Política

Cunha podia movimentar contas na Suíça, de acordo com procuração

13/11/2015
Cunha podia movimentar contas na Suíça, de acordo com procuração

 

Cunha sustenta que não é dono das contas na Suíça e que noa pode movimentá-las (Foto: Reprodução)

Cunha sustenta que não é dono das contas na Suíça e que não pode movimentá-las (Foto: Reprodução)

A tese defendida pelo presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de que não controlava as contas na Suíça, e que não mentiu à CPI da Petrobrás, começa a desmoronar. Entre os documentos enviados ao Brasil pelo Ministério Público da Suíça, para serem anexados ao inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF), consta uma procuração que dava a Cunha amplos poderes para fazer aplicações financeiras em fundos e no mercado futuro com os recursos aplicados no banco Merrill Lynch. O deputado não podia sacar dinheiro das contas, mas ficava livre para, fazer investimentos de curto prazo, comprar e vender títulos, moedas e metais preciosos. Cunha sustenta que não era dono das contas, não podia movimentá-las e que o banco nem o reconhecia como tendo algum direito em relação aos ativos depositados. Tudo porque as contas eram oficialmente operadas por trusts (empresas constituídas para administrar ativos de pessoas físicas e jurídicas). O documento, do dia 10 de junho de 2008, é assinado por um representante legal da trust Orion SP. Ela detinha a conta no Merrill Lynch da Suíça. Os ativos depositados nessa conta eram de Cunha, mas ele alega ser apenas um beneficiário, sem qualquer ingerência sobre os ativos. A procuração, assinada pelo representante da Orion, estabelece Cunha como procurador junto ao Merrill Lynch para fazer investimentos, o que contraria a versão do deputado. Diz o texto: “O procurador é/está autorizado a comprar e vender todos os tipos de valores mobiliários, títulos de crédito, moedas, metais preciosos, veículos de investimento (fundos), em dinheiro ou outra modalidade, para fazer investimentos de curto prazo em caráter fiduciário, sob risco exclusivo do Principal, em qualquer país e em qualquer moeda, para realizar quaisquer transações abrangidas nos mercado de opções e futuro (quaisquer outros tipos de transações nos mercados de opções e futuro só podem ser realizadas se uma autorização específica é assinada)”. Cunha é o procurador e “Principal” é a identificação da Orion. O texto da procuração faz uma ressalva: Cunha não teria poderes para “dispor ou retirar quaisquer desses ativos da conta”. O documento reproduz o nome do presidente da Câmara, a data de seu nascimento e sua nacionalidade. Há uma assinatura do próprio Cunha. A conta em nome da Orion é justamente a mesma em que, em 2011, foram depositados 1,3 milhão de francos suíços. Esse dinheiro, segundo narrou o lobista João Henriques, é uma comissão por negócio fechado com a Petrobras em Benin. Henriques disse que fez o depósito por orientação de Felipe Diniz, filho do ex-deputado Fernando Diniz, já morto. Felipe nega ter dado tal indicação. Perguntando se sabia deste depósito na época, Cunha sustentou, na entrevista ao GLOBO, que não tinha acesso aos extratos e que o banco não o reconhecia como tendo ligação direta com a conta, porque tudo estava em nome da trust, da qual ele era apenas beneficiário.