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A Morena da Macaxeira
Jardim da Gruta é um empreendimento urbano dos mais bonitos e bem planejados da cidade. Nesse aprazível local, ótima qualidade de vida, moram os abastados, os bem aquinhoados. São médicos, engenheiros, promotores, fazendeiros, grandes comerciantes. Apenas sortudos da vida residem nesse paraíso. Entre eles, tenho um amigo, médico e fazendeiro, o Dr. Policarpo Bacelar. Sua santa esposa Salete o tem como um Deus, ou melhor, um santo imaculado, um bom samaritano, imagem conseguida em anos de convívio.
De fato, Policarpo é um homem trabalhador. Seu patrimônio foi construído com muito suor. Honesto nos negócios, sempre procurou justiça em suas decisões e na sociedade. Não joga, nem fuma, bebe socialmente. Enfim é o que os americanos classificam de reserva moral, homem politicamente correto.
Um cidadão não pode possuir apenas qualidades, seria um absurdo histórico e sociológico. Todos têm algum defeito, o Dr. Policarpo também tem seu ponto fraco. Seu calcanhar de Aquiles é uma morena, menina nova e carinhosa. Com truques e artimanhas, ele consegue camuflar suas aventuras, Salete nem desconfia, põe a mão no fogo.
Certo dia, ao sair do Jardim da Gruta para o trabalho, entrando na Avenida Fernandes Lima em direção ao consultório, parou no sinal vermelho do semáforo, onde ambulantes vendem frutas e verduras. Apareceu de repente uma moça oferecendo macaxeira da melhor qualidade, barata, dizia a morena com vestido leve e solto, cabelos encaracolados, olhos negros que ao encontrarem os de Policarpo pareceram sair faíscas. Nosso médico teve tempo de comprar um feixe de macaxeira, logo deu partida no carro quando o sinal verde abriu passagem.
Dia seguinte ao passar pelo mesmo sinal procurou, avistou, a morena da cor do pecado lhe sorriu com um feixe de macaxeira. Ele deu uma nota de R$ 20,00, alegrou a jovem mandando guardar o troco.
Continuou por algum tempo comprando macaxeira diariamente. Teve que explicar à esposa, comprava para ajudar sobreviver uma família faminta. Salete deu-lhe um cheiro com amor, enaltecendo a generosidade do marido.
Policarpo nunca esperou as coisas caírem do céu, sempre as fez acontecerem. No início de uma tarde de sexta-feira, quando a bela morena dos olhos de graúna se aproximou, em poucas palavras ele se abriu, disse o que queria. Marcou encontro no ponto de ônibus, às sete da noite. Foi ao trabalho.
Às sete horas foi se aproximando do local, marcha lenta numa avenida de alta velocidade. Percebeu a jovem no ponto combinado. Invadiu-lhe uma alegria indisfarçável de aventureiro, freou o carro, a morena entrou, sorriu sentando a seu lado.
Dr. Policarpo ficou deslumbrado com a beleza daquela menina-mulher sem pintura, cor porcelana marrom, sem alguma mácula na pele. O rosto oval tornado pelos cabelos encaracolados abrigava dois olhos negros, brilhantes e desafiantes como se chamuscassem pequenos raios. Boca carnuda sorrindo, dava o toque sensual das mestiças, mulatas brasileiras. Maria da Pureza, 22 anos, nascida em um povoado de Lagoa da Canoa (terra de Hermeto Pascoal ). Bastava isso para o Dr. Policarpo, nada mais quis saber.
Quebrando o gelo com conversa fiada, o doutor passeou com o carro durante mais de 20 minutos até chegar num motel do Tabuleiro. Pegaram a melhor suíte, bem decorada, cheia de espelhos, impressionou Pureza, ela repetia, bonito, bonito!
Dr. Policarpo abraçou a morena, beijando-a no pescoço, no rosto, na boca. Num rompante carinhoso desabotoou os laços por cima dos ombros, o vestido de chita caiu-lhe aos pés, mostrando o corpo perfeito, torneado, curvas sensuais, seios pontiagudos, duros, pareciam dois cuscuz de chocolate, levou-o à loucura, deixou nosso herói cheio de tesão, paixão, lascívia. Noite inesquecível. De madrugada partiu para a fazenda, aonde deveria estar desde a noite anterior.
Nosso amigo não pode mais viver sem a jovem. Pureza, a morena da macaxeira, hoje mora com a mãe num apartamento alugado pelo Doutor no Conjunto Divaldo Suruagy. Estuda à noite, aprendeu a ler, não vende mais macaxeira, trabalha numa empresa de um amigo servindo cafezinho e fantasias aos homens, que a cantam a todo momento. Entretanto, permanece fiel a seu protetor, o bom “samaritano”, Dr. Policarpo Bacelar do Jardim da Gruta.
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