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Humberto Cavalcanti

08/10/2014
Humberto Cavalcanti

    Em Viçosa, privilegiado celeiro de inteligências, em nosso Estado, veio à luz Humberto de Araújo Cavalcanti, filho de José Amorim Cavalcanti e Gilberta Moura de Araújo Cavalcanti. A terceira década do século vinte, com as convulsões sociais e mudanças de regime político que agitaram o país, foi o cenário propício para despertar, no atento menino, as idéias humanísticas e filosóficas que tanto nortearam sua vida. Brilhante intelectual e possuindo vasta cultura, ficou devendo à sociedade a publicação de um grande livro, onde estivessem compilados as teses, os discursos e as centenas de crônicas ou artigos que escreveu, legando à posteridade a força de seu pensamento.
Conheci-o quando,  aluno da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Alagoas, fui convidado a integrar a  Juventude Universitária Católica e participei de alguns eventos dirigidos por ele. Marcou-me, particularmente, o fato de, apesar de ser já universitário, só haver recebido minha primeira eucaristia naquela época, em solenidade que  ministrou. Almira Alves e Doriane Sales, companheiras da Juventude Universitária Católica, me convenceram de que deveria confessar-me e comungar. O celebrante proferiu uma brilhante oração, embasada na lógica e na filosofia. Admirei-o, desde então. Chegado da Itália, onde concluíra, na Universidade Gregoriana de Roma, os cursos de Teologia e Direito Canônico, transformara-se em aplaudido orador sacro e respeitado professor catedrático de português e literatura, no Liceu Alagoano e no Colégio Estadual Moreira e Silva.
Elegante, inteligente, carismático e culto, era um ídolo para a juventude, com quem convivia de igual para igual, quebrando tabus e fazendo escola, numa época em que ser conservador e até praticar o falso moralismo, eram uma constante na vida de nossos maiores.        –
O destino nos distanciou, por algum tempo, mas nunca perdi de vista os belos escritos que publicava, periodicamente, nos jornais da província. Era um cronista por excelência.
Reencontrei-o, no Rio de Janeiro. Dera  uma grande guinada em sua vida e saíra de Alagoas, sem, contudo, cortar os vínculos essenciais que o mantinham ligado à terra, sobretudo através de Teotônio e Osvaldo Vilela, seus fraternos amigos. Eu governava o Estado e estimulei-o a retornar. Foi o recomeço, para ele, de uma rotina em moldes diferentes, com  atividades novas. Nomeei-o Consultor do Estado e, posteriormente, Procurador Junto ao Tribunal de Contas de Alagoas. Seus pareceres jurídicos extravasavam a cultura e a poesia características de tudo o que escreveu. Com a mesma competência, foi Chefe da Casa Civil no Governo Guilherme Palmeira.
É assim que vejo este homem, de cuja amizade tanto me orgulhava. Leal e solidário, estava sempre presente nos bons e maus momentos dos amigos. Sempre tinha uma frase inteligente em seus diálogos. Era uma personalidade sedutora.
Foi autor das teses A Filosofia da Existência em Thomaz de Aquino; A Poesia do Transcendente em Jorge de Lima e, sobre o mesmo vate conterrâneo, uma bela análise que intitulou um  Poeta Modernista e Cristão. Membro da Academia Alagoana de Letras partilhei do seu companheirismo, porque, Humberto de Araújo Cavalcanti emprestou o vigor de sua inteligência para exaltar, cada vez mais, as tradições de cultura de nosso povo.