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Vítima do despejo: Joselita diz que prefeito de Palmeira não cumpriu com palavra
“Eles nunca vieram aqui. Existe, por exemplo, uma mulher que está há 8 meses sem receber o Bolsa Família. E agora, depois que nós recusamos a fazer o cadastramento para eles saberem quantas famílias existem, devido a construção do polo industrial, eles trouxeram uma equipe da secretaria para fazer o cadastramento dizendo que, desta vez, era para o Bolsa Família. Só que nós sabemos que não é apenas para isso. Eles conseguiram apenas 5 cadastros. Nós não iremos dar nenhuma informação, pois não confiamos no que dizem”, disse Luzia Oliveira dos Santos, durante entrevista realizada na comunidade localizada do povoado Batingas, zona rural de Palmeira dos Índios-AL, na tarde da última quarta-feira (05).
Luzia informou ainda que no dia anterior (04), a Secretaria de Assistência Social do município, montou uma tenda em uma “pracinha”, localizada logo na entrada que dá acesso ao povoado e levou uma equipe com, em média, 8 pessoas para tentar fazer o levantamento necessário, tanto para que as pessoas possam ter acesso ao programa Federal Bolsa Família, quanto para ter o conhecimento de quantas pessoas residem na área próxima aonde será construído o polo industrial de Palmeira dos Índios.
A moradora disse durante a entrevista que estiveram presentes ainda alguns vereadores, e que inclusive o vereador e líder do governo na câmara, Júlio César, pediu que a mesma mobilizasse os moradores no sentido de que as pessoas ajudassem a preencher o cadastro apenas com as respostas, sem que fosse necessário a assinatura de nenhum morador, pois o intuito era apenas coletar as informações e, a partir daí, buscar soluções para a problemática que envolve aquela comunidade e as obras do polo.
Luzia afirmou que, devido a recusa, eles se retiraram do local, sem obter êxito. Mas, Júlio César disse a ela que retornaria ainda esta semana com novidades para tentar negociar a situação e resolver o problema. “As famílias se recolheram e não aceitaram e, sinceramente, eu não acredito que vamos conseguir negociar da forma que eles querem, que é nos colocar nas casas do” Minha casa Minha vida, nem também pagar aluguel para nós. Até quando seria esse aluguel?, Indagou a moradora.
Outra questão enfatizada por Luzia durante a entrevista foi a de que uma ação como esta, realizada pela secretaria, nunca aconteceu antes. Nem na atual gestão, nem em gestões anteriores. E, esse tipo de assistência só foi recebida por quem foi procurar por ela. “Nunca nenhum prefeito, nem vereador veio aqui para saber o que precisávamos” disse.
Falta de prazo
Mais um ponto elencado por Luzia foi o fato de uma moradora, identificada por ela, pelo nome de Maria José de Azevedo, já ter tido sua casa demolida há mais ou menos 3 anos, e até a presente data a prefeitura não resolveu a situação de Maria José. “Se apenas uma casa que foi derrubada eles estão demorando esse tempo todo, imagine se eles tiverem que tirar um número maior de famílias”, contestou.
“Eu perguntei na hora o por quê deles estarem fazendo isso agora. E eles responderam que o interesse era de ajudar. Então, o meu irmão que também estava no momento, aproveitou a oportunidade e também quis saber o motivo deles não terem feito uma reunião conosco antes de lançar a pedra fundamental. Pois, uma semana após fazer o lançamento, a procuradora Sinair já veio com a proposta para sairmos daqui. Foi então que ele (vereador Júlio César) pediu que esquecêssemos a forma inadequada que a procuradora chegou no local e disse que ela estava afastada da negociação com as famílias.
Desespero das pessoas
No momento em que a reportagem estava no local uma senhora por nome de Elita se aproximou e, em tom de desespero, disse que “se me tirarem daqui eu sou capaz de fazer uma besteira e me suicidar. Eu não aguento mais esse aperreio e estou sem remédio e sem dormir direito desde o dia que começou essa confusão”.
Diante da abordagem desesperada, a reportagem procurou saber quem era a mulher. Foi quando veio a informação de que se tratava de uma das filhas da idosa Maria da Conceição, de 102 anos, que inclusive devido a incerteza da situação, parou de plantar a macaxeira que servia de alimento para ela e sua família. Essa filha é doente, sofre de transtornos mentais e precisa tomar medicação controlada e contínua para que, desta forma, não tenha crises e não seja internada.
Mesmo com evidente “aperreio”, Elita, que é usuária do Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) de Palmeira dos Índios, disse que foi até o Centro e não conseguiu a medicação, e está sem o remédio há dois meses. A filha de Elita, que estava junto no momento, informou que não sabe o que fazer, pois o remédio de sua mãe só pode ser pego no CAPS, por ser uma medicação controlada e as farmácias não liberam sem a prescrição médica.
Possível negociação
Diante do fato, a reportagem quis saber qual seria a melhor solução proposta pelos moradores para que houvesse, enfim, uma solução para o caso “moradores X polo industrial”. Então Luiza, na condição de representante da comunidade informou que “Só iremos sair daqui se for para um outro local rural, onde nós possamos viver criando e plantando, como fazemos aqui. Não vamos viver na cidade, pois nas “casinhas” não vai dá certo. Mesmo que seja legalmente nossa não queremos assim. A vereadora Sheila nos disse que seria dada a ideia do estado ou o próprio governo municipal doar um terreno para nós”.
Vale salientar que as casas do programa “Minha Casa Minha Vida” são doadas por sorteio e existe todo um pré-requisito para que haja a contemplação dos moradores. E existe ainda a responsabilidade dos mesmos pagarem um valor mensal por estas casas. Por isso, a sugestão deveria ser repensada.
Vida rural
As pessoas que residem no povoado, não têm suas casas para passar fim de semana, nem estão ali a passeio ou mera opção. Foi constatado por meio de depoimentos e verificando as plantações, as criações, enfim, o modo de vida dos que residem naquela comunidade há 25, 30 e até 60 anos, como é o caso de dona Maria da Conceição. Foi percorrida todo a área, colhendo os depoimentos e registrando por meio de fotografias, com o intuito de tentar mostrar a realidade no local.
Além das moradoras citadas anteriormente, outras também se aproximaram e foram passando as informações, dizendo que muitas pessoas que plantaram por exemplo milho e já estava bem “grandinho” acabaram com tudo depois que foi dito que tudo seria destruído e eles teriam que sair de suas residências o mais rápido possível.
O compromisso do prefeito
“No primeiro mandato ele veio aqui entrou, abraçou minha mãe e disse que ia trazer melhorias, que ia construir um polo industrial para empregar as pessoas daqui, e os maiores beneficiados seria a gente. O fato de nós morarmos perto ia servir para priorizar os moradores daqui, e, de forma alguma, falou que essas casas seriam atingidas. Ele nos decepcionou muito. Pois, depois que ele ganhou ele não veio mais aqui, só veio no dia que o governador estava presente para a inauguração da pedra fundamental do polo” desabafou Luzia.
Outra moradora que procurou a reportagem no momento foi Joselita, e disse que todas as pessoas perguntam: e cadê o prefeito que não vem aqui agora conversar com o povo?. Com isso, a reportagem passou a informação de que os secretários e vereadores fizeram o papel de representantes do governo municipal na visita feita. Então ouviu-se a resposta: Ele mandou representantes, mas queremos saber dele. Falou Joselita.
De acordo com Luzia, “O povo está com medo de sair de casa, e quando voltar não ter mais casa. Pedimos que ele veja a nossa situação e queremos saber por quê ele está agindo dessa forma, ignorando o povo que apoiou ele, sabendo ele que aqui tem várias famílias que votaram nele” apelou.
“Digo uma coisa, esquecer nós nunca vamos esquecer, porque foi uma forma humilhante o jeito que fomos abordados pela primeira vez. Ela (Sinair) falou conosco, querendo rebaixar a gente. Mas não baixamos a cabeça e assim vai ser. Estamos esperando o vereador, pois ele nos fez a promessa que traria boas notícias. E volto a pedir que o prefeito olhe por nós, e não deixe o povo que confiou nele desamparado”, finalizou Luzia Oliveira dos Santos, moradora da comunidade localizada do povoado Batingas, zona rural de Palmeira dos Índios-AL.
A reportagem do jornal Tribuna do Sertão tentou contato telefônico com o gestor e a secretária de Assistência social, para falar sobre o assunto mas não conseguiu. No dia seguinte, a reportagem foi a procura de algum representante do governo que pudesse falar sobre o assunto, no entanto, foi informado que todos estariam participando de uma Audiência Pública, realizada no bairro Palmeira de Fora, e todos estariam participando do evento, inclusive o prefeito, secretários, vereadores e várias autoridades locais e do Estado de Alagoas.
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