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Idioma espanhol domina Porto Alegre antes de Argentina x Nigéria
As placas pretas dos automóveis e o sotaque presente nas esquinas dos bairros Menino Deus e Praia de Belas denunciam a forte presença argentina em Porto Alegre. São milhares, e o número cresce a cada hora, chegando em carros, ônibus e aviões. O destino final é o Beira-Rio, onde a equipe de Messi e Cia. encara a Nigéria a partir das 13h desta quarta-feira. Na tabela de classificação do Grupo F, a Argentina lidera com seis pontos, seguida pela Nigéria, que tem quatro. O Irã, com um ponto, ainda alimenta esperança de classificação, e entra em campo no mesmo horário contra a Bósnia-Herzegovina, em Salvador.
No início da tarde desta terça, em Porto Alegre, cerca de mil torcedores, conforme a Brigada Militar, se aglomeravam próximo ao estádio para reverenciar a delegação argentina, que chegaria de ônibus para treinar às 14h30. Cantando e pulando, eles fizeram uma grande festa quando os atletas chegaram e permaneceram ali até depois do treino de reconhecimento ao gramado. E sobrou provocação ao Brasil nas músicas e nas faixas exibidas pelo grupo. Tudo observado por quase uma centena de policiais militares.
Porto Alegre vive dias de expectativa frente à possibilidade de que uma verdadeira invasão argentina tome conta da cidade. E não será surpresa. O país vizinho é o maior emissor de turistas para o Brasil e para o estado, responsável pela entrada de mais de 580 mil visitantes em território gaúcho em 2012, conforme o anuário estatístico do Ministério do Turismo.
Pensando no impacto da chegada em massa dos hermanos, o governo do estado e a prefeitura decretaram ponto facultativo para o funcionalismo público. A intenção é desafogar as vias e dar mais segurança e tranqüilidade aos visitantes e à população local.
Sem ingresso
Embora os torcedores argentinos tenham adquirido cerca de 20 mil ingressos para o jogo, muitos chegam a Porto Alegre em busca de bilhetes. “Sabes onde posso comprar? Podes informar algum local ou contato? Tenho dinheiro”, perguntava Jonas Milovich, sem esconder a ansiedade. Ele está na cidade desde segunda-feira, após longa viagem de carro com dois amigos desde Buenos Aires. Nesta terça, juntou-se aos compatriotas no entorno do Beira-Rio e reforçava o coro animado enquanto procurava descobrir uma forma de assistir à partida dentro do estádio.
Confiante na conquista do título mundial, Pablo Cardozo também deixou a Argentina para dar apoio à seleção. Confrontado com a performance ainda inconsistente de Messi & Cia, apesar das duas vitórias, ele não titubeou. “Vamos vencer a Nigéria com tranqüilidade. Não estamos tão bem, mas temos Messi, que é o nosso Ás”.
A fé e a admiração pelo craque, que completou 27 anos nesta terça-feira, supera até o maior número de jogadores decisivos em outras equipes, como Sneijder, Robben e Van Persie, pela Holanda. “Não importa. É a Argentina”, cravou. Ao lado do amigo Damián Mariscal, também da capital argentina, ele pretende retornar ao seu país após a partida e, se tudo der certo, irá ao Rio acompanhar a disputa de vaga pelas quartas-de-final.
Mistério nas coletivas
Enquanto Porto Alegre adota o idioma espanhol, encontrar um nigeriano poderia ser tarefa de gincana. Só mesmo na coletiva de imprensa, quando o técnico Stephen Keshi e o goleiro Vincent Enyeama projetaram o confronto. Questionado sobre a excelente performance diante de Messi na Copa da África do Sul, o jogador advertiu. “Messi é um dos melhores jogadores do planeta. Está ainda melhor do que em 2010. Mas não serei eu contra ele, será Nigéria contra Argentina. A forma como pensamos pará-los é assunto interno”.
Para o treinador nigeriano, o desafio é recolocar a seleção de seu país em posição de visibilidade no cenário do futebol internacional. Destaque da competição em 1994, nos Estados Unidos, a Nigéria não aproveitou o momento para desenvolver o esporte. Por isso, apesar de o empate assegurar a classificação às duas seleções, os africanos prometem jogar para vencer.
Stephen Keshi disse não se preocupar com o grande número de torcedores argentinos no estádio, mas também não procurou conquistar os brasileiros. “Quanto mais gente assistindo, melhor. Jogador gosta de ser visto e mostrar seu bom futebol. Nós estamos na Copa para jogar futebol, sem escolher adversário. Se vier a França, que seja”, afirmou.
No começo da tarde, o técnico da Argentina, Alejandro Sabella, chegou ao Beira Rio antes do restante da delegação. Foi sozinho para a conversa com os jornalistas e tratou de reforçar os mistérios em torno do jogo. “Ainda não decidi o time que irá a campo. Será um confronto diferente contra a Nigéria em relação às partidas anteriores. Tenho o esquema de jogo definido, mas posso promover uma ou duas mudanças na equipe”.
Questionado sobre o adversário, Sabella citou nominalmente diversos jogadores nigerianos e lembrou que cada um tem diferentes características. “Essa Copa já trouxe surpresas. A Argentina sempre teve dificuldades contra a Nigéria. Então é preciso cautela”.
Perguntado sobre a dependência de sua equipe pela genialidade de Messi, Sabella foi direto. “Quando se tem um Messi, a dependência é natural. Tem de diminuir, mas existirá. E a pressão sobre ele, para que jogue bem, é inerente a qualquer craque. O que temos de fazer é ajudá-lo e minimizar essa situação sempre que possível”.
Sabella não esconde que será uma grande emoção ver seus comandados jogando fora da Argentina com tanta torcida. “Não surpreende, porque nosso povo é apaixonado. Mesmo assim, fico imaginando quantos serão”.
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