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Gastão Leão Rego
Palmeira dos Índios oferece mais um exemplo à sociedade alagoana. Vários líderes comunitários, preocupados em acelerar o desenvolvimento do município, reúnem-se num movimento suprapartidário chamado de “renovador”. Comerciantes, fazendeiros, profissionais liberais, sacerdotes e bancários, superam interesses de classe, raça, religião e divergências egoísticas para unirem-se em torno de uma idéia maior que é a de, colocando-se independente e ao lado das instituições tradicionais, cobrarem e ajudarem a encontrar as melhores soluções para os problemas da cidade. O movimento foi vitorioso. O sucesso não se deve apenas, à força motriz que aglutinou tantos e diversos caracteres, mas, sobretudo, ao sentimento de igualdade dos participantes. Os escolhidos pelo grupo para disputarem uma vaga na Câmara de Vereadores não tinham poder de opção e nem percebiam nenhuma remuneração, os subsídios eram transferidos para entidades filantrópicas.
Secretário da Fazenda e da Produção do Estado de Alagoas, à época, mantive vários encontros com os integrantes do movimento. Conheci, de perto, a metodologia e a prática de sua ação comunitária. Muitos daqueles líderes transformaram-se em amigos fraternos. Ousaria afirmar que, o mais entusiasta, o que melhor me vendia a imagem de crença no êxito, era o médico Gastão Leão Rego.
Alegre, sempre tinha uma palavra amiga, um gesto carinhoso, uma empulhação afetuosa para todos de quem se aproximasse. Intrinsecamente bom, jamais faltava, a qualquer hora do dia ou da noite, a quem lhe procurasse como médico ou como cidadão. Espírito público amplo e sem fronteiras, era a própria alma do Movimento Renovador.
Conheci-o por intermédio de sua filha Abigail, que fora minha contemporânea de vida universitária. Ela fazia parte de uma geração privilegiada, de lindas mulheres que tanto embelezaram Palmeira dos índios. Duas delas, Bertine e Gugu, foram misses. Bertine foi a mais famosa miss de Alagoas. Alba Mendes, uma das mais bonitas, primeiras-damas do nosso Estado. Tereza Malta Araújo continua tão bonita e elegante, quanto quando era “a menina de Sinhozinho Malta”. Elas, e muitas outras, ofereciam enorme colorido às vaquejadas e aos bailes no Aeroclube.
Doutor Gastão, como carinhosamente todos o chamavam, parecia ser mais o amigo ou o irmão mais velho do que o pai, na conceituação do interior nordestino. Era compreensão e benevolência para com as naturais fragilidades humanas. Foi muito ajudado, não só nesta missão de chefe de família, como em todas as vitórias que conquistou, por Dona Vera, uma criatura realmente maravilhosa.
Estreitamos nossa amizade quando, no exercício de funções do Governo, fui obrigado a, constantemente, visitar Palmeira dos Índios. A bela e acolhedora residência, que construíra em um sítio-fazenda, na entrada da cidade, passou a ser o meu ponto de apoio. A fidalguia de Dona Vera e a amabilidade de Doutor Gastão cativaram-me para sempre. Fomos amigos íntimos, durante mais de vinte anos. Nunca houve o menor estremecimento em nossas relações. Participou de todas as minhas campanhas eleitorais.
Encontrava-me no Senado Federal, quando através de um telefonema, tomei conhecimento de sua morte. Era noite. Sabia-o doente. O enorme e bondoso coração fraquejava. Continuou pilheriando com a vida e a morte, até o último instante. O vazio de Brasília aumentou com a consciência de que o meu mundo afetivo ficara menor.
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