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João Paulo II

16/07/2014
João Paulo II

Embaixador do Brasil, junto à Santa Sé, Expedito Resende, atendendo ao nosso apelo e ao dos Deputados Federais Victor Faccioni e Paulo Studart, formulados através do Consulado do nosso País em Berlim, conseguiu uma audiência especial para nós e para o Conselheiro do Tribunal de Contas de Alagoas, professor José de Melo Gomes. A data estabelecida foi o dia trinta e um de outubro de 1979. Quando tomamos conhecimento da confirmação do pedido, encontrávamo-nos em Veneza. Cancelamos nosso vôo para Florença e viajamos, diretamente, a Roma, pois tínhamos que receber as credenciais diplomáticas no dia trinta. Chegamos à Praça de São Pedro, através do Vaticano, no mercedes oficial do Embaixador que, gentilmente, cedera seu carro para nos levar. Uma multidão calculada em cerca de cinqüenta mil pessoas lotava a Praça onde o apóstolo Pedro foi crucificado. A Basílica, que foi construída em homenagem à memória do primeiro Papa, domina a todos. Faz-nos sentir pequenos diante da sua grandeza física e espiritual. Precisamente às onze horas, o Papa João Paulo II entrou, triunfalmente, em carro aberto, na Praça. A multidão, magnetizada, prorrompeu em aplausos. A força mística do cristianismo se fazia sentir. Verdadeira adoração cercava Sua Santidade. Delegações de fiéis, dos mais distantes países, ali se encontravam. Africanos, eslavos, asiáticos, americanos e europeus, rendiam suas homenagens ao mais poderoso e ao mais humilde dos sacerdotes de Deus. As palmas e os vivas intensificaram-se. O Papa levantou uma criança e a beijou. O gesto, mais do que uma simples demonstração de afetividade, traduzia o renovar constante da Igreja Romana, através de inúmeras gerações, em dois mil anos de história. Encontrávamo-nos entre as dez autoridades não-eclesiásticas que seriam cumprimentadas, pessoalmente, pelo Sumo Pontífice. Estávamos diante da tribuna montada para a solenidade. Poucos metros nos separavam. Tentei analisar suas feições, enquanto proferia a homilia em sete idiomas: italiano, inglês, francês, alemão, espanhol, português e polonês, finalizando com a bênção em latim. É incrível seu conhecimento lingüístico. Sua voz é profunda e musical. Olhando para seu rosto, compreendemos, de imediato, que nasceu para dirigir homens. A primeira impressão que nos causa é a do seu vigor físico. É um corpo de atleta. De alguém acostumado à prática de esportes. Possui um sorriso meigo e juvenil. Sua maneira de sorrir é a responsável maior pelo fascínio que exerce. Julgo que ele está bem consciente do magnetismo transmitido por seu sorriso. Olhava a multidão e sorria. E como nós sentimos uma paz interior! A manhã ficou mais bela. Comovido, observamos o semblante de felicidade de uma adolescente, sentada numa cadeira de rodas. Ela encontrava-se num doce enlevo. À espera de um milagre. Concluída a bênção, o Papa adiantou-se para nos cumprimentar. Antecedeu-nos um casal dos Estados Unidos. Ele, professor de arqueologia e diretor de uma universidade norte-americana. Sua esposa, dotada de uma nobre beleza, estava atendendo à determinação protocolar, toda vestida de negro, o que aumentava a sua dignidade de grande dama. Studart, Faccioni e José de Melo pediram-me que apresentasse os brasileiros. Sua Santidade conversou mais demoradamente conosco. Confirmou sua visita ao Brasil em meados de 1980. Gracejou, dizendo que precisava estudar mais o português para melhor falar ao nosso povo. Autografou uma fotografia que o Faccioni, como bom descendente de italianos, teve a feliz iniciativa de levar, e dirigiu ao Studart e ao José de Melo palavras de carinho. Saímos, conduzidos pelo Chefe do Cerimonial, ainda vivendo a emoção do encontro. Confesso que, naquele instante, pensei em minha mãe e na felicidade que a dominaria, vendo seu filho ser abraçado por Sua Santidade, o Papa, diante da Catedral de São Pedro, em Roma.