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Palmeira, uma cidade mais que centenária, sem ter o que comemorar em seus 125 anos de vida

20/08/2014
Palmeira, uma cidade mais que centenária, sem ter o que comemorar em seus 125 anos de vida

palemiraaaForam necessários 125 anos como município autônomo para que Palmeira dos Índios ganhasse um porte razoável e que finalmente tivesse algumas ruas asfaltadas.
Parece mentira uma coisa dessas, mas todos os palmeirenses sabem que isto é uma verdade e daquelas que envergonham. Qual é a razão disso? Há muitos modos de explicar e poucos de convencer, mas o começo pode estar no modo tucano de governar a cidade.

Mesmo com os novos tempos criados para o município por meio da nova Constituição do país, os governos demoram a realizar as potencialidades criadas nas leis e nos programas federais porque preferem manter os municípios como currais eleitorais.

O prefeito James Ribeiro, por exemplo, é do partido do governador. Resultado: desde 2009 recebe “presentes” que outros prefeitos não tiveram oportunidade de receber: por exemplo, o sistema de abastecimento de água que até hoje não funciona, o asfaltamento das ruas centrais e a melhoria da iluminação pública, se bem que esta seja paga pelo consumidor da Ceal no recibo de luz e ainda esteja precária. Se o prefeito não fosse um “correligionário” do governador Palmeira dos Índios não teria ganho nada disso e seu governo que vai de mal a pior seria desastroso e vejam quanta ironia: até velório já fizeram dentro do gabinete, onde Graciliano um dia despachou, lembram?

Cabe a pergunta: e os 70 mil habitantes do município não tem importância alguma?

A resposta é que este critério ainda não é considerado na destinação de recursos para os municípios a não ser na divisão do Fundo de Participação dos Municípios, a fonte financeira controlada pelo governo do Estado a quem cabe destinar o quinhão de cada um de acordo com a arrecadação de certos impostos, essencialmente o ICMS.

No caso da saúde e da educação, se o atendimento fosse por esse critério conhecido pelo nome de per capita os palmeirenses veriam de repente escolas e postos de saúde se multiplicarem em sua cidade e não precisariam abarrotar o hospital Santa Rita tendo que esperar horas e horas para um simples curativo, mesmo que a UPA já esteja funcionando. O próprio hospital não estaria relegado ao plano de “esquecido” pelos governantes, amargando quase o fechamento de suas portas enfrentando ameaças de um gestor obtuso que não compreende sua importância histórica e social. Ainda bem que uma esperança “pulula” dentro do hospital com uma gestão mais arrojada.

A mentalidade que se ocupa do desenvolvimento especifico da comunidade, conhecida pelo nome de municipalismo tem sido a força até hoje que continuamente fortalece o burgo e o livra, em parte, do prejuízo de depender da vontade e da escravização do governador de plantão.

palmeiraPalmeira dos Índios, felizmente, tem tido alguns desde os seus primórdios. O municipalista não se caracteriza apenas como o que escreve, filma, musica, fotografa ou expõe o seu município sob forma artística. Ele é também o filho da terra que se interessa por seu burgo e ora funda um museu, ora instala uma escola, ora defende a construção de uma nova avenida… enfim, ele é o bem feitor que continuamente opta por trabalhar por seu município e aí deixa a marca do seu trabalho. Palmeira dos Índios tem se beneficiado continuamente deles.

Lá para trás, apenas para não ir muito longe, está Graciliano Ramos. Ao ingressar na política, como prefeito em 1928, fez uma administração que até hoje ninguém conseguiu sequer imitar. E mesmo isto ainda é pouco diante do feito sem igual de fazer todo um romance, internacionalmente conhecido, dedicado apenas a cidade: “Caetés”, sua primeira grande obra. Atos como estes, ao longo do tempo, tornam a cidade famosa, conhecida e falada, e isto impede que ela seja desprezada pela política do tempo ou pelo governador de plantão. Este é o caso de Palmeira dos Índios.

A cidade não é apenas famosa. Ela tem um perfil histórico e social próprio, específico, peculiar. Até mesmo a sua topografia, circunstancialmente, colabora com as potencialidades que o burgo apresenta de desenvolver- se como uma cidade civilizada (o que abre chances para o turismo, para pólo cultural e outros do gênero) e, ao mesmo tempo, como um município de produção, capaz de gerar emprego e renda e emancipar sua população da triste vergonha de ter mais de metade do seu povo mergulhado na miséria conforme o anúncio recente do IPEA (Instituto de Pesquisas Aplicadas) uma instituição de peso definitivo, anexada ao próprio gabinete da presidência da República.

Palmeira dos Índios, entretanto, tem sido vítima permanente de maus prefeitos. Estúpidos, desonestos, analfabetos, gatunos, ladravazes, nunca são capazes de empreender trabalho sério, como fazia o Velho Graça. Suas praças e ruas, amadas pelos palmeirenses, são abandonadas, cheias de lixo, sujas e quebradas. Ninguém se interessa. Seus prédios de maior valor histórico são derrubados sem a menor consideração ao povo. E ninguém se interessa.

sintealOs servidores da prefeitura, especialmente os da Educação, que ontem fizeram uma manifestação simbólica, o gestor desde 2010 os “levam no papo”, prometendo dar aos trabalhadores seus direitos, adquiridos pela letra forte da lei e nunca cumprindo. E ninguém se interessa, ou se movimenta por isso. A transparência tão propalada nos dias hodiernos, em termos de gestão púbica, em Palmeira dos Índios serve apenas de fachada, pois o portal que deveria dar a publicidade exigida aos atos da prefeitura, ninguém viu, ninguém sabe. Não há interesse, nem das autoridades. Não está mais claro agora porque foram necessários 125 anos para a cidade se “arrastar” até aqui? Será que conseguirá sair dessa posição? Quem sabe não comece agora o fim das trevas?