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“Só sabe o que é carga tributária quem compra, emprega e comercializa seus produtos” diz José Leão

29/09/2014
“Só sabe o que é carga tributária quem compra, emprega e comercializa seus produtos” diz José Leão

IMG_4354José Leão de Oliveira é empresário Palmeirense, um dos pioneiros do ramo de móveis e eletrodomésticos em Palmeira dos Índios, expandindo também seus negócios nos setores de calçados e confecções, está no comércio há 39 anos. Casado e pai de dois filhos, Leão concedeu entrevista exclusiva ao jornal Tribuna do Sertão onde fala sobre o início de sua trajetória, das dificuldades encontradas devido à perda de seu pai e da sua responsabilidade, mesmo muito jovem, de cuidar de sua mãe e seis irmãos, tendo inclusive que começar a trabalhar aos 13 anos de idade. José conta ainda como conseguiu se manter até hoje no ramo, enfrentando desafios e prosperando a cada dia nos seus investimentos tanto em Palmeira dos índios como em mais 4 municípios alagoanos. Leão fala ainda dos quase 100 funcionários que estão empregados diretamente em suas lojas, sem contar com os que prestam serviços e são beneficiados de forma indireta por seus negócios. Com relação a políticas públicas, o empresário diz sobre as responsabilidades dos governantes e ainda sobre o exorbitante número de impostos, apontando-os como os grandes “vilões” das pequenas empresas, por serem responsáveis pelo fechamento de vários empreendimentos. Leão afirma que não foi fácil permanecer no ramo até hoje e durante a entrevista se emocionou ao relembrar a perda dos seus dois irmãos e disse que ainda acredita na Justiça Alagoana e na punição dos responsáveis pelo assassinato de seu irmão Jair de Oliveira (Grilo).

Confira abaixo a entrevista:

Tribuna do SertãoEstar no mesmo ramo há 39 anos lhe faz um empresário experiente. Fale como foi o início dessa trajetória em Palmeira mostrando as dificuldades encontradas e suas superações.

José Leão – Bem, o início não foi muito fácil, pois tive que cuidar desde cedo de minha mãe viúva e mais 6 irmãos. Comecei a trabalhar na loja como auxiliar de serviços gerais no prédio da loja mais antiga onde até hoje funciona a nossa matriz, localizada na Rua Antônio Matias. Trabalhava na loja do meu tio, o saudoso Zaqueu Leão, e estudava a noite. Com o tempo fui galgando todos os cargos como, por exemplo, vendedor e gerente da loja chegando hoje a ser proprietário de lojas no ramo de móveis, eletrodomésticos, calçados e confecções. Fui também dono de bar e, na proporção que eu deixei de ser funcionário e passei a ser proprietário, meus irmãos vieram trabalhar comigo e depois cada um também deu seguimento aos seus trabalhos de forma individual. Meu tio Zaqueu Leão foi também uma pessoa muito especial em minha vida. Em um determinado momento eu entrei também no ramo de eventos com a inauguração da Casa de Show Milenium, devido a ideia do meu irmão Jair que era muito festeiro e como eu já tinha o terreno, resolvi apoiá-lo nesse investimento. No entanto, o meu projeto era realmente construir uma loja maior e graças à Deus consegui inaugurar a Casa Nova Home Center. Hoje temos 3 lojas de móveis e eletrodomésticos em Palmeira e mais uma loja de calçados e confecções (A Calçadeira).

Tribuna do Sertão – Quando surgiu a ideia de expandir os negócios para outros municípios de Alagoas?

José Leão – Essas decisões foram ocasiões de negócios, onde surgiram oportunidades, e eu posso citar o município de Santana do Ipanema como o primeiro município, depois de Palmeira, onde surgiu a possibilidade de montar uma loja lá. Em seguida fomos para Olho D’água das Flores, que é próximo a Santana. E assim fomos seguindo os trabalhos, quando foi chegado o momento de irmos para o município de Viçosa e, por último agora, estamos também com uma loja em Inhapi, localizada no sertão Alagoano.

Tribuna do Sertão – Fazendo uma análise e comparando o trabalho no comércio na época que o Sr. Iniciou com os dias de hoje, pode se dizer que as coisas estão mais fáceis ou mais difíceis?

José Leão – Bem, eu digo que as coisas não estão fáceis.  O nosso país não oferece condições para que um comerciante consiga abrir sua empresa e se mantenha por muito tempo. Tenho consciência que faço parte de uma minoria que conseguiu se solidificar diante de muitas dificuldades. Podemos perceber que é muito grande, por exemplo, o número de pequenas empresas que fecham suas portas ainda no primeiro ano de existência. E isso é muito complicado, para o comerciante, que na sua maioria tem família para sustentar. Estamos vivenciando uma grande instabilidade, num País onde vemos noticiar frequentemente vários casos de corrupção, e o pior de impunidade pelos seus atos. Então, esses fatores também desestimulam as pessoas.  A carga tributária é enorme. Nós trabalhos hoje e pagamos quase 40% de impostos, e isso é um absurdo. Sem contar com a reponsabilidade com funcionários de nossas lojas. No meu caso, por exemplo, eu posso de dizer que em média quase 100 famílias dependem diretamente do emprego que eu ofereço a um pai, mãe ou filho dessas pessoas. Sem contar ainda com aqueles que também recebem de forma indireta por meio dos serviços prestados a loja.

Tribuna do SertãoO Sr. Acredita que faltam então políticas públicas que incentivem os comerciantes e empresários no Brasil e em especial em Alagoas e Palmeira?.

José Leão – Sem dúvida alguma, se essa carga tributária que somos obrigados a pagar diminuísse, com certeza ajudaria e muito ao comércio de forma geral. Só tem ideia do que é uma carga tributária quem compra, emprega e tem suas portas abertas para comercializar s seus produtos. Veja bem, aqui em Alagoas, por exemplo, nós pagamos impostos antes mesmo de recebermos as mercadorias. Esse imposto é conhecido com Substituição Tributária, onde para podermos ofertar, por exemplo, um televisor, uma geladeira, enfim, nós temos que pagar um imposto antecipado. Então se o dono da loja, não vender o produto, ou vender e não receber o pagamento, ou acontecer qualquer coisa desse tipo, o imposto (STB) tem que ser pago antecipadamente de qualquer maneira. E isso dificulta as coisas, pois nessas condições é complicado manter um capital de giro tendo que cumprir com todas essas exigências impostas.

Tribuna do SertãoO aquecimento do comércio local depende de vários fatores, entre eles o pagamento em dias dos salários dos funcionários. Nas cidades do interior é comum que as fontes de renda de muitas pessoas sejam as prefeituras. O que teria a falar sobre o assunto?.

José Leão – Isso é verdade. Mas veja bem, no que diz respeito aos compromissos do setor público nessa questão de pagamentos do funcionalismo, até que os gestores estão tendo consciência que precisam pagar seus funcionários e servidores sem atrasos. Pois, as punições hoje em dia são bem mais severas do que antigamente. Os prefeitos estão honrando mais os seus compromissos, até porque eles não podem mais deixam que aconteçam mais atrasos dos pagamentos. Pois, caso aconteça esses atrasos eles são prejudicados seriamente. Posso afirmar que já sofremos muito com isso, porque já houve casos de clientes que nos compraram e atrasam seus pagamentos devido ao não recebimento dos seus salários. Mas, digo que hoje isso não acontece como antigamente. Pode até haver um atraso, mas o pagamento tem que ser feito o mais rápido possível.

Tribuna do Sertão – A vinda de lojas que fazem parte de redes nacional como, por exemplo, Insinuante, Magazine Luiza, prejudicaram de alguma maneira as suas vendas?

José Leão – De forma alguma. Não senti em nada a vinda dessas lojas. Nós conseguimos nos manter porque temos o diferencial que é o nosso tempo no comércio de Palmeira e o principal: temos os produtos para pronta entrega. Quem compra na nossa loja não precisa esperar, e o cliente já sai da loja com ele, ou ainda mandamos entregar em suas residências. E isso essas lojas não têm. Sabemos que após o cliente efetivar a comprar ele tem que aguardar a entrega. No nosso caso e totalmente diferente. Além disso, posso citar o atendimento que as pessoas me conhecem, conhecem o nome que, graças à Deus, eu consegui construir ao longo desses anos. Quem chega nas minhas lojas é sempre bem recebido. As pessoas me encontram nelas, porque faço questão de estar sempre perto, acessível para atender ao cliente.

Tribuna do SertãoComo pode ser observado as suas lojas oferecem produtos de primeira linha com também para os clientes de menor poder aquisitivo. Essa diversificação ajuda nos negócios?.

José Leão – É verdade. Nós oferecemos produtos dos mais variados preços e gostos. Podemos dizer que temos condições de atender todas as pessoas, independente de classe social. Em nossas lojas os clientes encontram produtos sofisticados e com valor agregado, sendo estes direcionados à um público mais exigente e de maior pode aquisitivo. Mas também temos inúmeros produtos para ofertar aos nossos clientes que recebem salário mínimo, e até mesmo os que estão abaixo dessa fonte de renda. O que sempre me preocupo e passo até para os meus funcionários é que nossos clientes sejam tratados de forma igualitária. O respeito com as pessoas é muito importante e a valorização do ser humano está acima de qualquer coisa. Trabalhamos também com pedidos e modulação, onde o cliente nos procura e enviamos uma pessoa responsável para fazer a medição do ambiente e planejar o móvel da forma de ele desejar.

Tribuna do SertãoEstar atualizado é uma exigência. No ramo de móveis e eletrodoméstico isso também se faz necessário?.

José Leão – Sem dúvida alguma. E nós buscamos participar sempre de feiras e eventos que tragam o que há de novidade no mercado. Sempre há lançamentos. Estivemos, inclusive, recentemente em uma Feira em Fortaleza. Mas já participamos de eventos fora do nordeste também. Porém, hoje em dia os fabricantes estão trabalhando muito com “Showroom”, que é uma forma de trabalhar mais prática e sem muitos custos para os fabricantes. E eu estive participando de um que houve em Arapiraca.

Tribuna do Sertão – Existem projetos para serem executados em Palmeira dos Índios e também nos outros municípios nos quais o Sr. tem suas lojas instaladas?.

José Leão – Estamos iniciando uma reforma na loja matriz em Palmeira com o intuito de oferecer aos nossos clientes um ambiente mais amplo e confortável. Para 2015 temos sim outros projetos, no entanto, eu prefiro aguardar mais um pouco para poder divulgar. Estamos também com um parque de Vaquejada, próximo à empresa de Laticínios Vale Dourado, onde temos também um projeto para realizar um evento no próximo dia 20 de setembro, onde a ASSOVAPI (Associação dos Vaqueiros de Palmeira dos Índios) está participando junto conosco.

Tribuna do SertãoEstamos passando por um processo eleitoral. Como o Sr. enxerga Palmeira nesse contexto?.

José Leão – Veja bem, no meio político em Palmeira dos Índios eu só tenho amizades. Sempre tive bons relacionamentos com todos os políticos, ex-prefeitos e até o atual gestor. E serei assim também com os futuros governantes. O que eu desejo é que os que se comprometerem em assumir seus cargos como homens públicos façam seu papel da melhor maneira possível. Cuidem das pessoas que precisam de assistência médica, de educação, de moradia. Enfim, espero que haja a vontade de fazer com que as pessoas sejam assistidas de forma humanizada, com o respeito que todo ser humano merece. Ter um Palmeirense disputando o cargo do governo do Estado é, na minha opinião, um aspecto positivo pois, conheço Júlio Cezar e considero ele uma pessoa muito boa, que tem seus sonhos e está batalhando para conseguir realiza-lo. Só tenho a desejar boa sorte para ele e pra todos aqueles que pensam realmente em trabalhar para a população mais carente.

Tribuna do SertãoJá houve rumores com o seu nome para concorrer ao cargo de prefeito de palmeira dos Índios. O que teria a falar sobre o assunto?.

José Leão – É verdade. Já houve sim, mas não acredito que o momento seja oportuno, pois teria que escolher entre cuidar dos meus negócios ou ir trabalhar em benefício dos palmeirenses de forma mais direta. Até porque não existira a possibilidade de fazer as duas coisas. Para tudo na vida nós temos que ter dedicação, compromisso e seriedade. Penso que um bom gestor precisa estar à frente de tudo, informado de todas as decisões e contar com uma equipe que o ajude verdadeiramente. Política de forma correta exige dedicação e tempo para o povo, é ter que estar sempre pronto para servir. Enfim, não vejo como uma tarefa muito fácil e que iria exigir muito da minha vida como empresário e pessoal. Então, teria que deixar muitas coisas de lado para enfrentar esse desafio. Só que minha família nunca foi à favor dessa ideia e isso conta muito para mim pois sempre tive a vida inteira junto deles em todos os momentos.

Hoje eu vivo muito magoado na minha cidade devido a perda dos meus dois irmãos que deixaram uma lacuna muito grande em minha vida. Não esqueço um só dia da tragédia que vitimou o “Doca” principalmente da maneira covarde que tiraram a vida do Jair (Grilo). Já teve momento em que pensei até em ir embora de Palmeira com minha esposa e filhos devido ao sofrimento causado por essas perdas, mas tive que pensar em minha mãe que precisa ainda de mim. Eu confio muito em Deus e não perco a esperança de ver todos os responsáveis presos.

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