Internacional
Guerra impulsiona movimento para apagar influência cultural russa na Ucrânia
Obras de arte, livros famosos e referências à era soviética estão sumindo de museus e das ruas do país
Em um museu ucraniano que abriga obras de arte russas, os famosos escritores Pushkin e Dostoiévski ficam escondidos e o "idioma do opressor" é evitado. Com o avanço da guerra entre os dois países — que por muito tempo mantiveram importantes laços histórico-culturais —, os ucranianos intensificaram os esforços para suprimir a influência cultural da Rússia.
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Antes mesmo da invasão em fevereiro de 2022, já havia um movimento para apagar a presença russa no país. Mas os 18 meses de um conflito sem perspectiva de fim impulsionaram uma campanha de remoção de símbolos soviéticos e russos de espaços públicos, ao mesmo tempo em que houve uma promoção da identidade ucraniana.
Paralelamente à disputa na esfera militar, os ucranianos estão realizando uma contraofensiva cultural para mudar os nomes das ruas da era soviética, desmontar estátuas e remover a literatura russa das estantes.
O movimento é especialmente visível em Kharkov, região no nordeste da Ucrânia, que faz fronteira com a Rússia, na qual a língua russa é preponderante entre a população local.
A proximidade cultural e geográfica, no entanto, não apagam os rastros de destruição causados pelo conflito. No museu de arte de Kharkov, as paredes bombardeadas e as janelas pragadas com tábuas de madeira são testemunhas da brutalidade da guerra. Após a invasão, a palavra "russo" foi removida do nome de seu departamento de "Arte Ucraniana e Russa", disse à AFP Maryna Filatova, funcionária do museu.
O museu tem feito esforços para proteger das forças russas obras como a icônica "Cossacos escrevem carta ao Sultão turco", do pintor de etnia russa nascido na Ucrânia Ilya Repin.
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Obras de artistas considerados russos foram transferidas para um local secreto. Não se sabe quando elas serão exibidas novamente, diz a diretora do museu, Valentyna Myzgina.
— A cidade está sofrendo, a cidade está de luto — comenta Filatova. — As pessoas não aceitam a arte russa, não é o momento certo.
Atualmente, o museu exibe obras do artista local Viktor Kovtun que retratam "a realidade da guerra", juntamente com instalações criadas a partir dos restos de munições russas que atingiram Kharkov.
Nos parques da cidade, estátuas de figuras russas importantes, como o escritor do século XIX Alexander Pushkin, foram desmontadas ou vandalizadas.
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As obras dos escritores Fiódor Dostoiévski e Mikhail Lérmontov serão removidas do currículo escolar. Para muitos ucranianos, os gigantes da literatura são símbolos da retórica expansionista do país vizinho.
Muitos habitantes de Kharkov, incluindo aqueles que cresceram falando russo e têm família em ambos os lados da fronteira, agora só falam ucraniano, que já foi desprezado por alguns como uma língua camponesa.
Esse é o caso de Mykola Kolomiets, 40 anos, que dirige um estúdio de arte para crianças. Para ele, falar russo deixa "um gosto desagradável" em sua boca, como se tivesse "comido algo podre".
Mas para o prefeito de Kharkov, Igor Terekhov, que fala russo e ucraniano sem que ninguém questione seu patriotismo, impor um boicote pode trazer riscos.
— Insistir para que as pessoas desistam do russo não é o melhor curso de ação — adverte Terekhov, que fala com a AFP em ucraniano, mas se dirige à sua equipe em russo. — Quanto mais você insistir, maior será a resistência.
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O processo para remover a influência russa começou em parte após o colapso da União Soviética em 1991 e cresceu com a anexação russa da Crimeia em 2014.
— A desrussificação vem ocorrendo há muito tempo, mas este é um ponto sem volta — diz Rostyslav Melnykiv, chefe do departamento de literatura ucraniana em uma universidade em Kharkov que foi devastada no ano passado por um ataque russo.
Oleksandr Savchuk, um editor de 39 anos, diz que a invasão despertou um interesse sem precedentes nas figuras culturais ucranianas, especialmente aquelas banidas na era soviética. Sua editora, que perdeu muitas cópias em um incêndio após um ataque russo, quase dobrou as vendas de livros em língua ucraniana.
— Não queremos que as pessoas simplesmente troquem de idioma — diz ele. — Queremos que elas se sintam mais ucranianas.
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