Economia
‘O momento é pior do que a crise de 2008’
A crise provocada pelo coronavírus surpreendeu até os mais experientes gestores do mercado financeiro. Com mais de três décadas no dia a dia das negociações de ativos, Fabio Okumura se mostra surpreso com a velocidade dos acontecimentos que paralisaram as economias globais. O sócio-fundador da Gauss Capital, gestora criada em 2014 e que há dois anos deixou o guarda-chuva do Credit Suisse para se tornar independente, aceitou conversar com o E-Investidor após o fechamento das bolsas no Brasil e nos Estados Unidos. Se em momentos menos estressantes de mercado Okumura não desgruda os olhos do monitor, atualmente é muito mais difícil ele mudar o foco. A prioridade é encontrar oportunidades de alocação do dinheiro – ao todo, são R$ 2 bilhões sob gestão em fundos multimercado e de crédito privado. Se em janeiro o fundo multimercado da Gauss acumulava, em 12 meses, um rendimento de 221% do CDI, esse retorno caiu para 71% em fevereiro. Em março, houve uma recuperação pequena, para 73%, com o ganho de 1,05% no mês. Para Okumura, uma mesma dica vale para profissionais e amadores. “O investidor pessoa física, que é o gestor do próprio dinheiro, precisa manter a cabeça aberta e prestar atenção em todas as notícias”, diz.
Há semelhanças entre a crise de 2008 e esta de 2020?
Depois da 2ª Guerra Mundial, as crises começaram no sistema financeiro. Em 2008, ela foi endógena, em um mundo de juros baixos e estímulo para os produtos. Aquilo tudo foi a panela de pressão do subprime. Agora não tem nada a ver com o mercado financeiro, mas as consequências serão parecidas, com falências, baixa liquidez, prejuízo no mercado financeiro e em geral. O coronavírus foi devastador e o mercado não absorveu seus efeitos.
Isso significa que a solução está distante?
Não achei que passaria por um momento pior que em 2008. E eu não sou o único gestor a pensar assim. A solução em 2008 para o sistema financeiro, e aqui sem julgamento moral se estava certo ou não, é que os governos salvaram os bancos. Era um problema específico e localizado, portanto mais fácil de agir. Agora, por mais que os bancos centrais no mundo estejam agindo certo ao dar liquidez, isso não é suficiente. A discussão global é sobre saúde e comunicação e não monetária e fiscal.
Qual é a dica de um gestor profissional para o investidor pessoa física?
Se pegarmos o passado como experiência, o vírus pode demorar a ser controlado, mas uma vacina virá e medidas vão acontecer. É um fator exógeno ao sistema financeiro. Para mim, ainda é cedo para dizer que o mundo vai cair em depressão (grandes perdas econômicas por um período prolongado). Discute-se se a recuperação será em V, em U ou mesmo em L. É preciso ter a cabeça aberta, neste momento, para os três cenários. Eu não consigo ficar comprado em apenas um deles. O investidor pessoa física, que é o gestor do próprio dinheiro, precisa manter a cabeça aberta também e prestar atenção em todas as notícias. Porque o mercado financeiro não gosta de displicência, como as posturas de Donald Trump e Jair Bolsonaro dizendo que o coronavírus é uma gripezinha. Isso faz o mercado sofrer muito porque é preciso um remédio forte e duro para o isolamento durar o menos tempo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Autor: Márcio Kroehn
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