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Após eleição argentina, apoiadores de Milei vão às redes encampar discurso de fraude eleitoral

Comentários de eleitores do ultradireitista dispararam logo após encerrar o período de votação

Agência O Globo - 25/10/2023
Após eleição argentina, apoiadores de Milei vão às redes encampar discurso de fraude eleitoral
Milei - Foto: Reprodução

Com inesperado resultado no primeiro turno das eleições argentinas, que colocou o candidato peronista Sergio Massa na dianteira da corrida à Presidência, apoiadores do ultradireitista Javier Milei, seu principal adversário na campanha, encamparam nas redes sociais o discurso de fraude eleitoral ainda no domingo (22). É o que mostra levantamento feito pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP). O movimento repete o que ocorreu nos Estados Unidos em 2020, com a derrota do ex-presidente Donald Trump, e no Brasil em 2022, com a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro, ambos do campo da direita.

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O grupo de pesquisa monitorou as postagens feitas no Telegram e no Twitter entre o domingo logo após o encerramento da votação e a segunda-feira, e nas duas redes foi identificado o uso massivo de bots com mensagens idênticas apontando uma suposta fraude. No Telegram, o compartilhamento de discurso sobre irregularidade no processo eleitoral nas 24 horas seguintes ao fim da votação foi maior que o dos 295 dias anteriores.

No primeiro turno, os eleitores argentinos puderam votar através de boletas, que nada mais são que fichas impressas com os nomes dos candidatos a todos os cargos elegíveis de cada partido. Caso queira votar em candidatos de partidos diferentes, precisa destacar a ficha dos postulantes de interesse da cada sigla e colocá-las na urna de votação.

Nas 24 horas que sucederam o pleito argentino, foram registradas 362 postagens em canais públicos de apoio a Milei alegando fraude nas eleições — mais da metade de todas as publicações feitas sobre o tema desde o começo do ano nesses grupos. O número disparou em comparação com o período logo após o Paso, as primárias argentinas, realizada no dia 14 de agosto, quando foram registradas 87 postagens sobre o assunto. Na ocasião, o próprio ultradireitista afirmou publicamente que acreditava em fraude eleitoral diante do resultado nas urnas. Na época, ele afirmou que teria recebido 5 pontos percentuais a mais dos 30% de votos.

Apenas depois das Paso que o discurso questionando o sistema eleitoral argentino ganhou tração nas redes sociais. Antes das primárias, as 60 publicações citavam principalmente as alegações de fraude nos Estados Unidos e na Venezuela — afirmações encampadas pela oposição ao presidente venezuelano Nicolás Maduro. O foco muda no dia 14 de agosto, como mostram publicações feitas nos grupos de apoiadores de Milei reunidas pelo grupo de pesquisa da USP.

Já no Twitter, mais da metade das menções a fraude nas urnas argentinas ocorreram no último domingo, entre o encerramento da votação e as 23h59 do mesmo dia — foram 53,6% das pouco mais de 28,6 mil menções, de acordo com o levantamento. Esse comportamento, na avaliação dos pesquisadores, mostra a ágil mobilização no X (antigo Twitter) e o endosso à tese de contestação das eleições.

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Entre as 9h de domingo, quando abriram as urnas, até as 9h do dia seguinte, eles fizeram o monitoramento de menções a palavras-chave como "fraude", "boleta", "fiscal" e "conteo". Ao todo, foram identificados 2,2 milhões de curtidas, 388 mil retweets, 90,8 mil comentários e 23,4 mil menções a uma fraude eleitoral nas eleições argentinas no período. As menções começaram a crescer logo após 18h, quando encerra a votação, e atingiram pico entre 23h e 0h.

O levantamento da USP mostrou ainda que foi possível identificar o uso massivo de bots com mensagens repetidas compartilhadas por perfis distintos. Um dos exemplos extraídos pelos pesquisadores fala em falta de boletas de Milei no local de votação:

"Não tinha boletas do Milei. Eu saio e aviso. O presidente da mesa de votação entrou e disse que todos estavam lá. Eu o disse que faltavam as de Milei e contestaram meu voto. Nunca mais volto a votar".