Internacional
Rússia não descarta derrubada ‘deliberada’ do avião de Prigojin e veta participação internacional em investigação
Cenipa foi comunicado oficialmente pela agência russa de aviação civil que não haverá investigação submetida a normas internacionais “neste momento”
O Kremlin disse, nesta quarta-feira, que não descarta a hipótese do avião que caiu matando o líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigojin, há uma semana, ter sido derrubado intencionalmente, de acordo com a agência de notícias Reuters. Foi a primeira vez que o governo russo admitiu que a queda da aeronave, que voava de Moscou para São Petersburgo e caiu na região de Tver, pode não ter sido acidental e que Prigojin pode ter sido assassinado.
Quem é: Yevgeny Prigojin, líder do grupo Wagner é listado como passageiro em avião que caiu na Rússia
Grupo Wagner: caso de Prigojin aumenta lista de mortes suspeitas na Rússia
— É óbvio que diferentes versões estão sendo consideradas, incluindo a versão — você sabe do que estou falando — digamos, uma atrocidade deliberada — disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, segundo a Reuters, ao responder perguntas de jornalistas sobre a investigação.
Perguntado se a Organização Internacional de Aviação Civil, uma agência das Nações Unidas, vai investigar o acidente, Peskov se limitou a dizer que não há conclusões formais sobre o que aconteceu e que é preciso aguardar a “investigação russa”.
O avião em que Prigojin viajava com outras nove pessoas, entre elas outros integrantes da cúpula do Wagner, era um jato Legacy 600 da Embraer, a multinacional brasileira com sede em São José dos Campos. Na terça-feira, a Reuters publicou com exclusividade que o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) do Brasil foi comunicado oficialmente pela agência russa Interstate Aviation Committee (IAC) de que não haverá investigação submetida a normas internacionais “neste momento”.
Como o avião é fabricado pela Embraer, caberia à IAC abrir uma investigação própria e comunicar ao órgão brasileiro para o acompanhamento da ocorrência e a prestação de um eventual suporte técnico, o que normalmente ocorre de acordo com as regras internacionais. O Cenipa informou à Reuters ter enviado um e-mail se oferecendo para participar da apuração, mas recebeu a resposta de que a IAC não irá investigar o caso. Ao ser perguntado sobre a notícia, o porta-voz do Kremlin disse que a investigação está sendo conduzida pelo “Comitê Investigativo” e está “em curso”.
— Nesse caso, não pode haver nenhuma menção a nenhum aspecto internacional — afirmou Peskov, segundo a Reuters.
'Mentira absoluta'
A decisão da IAC — que supervisiona investigações de acidentes na aviação da Rússia e de outras ex-repúblicas soviéticas — é incomum, de acordo com especialistas. A queda do avião ocorreu exatos dois meses depois do motim fracassado liderado por Prigojin contra a alta cúpula da Defesa russa. No mesmo dia, a Embraer informou em nota que o suporte ao avião de Prigojin estava suspenso desde 2019 por causa das sanções internacionais impostas à Rússia.
Governos de países ocidentais, incluindo a Casa Branca e o presidente americano, Joe Biden, insinuaram que Putin estaria por trás do incidente. O Kremlin negou qualquer envolvimento com a morte de Prigojin e disse estar a par das “especulações” que classificou como “mentira absoluta”. A queda da aeronave de Prigojin é a mais recente de uma longa lista de mortes suspeitas de pessoas influentes ligadas à Rússia, em meio a uma onda de repressão da dissidência e de opositores ao governo russo.
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