Internacional
Imigrantes são acusados de provocar incêndios na Grécia em campanha de fake news
Extremistas propagam uma série de denúncias infundadas contra imigrantes, que representam 19 dos 20 mortos pelo fogo que atingiu o país esta semana
Com uma nova onda de incêndios florestais se espalhando pela Grécia, uma série de denúncias infundadas que circulam nas redes sociais acusam imigrantes estão por trás de alguns dos focos do fogo. No entanto, das 20 vítimas fatais das chamas que assolam o país nesta semana, 19 eram imigrantes.
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A retórica ganhou força após um grupo de 13 homens de nacionalidade síria e paquistanesa ter sido supostamente flagrado pela população local tentando provocar um incêndio em Alexandrópolis, cidade grega perto da fronteira com a Turquia. Na terça-feira, um morador local publicou uma transmissão ao vivo no Facebook mostrando os suspeitos em um trailer, e afirmou que os pegou tentando "queimar" a localidade.
"Não mostre eles (…) Queime-os", comentou um usuário na publicação.
O homem foi detido com outros dois supostos cúmplices pelas autoridades, que alertaram que não vão tolerar os "justiceiros". Os três foram acusados de incitação à violência racista, e os migrantes, de entrada ilegal e tentativa de incêndio criminoso. Uma fonte do governo disse ao jornal Kathimerini que as evidências indicavam que eles estavam tentando acender uma fogueira.
A campanha de desinformação, no entanto, não ficou restrita às mídias sociais e chegou na imprensa. No mesmo dia da transmissão no Facebook, um portal de notícias local conhecido como Hebros afirmou que 20 migrantes foram detidos em Alexandrópolis após um tiroteio com a polícia — fato negado pelas autoridades.
Na quarta-feira, o canal de TV grego Open, transmitido nacionalmente, emitiu uma correção após noticiar equivocadamente que dois migrantes foram flagrados ateando fogo em Ródope, região vizinha a Alexandrópolis.
Desde sábado, o norte da Grécia enfrenta um grande incêndio causado por um raio que levou à retirada de cerca de 14 mil pessoas, incluindo pacientes de um hospital, informaram as autoridades locais.
'Querem nos destruir'
Alexandrópolis está localizada a poucos quilômetros da fronteira com a Turquia, onde são comuns as travessias de migrantes, impulsionada pelo tráfico humano. Em 2020, dezenas de milhares tentaram chegar à região, o que culminou em um confronto com as forças de segurança durante dias. Até o final do ano está prevista a conclusão de uma cerca metálica de 37,5 km, destinada a conter o fluxo de pessoas.
Depois que o primeiro incêndio eclodiu perto de Alexandrópolis, no sábado, fotos e vídeos de supostos dispositivos para iniciar incêndios, criados por migrantes que cruzavam a fronteira, viralizaram rapidamente nas redes sociais.
A rejeição aos migrantes é muito forte nas zonas fronteiriças da Grécia. Os habitantes locais os acusam de roubos e alertam para os riscos do tráfico humano.
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— Estou absolutamente convencido de que os incêndios foram causados por migrantes — disse à AFP Christos Paschalakis, morador na região de Hebros. — Eles queimam a gente, nos roubam, nos matam em acidentes de trânsito.
— Não tenho dúvida de que o incêndio foi provocado por migrantes — concorda Vangelis Rallis, um aposentado de 70 anos de Dadia, um localidade perto de um parque nacional que pegou fogo no ano passado. — Queimaram [o parque] no ano passado e este ano voltaram para terminar o trabalho. Talvez tenham sido pagos para fazer isso. Querem nos destruir.
Vítimas migrantes
A questão também gerou polêmica na política esta semana. O líder do partido nacionalista Solução Grega, Kyriakos Velopoulos, juntou-se aos ataques aos migrantes e elogiou os homens presos por detê-los ilegalmente.
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Um parlamentar do mesmo partido, Paris Papadakis, pediu à população que "tome medidas", porque os migrantes estavam "obstruindo" os esforços para contar o fogo.
— Estamos em guerra — incitou Papadakis.
Nas eleições nacionais de junho, a extrema direita grega teve seus melhores resultados no norte do país. Na região de Hebros, o Solução Grega obteve 9% dos votos.
No entanto, das 20 pessoas mortas esta semana pelos incêndios, 19 delas eram migrantes, incluindo duas crianças.
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