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Presente de aniversário
Pedrinho se encontrou durante a puberdade, muito hormônio, a libido aperreando, sexo despertando, entretanto, suas duas paixões abaixavam o fogo, velejar e nadar. Morava perto do Iate Clube Pajussara onde guardava o barco, desde cedo aprendeu o manejo das velas, campeão juvenil de snipe. Descia o barco da garagem, sozinho, velejava pela enseada, bordejava, virava, encantava-se com o mar verde esmeralda, às vezes azul turquesa.
Todo dia acordava cedo, vestia o velho calção de banho, atravessava a rua, corria em direção ao mar, mergulhava na água tranquila, pequenas marolas, nadava rumo ao infinito, de repente retornava, às vezes acompanhado de botos mergulhando ao lado como se fossem batedores protegendo o jovem nadador. Depois do mergulho matinal, Pedrinho tomava um bom café, colocava os livros na pasta, pegava bonde ou ônibus rumo ao Colégio Diocesano.
Pela tarde, descansava do almoço, estudava as matérias do dia, depois caía no mundo, jogar futebol na praia, ximbra, botão, muitos amigos, juventude livre e solta na praia de Pajuçara.
Certa tarde Pedrinho foi guardar os livros no quartinho do quintal, também quarto de empregada, abriu a porta, tomou um susto ao ver Luzia, a copeira, nuinha como veio ao mundo, entrando no chuveiro, deu-lhe uma paralisia ao olhar a bela mulher completamente nua, precisou algum tempo para fechar a porta. Emocionado retornou ao quarto com os livros, em sua cabeça, em seus pensamentos, na sua libido estava forte a imagem do corpo de Luzia. Sertaneja, 27 anos, abandonada pelo marido, trabalhava em casa de família para poder sustentar o filho, morava com os avós em Dois Riachos.
Pedrinho saiu do delírio erótico quando bateram na porta do quarto, Luzia abriu, disse apenas, “pode ir, já acabei”, deu um sorriso entre maroto e sem vergonha. Na tarde seguinte Pedrinho traçava uma doce pinha na varanda do quintal, Luzia se achegou provocando, “Vá guardar seus livros, vou tomar banho, pode olhar, mas só olhar, está ouvindo?” O jovem ficou excitadíssimo, esperou Luzia entrar no quartinho, apanhou seus livros, dirigiu-se ao quintal, olhava para os lados, desconfiado, como quem pratica um mal feito, seu coração aos pulos, chegou perto da porta, abriu, ficou encantado, o sangue ferveu nas veias ao ver Luzia embaixo do chuveiro se esfregando, um “tá bom” gritado por Luzia o despertou, com o livro embaixo do braço retornou ao seu quarto, sua mente via apenas Luzia esfregando coxas e nádegas com sabugo de milho. Naquele momento homenageou ao Deus Onã.
Segredo entre os dois, toda tarde havia essa liturgia erótica no quintal. Passaram mais de três semanas nesse ritual, Pedrinho não suportou o segredo, se gabando contou a Juvêncio, seu melhor amigo, o que estava acontecendo às tardes no quintal. Juvêncio, queria também ver mulher nua, sob recusa, chantageou, ameaçou espalhar para outros amigos. Na tarde seguinte, Luzia tomou um susto ao ver os dois jovens abrirem a porta do quartinho, toda ensaboada, gritou, “feche a porta.”. Ela não gostou, a partir desse dia trancava a porta à chave para tomar banho. Uma tristeza para o adolescente, Pedrinho “ficou de mal” do amigo Juvêncio, dois meses. A imagem de Luzia alimentava os sonhos, as fantasias de Pedrinho, ele a olhava com ar de pidão, ela sorria matreiro.
Meses passaram, dia do aniversário de Pedrinho, sua mãe caprichou num bolo de velas, convidou os amigos, saiu cervejinha, cuba libre, dançaram ao som de Ray Conniff. Final da festa, hora de dormir, ao partir para o quarto, Pedrinho esbarrou-se com Luzia limpando a sala, ela sorriu oferecida,”amanhã vou lhe dar meu presente, me espere às oito horas da noite na praia por trás dos sete coqueiros.”
Dia seguinte não saía da cabeça o encontro marcado com Luzia. Faltavam 15 minutos para oito horas Pedrinho já estava sentado na areia branca. O céu estrelado brilhava na escuridão da lua nova, viu os minutos passarem, de ansioso a decepcionado. Eram mais de oito e meia quando ouviu um psiu, sentiu um abraço por trás. Luzia deitou-o na areia, cochichou no ouvido, “é meu presente de aniversário.”
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