Internacional
'Bukeles regionais', que defendem linha-dura na segurança, perdem nas eleições do Equador e da Guatemala
Jan Topic, que elogiava presidente salvadorenho, e Sandra Torres, que prometeu construir prisões parecidas com a de El Salvador, foram derrotados por candidatos com discursos mais amenos no combate à criminalidade
Os discursos agressivos de combate à violência na América Latina não tiveram vez nas eleições do último domingo. Nem Jan Topic, o "Rambo equatoriano" que disputava o primeiro turno, nem a ex-primeira-dama guatemalteca Sandra Torres, que concorria na reta final prometendo construir grandes prisões para membros de gangues, conseguiram vencer copiando o discurso linha-dura do presidente de El Salvador, Nayib Bukele. Pelo menos por ora, a "bukelização" não seduziu os eleitores da região.
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Do Brasil ao Peru, passando por Honduras e Argentina, diversos políticos vêm tentando surfar na onda de popularidade de Bukele, que tem mais de 90% de aprovação, e prometem implantar seu modelo de combate à criminalidade, altamente criticado por organizações de direitos humanos. As singularidades de El Salvador, no entanto, são mais difíceis de serem replicadas em outro país, afirmam analistas.
— Bukele não era um outsider: foi prefeito muito jovem, e chegou ao poder em El Salvador após anos de desgaste dos dois principais partidos do país, por má gestão e escândalos de corrupção. Era uma figura conhecida, com muita presença na capital, onde também havia sido prefeito — explica Daniel Zovatto, do Instituto Internacional para Democracia e Assistência Eleitoral (Idea). — Dizer que vai agir como Bukele pode até ajudar a ganhar alguns eleitores, mas não basta para ganhar uma presidência.
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No Equador, país assolado pela violência, uma pesquisa recente indicava que o salvadorenho — que nunca visitou oficialmente o país —, era mais popular do que qualquer político local. Por isso, era esperado que o "Bukele equatoriano", como Jan Topic era conhecido, fosse favorecido pelo clima de tensão após o assassinato do candidato Fernando Villavicencio , dias antes do primeiro turno.
Mas o resultado das urnas mostrou que "a população cansou de confrontos", afirma María Villarreal, professora do Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UniRio. Topic terminou em quarto lugar, com 1,4 milhão de votos, atrás de Christian Zurita, que substituiu Villavicencio, em terceiro. A correísta Luisa González e Daniel Noboa — empresário que surpreendeu com um discurso calmo e pouco afeito a confrontos — irão disputar o segundo turno, em primeiro e segundo lugar, respectivamente.
— Ficou claro que a população não quer um Bukele equatoriano — diz. — O país quer alguém que resolva os problemas e tenha um projeto de país.
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Na Guatemala, o sociólogo e diplomata especialista em resolução de conflitos Bernardo Arévalo foi o grande vencedor do segundo turno, com mais de 59% dos votos. Durante a campanha, no lugar de uma retórica inflamada, Arévalo mantinha a calma diante dos ataques de rivais. Com uma forte campanha entre os jovens, acabou derrotando a ex-primeira-dama Sandra Torres que, em sua terceira tentativa de se tornar presidente, abandonou a origem social-democrata e tentava atrair o voto conservador com um discurso semelhante ao de Bukele.
— Até o momento, a influência de Bukele na América do Sul é em nível retórico, utilizada por movimentos da oposição como uma crítica aos governos, acusados de serem menos comprometidos com o tema de segurança — afirma Tiziano Bredas, especialista em América Latina para o Instituto Affari Internacional (IAI).
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Para Tamara Taraciuk, especialista do Diálogo Interamericano, a tentativa, até agora frustrada, de Bukele exportar seu modelo faz crescer a urgência de encontrar líderes democráticos na região dispostos a encontrar uma opção eficaz para combater a criminalidade, mas que respeite o Estado de Direito.
— O risco de que o discurso de Bukele permeie a América Latina ainda é muito alto, porque a insegurança é um problema em nível regional que preocupa os cidadãos em todos os países, e faz com que os governos de distintas matizes políticas se vejam obrigados a dar uma resposta — afirma. — O eleitorado pede respostas e essa parece ser a mais fácil.
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