Ao longo do belíssimo discurso que marcou a sua entrada na Academia Brasileira de Letras, o linguista Ricardo Stavola Cavaliere citou imortais que marcaram a história da entidade. Ao saudá-lo, em nome de Evanildo Bechara, falei da saudade com que lembrava os nomes dos imortais Antônio Olinto, Antônio Callado, Austregésilo de Athayde (que presidiu a ABL por 34 anos), Josué Montello e Cleonice Berardinelli, esta também especialista em língua portuguesa.

Bechara registrou que tinha com Cavaliere uma longa amizade, nascida nos bancos escolares da Universidade Federal Fluminense.

Aos 95 anos bem vividos, Bechara demonstrou preocupação com a sua sucessão, daí ter lutado para eleger o seu amigo Cavaliere, o que acabou acontecendo com absoluta folga. Assim, haverá uma tranquila continuidade nos projetos em curso na ABL, como o Vocabulário Ortográfico, o Dicionário e a garantia de que se caminhará com segurança e tranquilidade na formulação de novas palavras para o nosso idioma, segundo critérios estabelecidos pela sua Comissão de Lexicologia e Lexicografia.

Disse Cavaliere na posse: “Vivemos uma época em que certos valores ainda presentes no seio da sociedade, nomeadamente os que se manifestam em expressões como “cultivo da língua” ou mesmo “defesa da língua” são objeto de indisfarçável repulsa nos centros de investigação linguística por significarem, ou melhor, supostamente significarem um comportamento normativo incompatível com a pesquisa científica. Vivemos um estado de coisas que impede, em certa medida, que o investidor se afeiçoe ao objeto da pesquisa, numa relação protocolar que subestima a intimidade inerente ao homem com a língua que fala. Afinal, linguistas também são falantes da língua e... humanos.”

Seus livros mais recentes, como foi dito na posse, são indispensáveis nos estudos linguísticos e historiográficos. Por tudo isso, a chegada de Cavaliere à Casa de Machado de Assis foi um acontecimento saudado com muita efusão nos meios intelectuais brasileiros. Dele se espera um trabalho de grande relevo, para a valorização da língua portuguesa em todos os sentidos.