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Médica afirma: “precisamos de políticas públicas reais e não promessa de campanha”
Maria José Cardoso Ferro é médica cirurgiã-Oftalmologista sendo a primeira médica com a especialidade em Palmeira dos Índios, e responsável pela primeira cirurgia oftalmológica realizada no município. É Diretora do Centro Oftalmológico Osório Cardoso. E ainda vice-presidente da Academia Palmeirense de Letras e membro da Academia Americana de Oftalmologia. Cidadã Honorária de Palmeira, onde reside e trabalha desde o ano de 1981, após formatura e o período de residência no Rio de Janeiro, voltando para o município com o objetivo de trabalhar, exercendo a profissão no mesmo local há 33 anos. Fundadora do grupo de orações AME (Amor Maior pela Eucaristia) e as mulheres do terço, que em seguida se transformou em uma ong, onde funciona a sede oficial dos trabalhos sociais das mulheres do terço que contando hoje com 59 comunidades do terço das mulheres fundada em 2009, e trabalha com pessoas de várias idades. Cardoso concedeu entrevista exclusiva ao jornal Tribuna do Sertão e falou sobre área profissional, social e política.
Confira abaixo:
Tribuna do Sertão – A senhora é uma das médicas mais renomadas no estado de Alagoas em sua especialidade. É considerada pela classe como uma das melhores. Qual o motivo de permanecer todos esses anos em Palmeira?
Dra. Maria José – Eu tive uma proposta muito boa para ficar no Rio de Janeiro. Mas, sempre pensei em me formar, me especializar, e voltar para o município e exercer minha profissão aqui. Quando eu voltei para Palmeira havia apenas eu e a Dra. Helenilda como médicas mulheres. Naquela época exista preconceito com a mulher profissional, tive alguns bloqueios mas, eu consegui vencê-los, pois sou muito decidida. Estou no meu consultório há 33 anos, por entender que caso algum paciente meu precise de mim, ele saberá onde me encontrar. E mesmo diante das dificuldades iniciais eu consegui o meu objetivo. Eu acredito que quando se ama o que se faz, nós fazemos da melhor maneira possível. Eu entendo que medicina seja mais uma missão do que mesmo uma profissão.
Tribuna do Sertão – Ser a primeira médica oftalmologista a trabalhar e realizar a primeira cirurgia em Palmeira dos Índios lhe faz pioneira e também incentivadora de outras mulheres buscarem se profissionalizar. O que teria para falar sobre o assunto?
Dra. Maria José – Hoje em Palmeira dos índios existem mais mulheres do que homens na área de oftalmologia. O meu primeiro paciente já falecido foi uma cirurgia de catarata. O caso foi muito interessante porque ele andava com uma havaiana nas mãos, engatinhando, e eu achava que ele tinha um problema grave na coluna que não permitia a ele andar normalmente apenas com as pernas, que aquele problema era físico, no entanto, após a cirurgia eu descobri que na verdade a forma dele andar era uma insegurança porque não enxergava e tinha medo de cair. Foi um caso complicado e o primeiro, pois nunca tinha sido feita uma cirurgia oftalmo em Palmeira, e naquele momento eu estava ladeada de outros médicos que queriam estar presentes nesse primeiro momento. E a cirurgia foi, graças à Deus um sucesso e uma semana após, quando ele veio fazer a revisão eu já o vi andando normalmente. Eu fiquei emocionada.
Tribuna do Sertão – Após 33 anos de muito trabalho já existe a ideia da aposentadoria. Como a senhora pensa sobre esse assunto?
Dra. Maria José – Sei que ou precisar me aposentar, pois precisamos reconhecer nossos limites, então nos próximos anos eu penso em ir diminuindo essa rotina de trabalho, e ir me afastando gradativamente. Mas digo, me afastarei um dia com muita pena. Desde inicio eu sempre tive a preocupação de ter residentes em minha clínica para me acompanhar e tentar passar para eles o meu conhecimento, é ter a certeza de que alguma coisa ficará na vida profissional desses novos médicos.
Tribuna do Sertão – A senhora tem uma agenda onde existem pacientes marcados para 2015 e 2016. Como pensar em aposentadoria e atender urgências que chegam em seu consultório?
Dra. Maria José – Quando é urgência eu atendo e passo na frente dos que estão aguardando apenas para o exame. Pois eu nunca me neguei nem vou me negar a atender uma urgência, e digo ainda, nesse ponto pode ser qualquer pessoa independente se for particular ou alguém com menos condições financeira. Aqui eu não tenho plano de saúde, mas tenho um serviço social onde eu atendo pessoas que vejo que não tem condições de pagar uma consulta e é um caso de urgência e, nesses casos, não importa se vai pagar ou não, pois o importante é fazer o atendimento que aquela pessoa está precisando. Então, foi quando eu pude observar que essa parte social me interessava muito, sendo justo, ajudando as pessoas da forma que podemos, é claro que esse é meu trabalho e eu sobrevivo dele, no entanto, jamais vou deixar de atender uma pessoa carente por ela não poder fazer pagamento de uma consulta.
Tribuna do Sertão – O normal é as pessoas saírem em busca de atendimentos na capital ou até fora de Alagoas. Contudo, com a senhora acontece o contrário. Como explicar isso aliado ainda ao trabalho social realizado?.
Dra. Maria José – É verdade. E eu acredito que 50% dos meus pacientes são de Maceió e de outras localidades. Eu sempre me dei muito bem com os colegas e eu jamais deixei de atender um paciente encaminhado por algum médico oftalmo da capital ou qualquer outo lugar. Essa parte social tem muito haver com os meus pais e em especial, a minha mãe, que sempre estiveram muito envolvidos em questões sociais, e desde criança eu sempre acompanhei eles em algumas visitas em Minador do Negrão. Após o falecimento de minha mãe eu resolvi estar mais envolvida. E hoje após uma passagem muito marcante e difícil em minha vida eu aprendi com a minha mãe, mesmo não estando mais nessa vida que o mais importante na vida é a Eucaristia. Pois viver na eucaristia não é apenas comungar na igreja e sim entre as pessoas, é saber a necessidade do próximo e querer ajudar, se importando com aquelas pessoas que está passando fome, é você amar as pessoas realmente. E eu vivo isso e me sinto feliz e realizada com meu trabalho profissional e social.
Tribuna do Sertão – Como é o trabalho das mulheres do terço em Palmeira dos índios?
Dra. Maria José – Então, por meio de um grupo de orações, o AME (Amor Maior pela Eucaristia) nós fundamos o terço a mulheres em maio de 2007, e em 2009 Dom Dulcênio nos ofereceu um local para realizarmos os nossos encontros e trabalhos. Recebemos ainda uma ajuda da Justiça por meio de uma recursos vindos de uma multa aplicada e que o mesmo poderia ser investido em ações sociais e ongs. Então foi quando ativamos uma ong que estava inativa em Minador para poder estar aptas a receber esse recurso. Nunca pensamos em envolvimento com ações políticas. Iniciamos apenas com o trabalho de evangelização e hoje somos 59 comunidades do terço e cada um desenvolve um trabalho social na sua região. Devemos associar a oração com a ação, é orar e agir. Pois não adianta nada você ir a igreja e não ajudar ao próximo.
Tribuna do Sertão – Após 33 anos em Palmeira como a senhora enxerga hoje o poder público com relação a essa questão da Assistência Social e também nas demais áreas da administração?
Dra. Maria José – Infelizmente não vejo nenhum ponto positivo nesses aspectos, nem nas gestões anteriores nem na atual. Eu ainda não vi ninguém fazer um trabalho de base que nós desejamos e esperamos. O nosso município está ficando pra trás, e isso não é só eu que digo. Se for perguntado a qualquer outra pessoa que não esteja ligada ao grupo político, ela vai responder a mesma coisa. Essa insatisfação é geral. E, infelizmente nós não temos mais muita opção. Seria interessante que o poder público fizesse um planejamento e cumprisse e não fosse promessa de campanha. Temos que pensar que cuidando da população, diminuindo a pobreza um gestor consegue diminuir vários índices negativos, como por exemplo, a criminalidade. Não tem sentido uma administração pública que não esteja voltada para o seu povo.
Tribuna do Sertão – A senhora já recebeu algum convite grupos para participar diretamente da política em Palmeira?
Dra. Maria José – Certa vez um grupo veio me convidar para fazer da política, para eu dispor meu nome e concorrer ao cargo de prefeita. Eu respondi que não tenho vocação e não gosto desse tipo de política feita pela maioria. Sou uma pessoa politizada, mas não gosto é de politicagem, e não me envolveria principalmente pelo nível de politica feita por muitos em nosso Estado. E tenho certeza que se tivesse aceitado o convite muita gente não ia gostar, pois acredito que o trabalho que tem que ser feito iria desagradar muitas pessoas no início. Por exemplo, cortar mordomias é uma coisa que não agrada muito as pessoas que cobram devido aos apoios políticos dado aos candidatos..
Tribuna do Sertão – Então, o que seria necessário para que as políticas públicas realmente funcionassem em Palmeira?
Dra. Maria José – Palmeira precisa se desenvolver e fazer com que os filhos da terra não vão embora para poder se profissionalizar, pois eu faço parte de uma minoria que decidiu voltar e ficar em Palmeira. A grande maioria foi estuar fora e por lá ficaram porque não há perspectivas no município. Palmeira já perdeu muito por não ter políticos engados no desenvolvimento da nossa cidade. Por exemplo, ano passado houve um evento em Parati, no estado do Rio de Janeiro, onde houve uma grande divulgação homenageando o nome de Graciliano Ramos, e Palmeira estava em evidência em várias palestras e não tinha sequer uma stand montada pela prefeitura de Palmeira, porque o atual gestor não deu o apoio necessário, afirmando que não tinha condições de arcar com as despesas. Só que podia ter pensado em uma parceria com o município de Quebrangulo, nosso vizinho e do qual Graciliano é filho natural. Então, são coisas inadmissíveis. As pessoas já não avaliam mais uma gestão pois, o governo faz com que as pessoas fiquem alienadas ao ponto de só votar naqueles que oferecem alguma coisa. E eu acredito que não haja o interesse de mudar essa situação, que só seria possível por meio da educação das pessoas, eles querem que as pessoas fiquem ignorantes. Mas ainda tenho esperança que haja uma pessoa que tenha ideais voltados para a população.
Tribuna do Sertão – Qual a mensagem que a senhora deixaria com relação a essas questões políticas não só em Palmeira, mas de forma geral?
Dra. Maria José – Finalizo fazendo uma indagação: Já pensou se política fosse vocação onde as pessoas não tivessem tantas vantagens com seus cargos. Será que alguém iria querer se candidatar para trabalhar pelo povo do seu município, realizando trabalhos sociais ganhando apenas um salário sem direito a tantas mordomias?. E como mensagem eu digo que as pessoas procurem viver a eucaristia, sendo ético e bom, fazendo um trabalho com amor e praticando esse amor com as pessoas. Gostaria também de citar o trabalho da Fazenda Esperança em Poço das Trincheiras onde a nossa ong está cooperando em um evento que realizando no próximo dia 28 durante a festa de São Francisco, que já é tradicional. Nós estamos participando pela primeira vez. É um dia inteiro voltado para a prevenção da dependência química. Teremos teatro, palestras, danças. Estamos tentando levar mil jovens para o evento. Participa ainda a irmã Maria Antônia (CECR) e Dom Dulcênio Fontes de Matos que é Bispo da Diocese de Palmeira dos Índios.
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