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A vingança de Yolanda
Encontrei Maurício, solitário, com quatro cervejas consumidas embaixo da mesa. Arrastei uma cadeira, pedi acarajé, cerveja, puxei conversa com o amigo perguntando por Yolanda, sua digníssima esposa. Percebi o fora quando ele me respondeu com mágoa:
– Foi-se embora, me largou!
Imediatamente sorveu um copo de cerveja olhando para o distante horizonte do mar. Pedi-lhe desculpa, não sabia do fato, fiquei cheio de dedos, continuamos um papo ameno, repetitivo, sem graça; quando de repente Maurício me encarou desabafando:
– A sacana está em Paris!!!!!
Nesse momento perguntei o por quê da separação. Com um olhar macambúzio para o chão, ele abriu o jogo; contou a história, pormenores.
Na sexta-feira antes do carnaval, Maurício foi à casa de praia na Barra de São Miguel afim de colocá-la nos trinques preparando para receber os amigos durante o carnaval. Apesar de não ter filhos, o casal vivia em certa harmonia, com algumas desconfianças por parte de Yolanda, da integridade conjugal de Maurício. Sua fama pregressa de mulherengo incorrigível atrapalhava nesse quesito. Na verdade nunca deixou a mania, o vício, a compulsão por mulher, doença merecedora de tratamento. Durante os seis anos de casados ele pulou a cerca como menino pula corda.
Na varanda da gostosa casa, ele contemplava uma belíssima vista, a praia cheia de arrecifes, de repente apareceu Cicinha, filha da faxineira para ajudá-lo. Maurício se alegrou, “secava” a menina desde que ela havia voltado de São Paulo, para onde foi há três anos atrás, com menino no bucho, em busca do pai. Ficou em Sampa até que o marido desapareceu, ela tentou sobreviver, foi difícil, teve que voltar para casa da mãe na Barra.
Cicinha com seus 19 aninhos tem consciência do valor de seu corpo bem feito, torneado, sensual; por conta disso, até por exibicionismo, usa miníssimas saias deixando à vista o belo espécime feminino, desejado pelos homens por quem passa. Em São Paulo, para ter o que comer e prover o leite do menino, teve que fazer alguns programas, aprendeu coisas inacreditáveis com as colegas; em pouco tempo tornou-se phd em sacanagem, sabe como seduzir e quengar um homem.
Quando Maurício sentiu apenas os dois em casa, não se conteve, foi chegando junto, alisou seu cabelo, seus braços, ela olhava nos olhos do patrão, sussurrando numa cumplicidade, “Que é isso Seu Maurício?” Terminaram deitando-se no tapete da sala, abraçaram-se, beijaram-se, despiram-se um ao outro. Como uma fera ela pedia tudo, assim foram até a apoteose final. Estavam ainda estirados no chão, quando de repente a porta se abriu. Yolanda chocou-se com a cena. Foi um flagrante constrangedor, ela gritou com ódio: “Seus filhos de uma puta!!!” Bateu a porta, entrou no carro, chorando de mágoa e raiva durante o percurso, voltou para Maceió.
Maurício não teve coragem de voltar para casa. Procurou amigos, parentes, contou a história, pediu para fazer a ponte, ele estava arrependido, nunca mais aconteceria aquilo, e outras promessas vãs que todos os pecadores cometem. Yolanda irredutível mandou apenas um recado, ele não tivesse a ousadia em procurá-la.
Sábado de carnaval, tristonho, Maurício acordou na casa na Barra, pensava; avaliava a merda que tinha feito; era bom não ter filhos numa hora dessas.
À noite foi dar uma volta no carnaval do centro da pequena cidade. Teve um susto, seu coração bateu forte quando viu Yolanda com um short curto, barriguinha de fora, toda charmosa dançando na rua, pulando com amigos. Ele deixou passar um tempo, os olhos dos dois se cruzaram algumas vezes, ela despistava o olhar. Até que certa hora o álcool lhe deu coragem, foi até Yolanda; ela o empurrou, ameaçando chamar a polícia. Levaram Maurício bêbado para casa.
No domingo deu-lhe depressão. À noite foi pior. Ao ver Yolanda abraçando, beijando a boca de um jovem surfista, ele partiu para cima da mulher, puxou-a gritando que levaria para casa, levou um soco do acompanhante. Levaram novamente o bêbado para casa. Durante o resto do carnaval, ele procurou, não conseguiu encontrar Yolanda. Ela desapareceu levando roupas e alguns pertences da casa; nenhum amigo ou parente sabia onde andava, o celular não atendia.
Maurício soube notícia da mulher quando ela já estava em Paris. Na quarta-feira de cinzas.
Ao terminar a trágica história estávamos na 12ª garrafa quando passaram duas gostosas belíssimas de tanga, meu amigo não teve apetência sequer para olhar. Mulher ferida é o cão. O troco foi virulento. Jamais em sua vida Maurício esquecerá a vingança de Yolanda.
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