Internacional
Milei diz que se vencer eleição ex-presidente Macri será seu representante no mundo
Candidato do partido A Liberdade Avança reconheceu diálogo fluido com ex-presidente, a quem pretende oferecer 'um papel de destaque' dentro de seu governo
Confiante em alcançar uma nova vitória nas eleições de 22 outubro na Argentina, após ter ficado em primeiro lugar nas Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (Paso) há uma semana, o candidato libertário Javier Milei já começou a planejar a equipe de trabalho caso ganhe a Presidência. E o ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) deve ter um papel importante em seu gabinete: neste sábado, Milei confirmou que mantém um diálogo com o ex-chefe de Estado — algo que Macri já tinha comentado —, a ponto de planejar lhe oferecer "um papel de destaque" em um futuro governo.
Javier Milei: Veja frases mais controversas do candidato ultradireitista da Argentina
Bolsonaro e Milei: Veja semelhanças e diferenças entre os dois líderes da extrema direita
— Se eu for presidente, Macri terá um papel de destaque como representante da Argentina no mundo. Seria uma figura acima do ministério de Relações Exteriores, um representante do país, não sei definir. O cargo teria que ser criado, mas acho que é alguém que pode abrir mercados — afirmou em entrevista à Rádio Mitre.
Macri apoia Patricia Bullrich, que concorre por sua coalizão política de centro-direita, a Juntos pela Mudança, que terminou em segundo lugar nas primárias (somados os votos de Bullrich e do prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, derrotado na disputa interna). Na semana passada, no entanto, o ex-presidente fez um aceno a Milei, durante o lançamento de um livro, no Uruguai.
— Todos nós que acreditamos na mudança vamos ter que estar juntos para derrotar o peronismo.
Ultradireita: Milei rejeita relação com Lula, López Obrador, Boric e Petro: 'Não tenho parceiros socialistas'
Segundo a imprensa local, Macri já até teria até designado um amigo próximo para arrecadar fundos para a campanha do libertário: o empresário Pedro "Pierre" Pejacsevich, dono da consultoria financeira T&P Asesores, fundada em 2017 no auge do governo macrista.
Neste sábado, Milei confirmou que ele e o ex-chefe de Estado já conversaram sobre vários assuntos.
— Fiquei muito agradavelmente surpreso porque ele não apenas se preocupou em me fazer perguntas sobre economia, mas também mostrou um lado humano inesperado para mim, devido ao vínculo que temos — disse.
Para Bullrich, a aproximação entre Milei e Macri é uma péssima notícia. A candidata já vinha enfrentando dificuldades para se diferenciar de seu rival de extrema direita já que seus programas de governo têm semelhanças, entre elas a proposta de aplicar um forte ajuste fiscal. Se Macri se inclinar cada vez mais a favor de Milei, a campanha de Bullrich, avaliam analistas, ficará esvaziada.
Entrevista: 'Vem aí uma onda Milei', diz publicitário brasileiro que prevê vitória do ultradireitista no 1º turno argentino
Por outro lado, estrategistas como Jaime Durán Barba, que trabalhou na campanha presidencial de Macri de 2015, acreditam que uma das grandes fortalezas de Milei é não pertencer a partidos tradicionais, nem ter integrado governos passados. Em entrevista ao canal de notícias La Nación +, o estrategista equatoriano assegurou que o candidato da extrema direita poderia perder votos se começasse a negociar apoios com dirigentes do sistema tradicional, como Macri. O homem que fez Macri conquistar a Presidência há oito anos, hoje considera o ex-presidente um político velho, cuja presença na campanha de Milei poderia ter um custo político para o candidato da Liberdade Avança, que promete combater o que chama de "casta política".
Os movimentos de Macri estão causando revolta dentro da Juntos pela Mudança. A ex-candidata presidencial Elisa Carrió, que disputava uma vaga na Câmara, renunciou à sua candidatura pelo cada vez mais evidente apoio do ex-presidente a Milei.
Conversas com o FMI
Milei também falou sobre o encontro que manteve com autoridades do Fundo Monetário Internacional (FMI), e garantiu que o tratamento foi “muito cordial”. O diretor do FMI para as Américas, Rodrigo Valdés, e outros membros de sua equipe, tiveram uma reunião virtual com o polêmico político argentino na manhã de sexta-feira.
— É o primeiro encontro de muitos, e agora começa uma interação entre equipes técnicas — explicou Milei, garantindo que ele e os representantes do FMI combinaram “bons termos” para um futuro encontro. — Uma das coisas que deixei claro é que os compromissos serão respeitados à risca. O ajuste que propomos implica ir em direção a um resultado financeiro nulo. Significa que não haverá mais dívidas contraídas. A dívida não vai crescer. A Argentina se tornaria solvente — explicou Milei, que no último domingo conquistou mais de 7 milhões de votos em todo o país.
Projeto: Milei quer Argentina fora do Mercosul e rejeita China: 'você faria comércio com um assassino'?
Entre as propostas do candidato, destacam-se duas que têm gerado muita discussão: dolarizar a economia e eliminar o Banco Central da República Argentina (BCRA), responsável por definir as taxas de juros e controlar uma das inflações mais altas do mundo (115% ao ano).
— Isso faria com que não houvesse mais desvalorizações. O programa seria amplo. Tem potencial para grandes ganhos de capital. Precisamos mudar a moeda — defendeu neste sábado.
No início da semana, o FMI se reuniu com Bullrich, defensora da manutenção de uma economia bimonetária, com a moeda local, o peso, e o dólar.
Para o FMI, as reuniões virtuais "foram uma oportunidade para trocar pontos de vista sobre as perspectivas econômicas atuais da Argentina e compreender suas prioridades de política econômica", disse um porta-voz da organização financeira, que pediu para não ser identificado.
Ato em favor de instituição de pesquisa científica
Outra proposta polêmica de Milei está causando reação no país. O libertário ameaçou privatizar o principal centro estatal de pesquisas científicas da Argentina, o Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (Conicet). A proposta pautou a agenda eleitoral dos últimos dias, que continua girando ao redor de Milei — como foi desde o início da campanha.
Após as primárias: Saiba os próximos passos até a votação geral na Argentina
Na sexta, funcionários fizeram uma ato junto com o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Daniel Filmus, em frente à esplanada do polo científico, localizado no bairro portenho de Palermo.
— Não se discute ciência, não se discute educação, não se discute obras públicas. Não podemos voltar atrás nessas conquistas e nesses direitos conquistados — afirmou um dos palestrantes do encontro. — Para isso, precisamos estar aqui e mostrar que muitos de nós pensam que isso não pode ser revertido de forma alguma.
Mais lidas
-
1LITORAL NORTE
Incêndio de grande proporção atinge Vila Porto de Pedras em São Miguel dos Milagres
-
2DEMARCAÇÃO EM DEBATE
Homologação de terras indígenas em Palmeira dos Índios é pauta de reunião entre Adeilson Bezerra e pequenos agricultores
-
3
Prefeita reeleita e vice eleito terão que enfrentar a Justiça eleitoral para não perderem os mandatos
-
4SAÚDE
Lady Gaga em Copacabana: Artista usa Yoga para tratar condição que fez cancelar show no Brasil em 2017
-
5FUTEBOL
Pré-temporada: ASA x Falcon se enfrentam nesta segunda-feira (23), no Fumeirão