus. Um instrumento que levava claridade a escuridão, luz aos espíritos sombrios, esperança aos desesperados, alegria aos tristes, fé aos descrentes, crença aos ateus e paz a quem se digladiava.
Era considerada a “irmã-ligação”, uma vez que se sentia mal, muito mal, com a dispersão, quando algum problema estava ocorrendo e ela, com seu entusiasmo e puder de persuasão, por um ou outro motivo, não podia resolver e, finalmente, quando não conseguia fazer com que todos vissem uma luz no fim do túnel. Não era de seu condão incomodar ninguém e, muito menos, utilizar golpes baixos.
Era, também, a “irmã-alegria-preocupação”, pois quando chegava de Brasília ou de Salvador, seu objetivo principal era, em clima de festa e não mórbido, reunir todos os irmãos para conversar e saber o que estava ocorrendo ou afligindo cada um e propor uma solução para resolver o problema. O mais interessante e impressionante é que ela nunca ouviu falar nas palavras NAMASTÊ ou UBUNTUN e, no entanto, quem a conheceu sabe que sua vida nada mais foi do que a prática do significado destas palavras.
Depois da alegria, o que mais caracterizava Olga era o entusiasmo. Seu nome devia ter sido “Olga-entusiasta”, pois a menor idéia ou o menor projeto, desde que não fosse para atingir moralmente e prejudicar materialmente quem que seja, que lhe fosse apresentado, ela já se colocava na linha de frente disposta a tudo: vencer ou ser derrotada e ganhar ou perder. Chego a acreditar que se Olga vivesse na época em que os cristãos eram perseguidos, ela seria o alvo número um do Império Romano; se na época dos mártires, ela seria a primeira; se na época das Cruzadas, estaria entre as mais fervorosas pregadoras da revitalização dos locais sagrados e, alfim, se quando Joana D’Arc lutou pela França, com certeza ela estaria ao seu lado até na fogueira.
A questão é que Olga morreu. O que a matou foi tão rápido e devastador que fico a me perguntar se por trás do Véu da Morte que a vitimou não encontraríamos o “Exterminador” (Ex 12, 23), Abaddon e Apollyon (Ap 9,11) e não só o quarto Cavaleiro do Apocalipse (Ap 6, 7-8), mas todos eles juntos (Ap 6 1-8).
A morte é a pior das exclusões, pois nos priva definitivamente da presença de nossos entes queridos, de nossos familiares. Suportar perdê-los exige que tenhamos um espírito de resignação gigantesco.
Sei que o Todo Poderoso não nos deu outra escolha a não ser a de nascermos para morrermos. Não importa se isto significa dizer que este belo planeta chamado Terra, na realidade, não passa de um gigantesco cemitério. Também não importa o desespero, a dor, a insegurança, a falta de esperança e o sofrimento que o desaparecimento de um familiar possa causar. O Seu desejo é o nosso destino. Isto é tudo. Assunto encerrado.
Ao tomarmos conhecimento do falecimento de alguém que, por conhecermos de perto, sabemos possuir, em abundância, atributos positivos, nossa reação é de perplexidade, inconformismo, saudade e até mesmo, revolta.
Confesso que após ser informado da morte de Olga, todos estes sentimentos – principalmente o último – de imediato, apossaram-se de mim. Perplexidade devido à rapidez com que se processou a sua partida; inconformismo porque sei que a família perdeu mais um importante membro; saudade, pois além de jamais conseguirmos preencher o imenso vazio deixado por sua partida, nunca apagaremos de nossa memória a lembrança de alguém que era diferente, que possuía qualidades que considero insubstituíveis: ao mesmo tempo em que possuía elegância, fidalguia e nobreza, sua simplicidade e arte de lidar com os menos favorecidos tornaram-na uma doutora em relações humanas e revolta porque sem nos pedir permissão arrancaram de nosso meio uma pessoa cuja presença era imprescindível em todos os sentidos.
Nossa família vem, paulatinamente, sendo desfalcada pela morte. Sinto que estão nos levando. Que a fila está andando. Que estamos indo para nunca mais voltar. Não estou aqui querendo entender a mente do Eterno porque sei que ela é inatingível. Muito menos questionando as atitudes da Divindade Suprema. Longe de mim esta idéia! Deus é bondade, é misericórdia, é amor. Acredito, no entanto, que se Ele está nos chamando é porque precisa de nós. Ou melhor, precisa de todos, sejam de onde forem, que em iguais condições, tenham sido chamados.
Minha irmã partiu. Não, para uma viagem por este mundo, mas para outro mundo. O que pode aliviar um pouco a dor é saber que ela, com certeza, encontra-se num mundo melhor, onde a vida não se conta em horas, dias, semanas, meses ou anos, porque as leis a que ele obedece são as da Criação e não as da Evolução; um mundo sem miséria, pobreza, doença, maldade, dor, sofrimento, humilhação, amargura, etc., porque todos a tudo têm direito; um mundo onde a única autoridade é DEUS.
Por maior que seja a dor não devemos esquecer o que nos ensinou o Meigo Nazareno em Mt 10,38-39: “Aquele que não toma a sua cruz e me segue não é digno de mim. Aquele que acha a sua vida, vai perdê-la, mas quem perde a sua vida por causa de mim, vai achá-la”.
Olga era religiosa e carregou sua cruz que, diga-se, era pesadíssima. Perdeu, é verdade, sua vida aqui na terra, mas está viva no Céu.
A você que está nos braços de Deus, peço não deixe de cuidar dos que ainda não estão.
Alfim, querida irmã, se é verdade que existe vida após a morte, tens que recordar que continuamos a te amar.
Do irmão,
Aloisio Vilela de Vasconcelos
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