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Lembrança de Nádia

A morte da minha querida amiga Nádia Fernanda Maia de Amorim, no dia 08 do corrente mês de fevereiro, representa uma perda irreparável para o pensamento contemporâneo das Alagoas. Filha de São Miguel dos Campos, onde nasceu a 22 de junho de 1945, Nádia Amorim construiu uma carreira acadêmica vitoriosa, desde a sua graduação em história pela Ufal, em 1971, passando pelo seu mestrado em antropologia social (1981) e pelo seu doutorado em antropologia (1990), ambos pela Universidade Federal de São Paulo, que a credenciaram como uma das inteligências mais sólidas do nosso estado, uma estudiosa de talento invulgar, uma humanista que sempre teve como interesse prioritário dos seus estudos o homem e as suas circunstâncias.
Professora por vocação, lecionou antropologia e metodologia científica na Ufal e antropologia no Cesmac, conquistando o respeito e a admiração dos seus alunos pela didática segura e pelos posicionamentos firmes com que sempre defendeu os seus ideais, sem fazer concessões de quaisquer espécies. Cristã convicta e católica praticante, sempre enxergou em seus semelhantes a imagem do próprio Jesus, devotando-se com especial desvelo aos mais humildes e necessitados. Pesquisadora profunda e criteriosa, membro efetiva do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, era de um cuidado extremo com as suas fontes, e gostava de ir a campo conversar com as pessoas, ver os ambientes, conhecer as histórias de perto. Bondosa ao extremo e profundamente apegada à família, generosa e solidária para com todos, jamais conformou-se com as injustiças sociais do nosso tempo. Magrinha e fragilíssima fisicamente, fustigada por insidiosa enfermidade, Nádia tornava-se uma gigante quando defendia os seus pontos de vista, tornando pública a fortaleza de caráter que a animava e a força intimorata do seu espírito arguto e das suas idéias vibrantes. Colaboradora assídua da imprensa caeté, mostrou-se uma escritora sensível e talentosa, publicando crônicas, ensaios e memórias que registraram a sua notável contribuição às letras alagoanas e evidenciaram o ser humano extraordinário que ela soube ser em todos os quadrantes da sua rica existência.
Contemporânea do meu pai nas lutas estudantis, na década de 60, Nádia Amorim tratava-me com um carinho todo especial. Sempre que nos encontrávamos, eu a ouvia com interesse e satisfação, pois as suas lições de vida eram de uma sabedoria incomum. Sofreu muito nessa existência terrena, tanto no corpo quanto na alma, por esses desígnios do destino que nós não sabemos compreender. Agora, seguramente, já está colhendo na eternidade a recompensa que o Senhor, justo juiz, reserva aos que o seguem em espírito e verdade. Descanse em paz, mestra e amiga; ficamos todos mais pobres, muito mais pobres, com a sua partida do nosso meio.
Diógenes Tenório Júnior – advogado e membro da AAL e do IHGAL
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