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Petrônio Portela

13/02/2014
Petrônio Portela

O avião levanta vôo do Aeroporto de Salvador em direção a Brasília. Estamos numa tarde de sábado, de quatro de maio de 1974. A maioria dos passageiros é de parlamentares nordestinos. Os chefes dos Poderes do Estado alagoano, Governador Afrânio Lages e o Desembargador Barreto Acioly viajam à capital do País, para participarem da solenidade de hasteamento da Bandeira que, naquele mês, estava sob o patrocínio de Alagoas. Presidindo a Assembléia Legislativa, fui convidado para participar do evento. O Presidente do Senado da República e do Partido majoritário, no Congresso Nacional, Petrônio Portela embarcara em Aracaju. Estivera, naquela semana, na Bahia, em Maceió e em Sergipe. Ouvira os líderes, das bases, da ARENA, a fim de apresentar relatório ao Presidente Geisel, sobre o processo sucessório dos Governos Estaduais.
O Boeing completa a manobra de decolagem. Petrônio Portela convida o Senador Teotônio Vilela para sentar-se ao seu lado. Daí a instantes, recebo um recado, por intermédio do seu Assessor Moisés, que ele gostaria de falar comigo, às onze horas, da próxima segunda-feira.
Deputados Federais sergipanos e baianos, sabendo-me um dos postulantes ao Governo do meu Estado, vêm conversar comigo sobre as minhas possibilidades. Prudentemente, afirmo ter pouquíssimas chances. Conversávamos, em pé, no corredor do avião. Foi quando Petrônio Portela, contrariando seu estilo, chama a minha atenção em voz alta.
– Suruagy, gostaria que você, segunda-feira, pela manhã, fosse falar comigo. Os olhares concentraram-se em mim. Políticos experientes sentiram a preferência pelo meu nome. O segundo convite, minutos depois do primeiro, feito de uma maneira tão ostensiva, antecipou-me uma certeza de que seria o escolhido. Na segunda-feira, na hora aprazada, sou recebido por Petrônio Portela que afirma, sem rodeios, que o Presidente da República, ao tomar conhecimento de que mais de noventa por cento dos Diretórios haviam-me indicado para Governador, ratificara a minha escolha. E acrescenta, sorrindo.
– Se alguém se aproximou do tão procurado consenso, esse, foi você.
Agradeço, esforçando-me para esconder a emoção.
Subitamente, pára de sorrir, e pergunta, de chofre.
– Já pensou no Vice-Governador e no candidato ao Senado? Senti, de imediato, a responsabilidade que a resposta teria. Não pensei no Vice-Governador porque acho que a sua escolha está condicionada à luta pelo Senado. E, para o Senado, temos dois grandes candidatos. O Senador Teotônio Vilela que, naturalmente, pleiteia a sua reeleição e o ex-Governador Lamenha Filho que, na minha opinião, é o melhor nome que possuímos, em termos eleitorais.
Recebo mais uma lição em Política. Esperava que me aconselhasse a agir com cautela, com tato, a fim de evitar uma divisão no Partido. Surpreende-me.
– Sabemos disso Suruagy. Sabemos, também, que é o único capaz de neutralizar o Lamenha. Quando pedi que me indicasse três pessoas capazes de governar Alagoas, só indicou você. A impressão que ficou, em mim, é a de que ele se sentirá plenamente realizado com sua presença no Governo.
Continua:
– Existem interesses maiores em torno da reeleição de Teotônio.
Prometi conversar com Lamenha. E assim o fiz.
Voltando a Maceió, após a recepção apoteótica que recebi do nosso povo, viajo ao Engenho Coronha. Sinto-me confiante. Certa noite, algum tempo depois, conversando com Toinho, em sua residência, na rua Goiás, em presença de José de Melo Gomes e de Murilo Mendes, com o argumento de que o nosso grupo não teria condições de fazer o Governador e o Senador, quis desistir da minha candidatura em favor do seu nome. Não aceitou e insistiu que o mais importante era conquistarmos o Governo. Explico a ele a situação.
– Divaldo, não lhe criarei dificuldades. Mas, gostaria que você perguntasse ao Presidente da República se realmente é essa a orientação.
Concordei. Na semana seguinte seria recebido pelo Presidente Geisel e conversaria sobre o assunto. No dia anterior à audiência presidencial, procuro o Senador Petrônio Portela e peço que explique à nossa Bancada a posição dos dirigentes do Partido. Precisava de testemunhas. Ele não se fez de rogado. Convocou os três Senadores e os quatro Deputados Federais da Aliança Renovadora Nacional e destacou a candidatura de Teotônio.