Internacional
Mundo não pode mais ser ditado pelo G7, e interesse no Brics demonstra nova força, diz Amorim
Assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o embaixador Celso Amorim afirmou nesta terça-feira, dia 22, que o interesse de 23 países em fazer parte do Brics evidencia a existência de uma "nova força" na ordem global e que o mundo não pode mais ser "ditado pelo G7".
"Todo esse interesse que existe na expansão, países que desejam ser parceiros ou membros plenos do Brics demonstram que há uma nova força no mundo, que o mundo não pode mais ser visto como ditado pelo G7", disse Amorim.
"O Obama (Barack, ex-presidente dos EUA) já tinha dito isso, quando disse que o G20 tinha substituído o G7. Mas agora estava havendo uma tendência, em função das rivalidades entre Estados Unidos e China, em função da guerra na Ucrânia, de retração. Acima de tudo, essa reunião do Brics, com interesse enorme de países em desenvolvimento, demonstra que o mundo é mais complexo do que isso."
O ex-chanceler, o mais influente conselheiro direto de Lula na política externa, participa das reuniões do presidente brasileiro na 15ª Cúpula do Brics, em Johannesburgo, e vai estar no retiro reservado aos líderes. Os chefes de Estado e de governo tomarão decisões sobre a expansão do bloco, impulsionada pela China, e sobre a criação e uso de moedas alternativas ao dólar.
"Há uma nova realidade no mundo, faz parte de uma nova organização, uma ordem mundial que não pode ser ignorada. Essa reunião deixa muito claro isso, a importância de um grupo de países em desenvolvimento que agora é uma afirmação global", afirmou o embaixador, que não quis antecipar posicionamentos do Brasil.
Antagonismo
A declaração de Amorim ecoa planos da China e contrasta com visões dentro do próprio governo. Mais cedo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o bloco formado atualmente por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul, não significa um "antagonismo" a outros fóruns internacionais dos quais os países participam.
"O Brics tem grande contribuição a dar. Brasil, África do Sul, Índia, China e Rússia podem, cada um a partir de sua perspectiva, oferecer ao mundo uma visão coerente com seus propósitos e que não signifique nenhum tipo de antagonismo a outros fóruns importantes dos quais nós mesmos participamos", disse o ministro da Fazenda.
Haddad antecipou o recado do governo brasileiro, que resiste à expansão dos membros do Brics, principal discussão na cúpula sul-africana. Um temor claro do governo é não se indispor com parceiros como os Estados Unidos e a União Europeia, com as discussões em andamento no Brics.
A China, mais poderoso integrante do Brics, pressiona pela inclusão de até 23 países, o que alteraria o perfil político, econômico e populacional do Brics. O entendimento de diplomatas brasileiros é que Pequim ambiciona a formação de um bloco cada vez mais antagônico ao Ocidente e ao G7, com a provável expansão de membros do Brics.
Moeda
Um dos projetos que Lula quer discutir durante o encontro do bloco e a possível criação de uma moeda única do Brics para reduzir a dependência do dólar. "Eu sonho com a construção de várias moedas entre outros países que façam comércio, que o Brics tenha uma moeda. Como o euro", disse o petista em Hiroshima, no Japão, após encerrar sua participação na cúpula do G7 em maio.
Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, o ex-economista do Goldman Sachs que cunhou o acrônimo Brics, Jim O'Neill, classificou como "ridícula" a ideia de que o grupo possa desenvolver sua própria moeda.
Para O'Neill, criar uma moeda comum para as cinco economias seria inviável. "É simplesmente ridículo", disse ele sobre a "moeda de troca" proposta por Lula e outros políticos do bloco. "Eles vão criar um banco central dos Brics? Como fariam isso? É quase constrangedor."
Moscou também já declarou que no curto prazo a ideia de uma moeda única do Brics não é possível. "Muitos países estão trilhando o caminho de usar moedas nacionais em acordos. Certamente, há discussões em andamento sobre a possibilidade e viabilidade de introduzir determinados processos de integração, mas dificilmente isso poderá ser implementado no curto prazo", afirmou o porta-voz do Kremlin Dmitri Peskov sobre a proposta defendida pelo Brasil.
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